Massacres em Aleppo levarão a maior radicalização da oposição


Cidade do Vaticano (RV) – “Os massacres de Aleppo parecem destinados a radicalizar ulteriormente os opositores ao regime e poderiam ser somente o início de um novo período de conflitos”, avalia o jesuíta Giovanni Sale em artigo do  próximo número da “Civiltà Cattolica”.

Em Aleppo, “o Alto Comissário ONU para os direitos humanos denunciou (como o fizeram muitos Chanceleres europeus) estratégias perpetradas pelos “governativos”, nos últimos dias, contra pessoas indefesas”, escreve o sacerdote.

“Seguidamente os soldados – foi denunciado – ‘entram nas casas e matam qualquer pessoa que ali se encontre, mesmo mulheres e crianças’. O que aconteceu em Aleppo – continuou o Alto Comissário – poderia repetir-se também em outras cidades sírias. Os chefes militares e diplomatas russos desmentem tais fatos, atribuindo-os à propaganda dos inimigos do regime sírio. Não obstante as explicações dadas pelos russos sobre a proteção dos civis, na realidade neste momento Assad tem as mãos livres em relação aos “terroristas” que, como ele declarou diversas vezes, pretende aniquilar; de fato, um acordo estratégico entre Putin e Trump garantiria a ele ampla margem de manobra”.

Massacres em Aleppo radicalizam oposição ao regime

“De qualquer forma – completa – a Síria permanece como um país altamente desestabilizado e longe de uma pacificação nacional. Os massacres de Aleppo parecem destinados a radicalizar ulteriormente os opositores ao regime e poderiam ser somente o início de um novo período de conflitos”.

Segundo alguns analistas – escreve Padre Giovanni Sale -  “para o ditador sírio gerir o pós-guerra não será certamente fácil. Ele, de fato, deverá reconstruir o país devastado pelos bombardeios (somente Damasco e a costa setentrional não foram destruídos pelos ataques aéreos), sem esperar grandes financiamentos dos países que o ajudaram a vencer a guerra. Além disto deverá realojar milhões de refugiados e deslocados que não têm mais casa. Isto significa que muito sírios continuarão a viver por muitos anos nos campos de refugiados, onde crescerá uma geração avessa ao regime, o que poderá constituir um relevante fator de instabilidade”.

Questão político-religiosa

“O problema maior – continua o sacerdote – será o político-religioso, que foi também uma das causas da guerra civil. O país onde existe uma irrefutável maioria sunita (74%), continuará a ser governado pela minoria xiita, isto é, pelos alauítas. Isto não trará a paz à Síria, antes pelo contrário, dará vida a outros conflitos da mesma forma sangrentos”.

“De fato, é fácil prever que a derrota dos rebeldes levará os países sunitas, tendo a Arábia Saudita à frente, a aumentar as ajudas militares e financeiras aos sunitas da Síria, com o objetivo de construir uma frente comum anti-xiita (isto ém anti-governativa), à qual se uniriam os jihadistas do Estado Islâmico, que estão perdendo posições, além de outros inimigos da dinastia de Assad”.

“A queda de Aleppo e a derrota militar dos rebeldes não colocarão fim ao conflito porque – conclui o sacerdote citando Bernard Guetta – os alauítas não terão feito outra coisa do que vencer uma batalha à qual se seguirão muitas outras”.

Dos protestos à guerra

Diferentemente de Mosul - onde “uma grande coalizão de Estados, capitaneada pelos Estados Unidos, luta para libertar a cidade iraquiana dos jihadistas do Isis – em Aleppo “os governativos” como se diz, apoiados militarmente pela aviação russa e por tropas iranianas e libanesas (Hezbollah), combateram contra os rebeldes, isto é, contra aqueles que durante a assim chamada “primavera árabe” pediam pacificamente reformas ao Governo, e não obtendo nada, passaram à luta armada. Desde então, porém, entre os combatentes as coisas mudaram muito”.

“Em particular – explica Padre Giovanni Sale -  desde quando, em 2012, os rebeldes (a maioria pertencentes a movimentos leigos de esquerda) ocuparam uma parte de Aleppo, para manter as posições foram obrigados a fazer alianças com outros grupos de guerrilheiros jihadistas presentes no território; de forma que, com o tempo, muitos expoentes da frente laica-moderada passaram àquela islamista, e isto certamente não beneficiou a causa da revolução. Esta transformação do movimento antigovernamental deve ser imputada à incapacidade das chancelarias ocidentais de ajudar concretamente as forças laicas que guiavam a resistência ao regime na primeira fase da revolta”.

(je)

 








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