Gaudium et Spes e a relação entre a história da salvação e a história humana


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tatar no programa de hoje do segundo elemento da Gaudium et Spes, a relação entre a história da salvação e a história humana.

 

A Igreja não existe fora do mundo, com ele atua e nele vive. Nessa cidade humana, anuncia e constrói o Reino de Deus, o Reino que não é deste mundo. Fermento e a alma da sociedade humana. A sociedade deve ser transformada em família de Deus. A Igreja não é deste tempo, mas mergulhada nesse tempo, no temporal e terreno, caminha para outro tempo escatológico.

A concepção de Igreja, que situa o documento Gaudium et Spes no âmbito doutrinal, foi o tema da reflexão do programa passado. No programa de hoje, o Padre Gerson Schmidt nos fala sobre a relação entre a história da salvação e a história humana.

"Os elementos que se destacam da eclesiologia da Gaudium et Spes estão relacionados com a Lumen Gentium. Apontamos aqui já três elementos na Gaudium et Spes:

O primeiro elemento é a concepção de Igreja de si mesma; o segundo elemento - a relação entre a história da salvação e a história humana; o terceiro elemento - a missão da Igreja no mundo de hoje.

Tendo já comentado o primeiro elemento, aprofundemos hoje aqui o segundo elemento: a relação da história da salvação com a história dos homens. No decorrer de todos os debates sobre a Gaudium et Spes, estava presente um problema de ordem dogmática: a natureza da relação entre a Igreja e os valores da criação.

Não bastava afirmar o desejo de dialogar com todas as pessoas, escutando seus problemas e angústias e fazendo ouvir o pensamento da Igreja. Era necessário que tudo isso se fizesse à luz da vocação do Povo de Deus. Isso porque a Igreja o faz com a consciência de ser sinal do trabalho misterioso da graça de Deus e de instrumento de salvação. Com essa consciência, a Igreja entra em comunhão ativa com o mundo¹.

Foi assim possível elaborar uma reflexão sobre a relação entre a história da salvação e a história humana, abandonando definitivamente a tentação da competição com a sociedade civil e respeitando a autonomia da sociedade terrena, enquanto a Igreja realiza sua contribuição de acordo com a sua finalidade religiosa e, por isso, ela não é de ordem política, econômica ou social (cf. Gaudium et Spes 42 e 72).

Dentro dessa relação com a história é que se pode perceber a relação entre eclesiologia e Doutrina Social Cristã. O Concílio supera uma eclesiologia da sociedade perfeita (societas perfecta), e deve pronunciar-se sobre a questão social, dando um salto à frente, por causa dos novos questionamentos impostos pela complexidade da problemática social, cada vez mais crucial. Hoje, passados 50 anos de Concílio, a nova realidade social é muito mais exigente e emergente, pois os problemas só se aguçaram.  

A Gaudium et Spes representa muito mais do que a boa vontade e interesse pelo futuro. Ela é a reformulação de uma teologia cristã que sabe atingir o âmago da problemática histórica, aproveitando todas as riquezas da Revelação. Deus se revela na história, não fora dela. A teologia da pessoa humana e da Igreja que o Vaticano II formulou, oferece a possibilidade de aprofundar suas relações com o mistério da salvação iluminado por Cristo. Ela representa, dessa forma, a avaliação dos problemas sociais na passagem de uma eclesiologia jurídica para uma eclesiologia de comunhão e do desígnio de salvação sobre o mundo. Assim, esse modo renovado do pensar cristão pode contribuir para o progresso espiritual da humanidade². Deus quer salvar o homem, fala ao homem mergulhado na história. Por isso, o mundo não é necessariamente diabólico, mas lugar da Salvação de Deus. Este homem concreto, situado no mundo, Deus vem salvar, vai ao seu encontro, vai em busca para dirigir uma Palavra de Salvação. A Gaudium et Spes não negligencia as realidades humanas, mas a valoriza, como lugar do encontro de Deus com o homem na situação concreta em que se encontra, em suas lutas, angústias e esperanças". 

 

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¹ J. M. R. TILLARD, A teologia subjacente à Constituição: a Igreja e os valores terrestres. In G. BARÚNA, A Igreja no mundo de hoje, p. 215s.

² Cf. A. ALBERIGO, op. cit., p. 195 e 196.

 








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