Sete Povos das Missões: Sepé Tiaraju, o mito da resistência


Cidade do Vaticano (RV) - As Missões jesuíticas, em meados do século XVII, conheceram uma grande prosperidade, suficiente para desenvolver um intenso comércio com cidades e províncias próximas, chegando até mesmo a exportar produtos para a Europa, como instrumentos musicais e esculturas.

Em muitos casos, seu sucesso superava o nível de vida dos colonos assentados nas vilas e cidades, desenvolvendo uma estrutura administrativa e econômica muito mais eficiente e humana, e tecnologias mais avançadas.

Século XVIII:  a região das Missões era disputada pelas Coroas Espanhola e Portuguesa. Com o Tratado de Madri, de 1750, a área passou a pertencer Portugal em troca da Colônia do Sacramento. Com isto, a saída dos Jesuítas espanhóis estava decretada.

O Tratado gerou conflitos. Os padres e os índios não queriam abandonar as reduções, construídas com afinco ao longo dos anos. Tampouco os portugueses queriam abandonar o Sacramento. Diversos confrontos armados culminaram na Guerra Guaranítica.

Neste contexto, surge um personagem, Sepé Tiarajú. Quem nos fala sobre o seu significado, é a Professora Claudete Boff, Mestre em História Latinoamericana e docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), de Santo Ângelo (RS):

"Esta figura do Sepé, ele surge na Guerra Guaranítica. Então, pelas cartas que os indígenas escreveram ao Governador de Buenos Aires, que nesta região naquela época pertencia ao Vice-Reinado de Buenos Aires e também ao Rei da Espanha. Então, os caciques destes povoados se reuniram, momentos que antecederam este Tratado de Madrid, que acabou resultando na Guerra Guaranítica, eles escreveram cartas a estas autoridades, pedindo por favor, que o Rei olhasse por eles, pois esta terra era deles, eles aqui tinham seus filhos, suas plantações, tinham construído igrejas, suas casas e eles não poderiam abandonar isto, deixando tudo isto e passar para o outro lado do Rio Uruguai, que é, digamos assim, seria o Tratado, todos os índios dos Sete Povos deixarem seus povoados que estavam no Rio grande do Sul e transmigrassem para o outro lado do Rio Uruguai, no caso dali a Argentina. Então eles escreveram cartas pedindo que, como o Rei podia fazer isto? Que eles amavam tanto o Rei e que olhasse por eles. E assim também ao Governador de Buenos Aires. Isso não resultou em nada, estes pedidos. Então eles resolveram resistir.

E claro que toda a guerra sempre vai ter alguns líderes que se sobressaem. Neste momento um líder, chamado Sepé Tiaraju, se sobressaiu, manteve a resistência. Agora, eu vejo que o Sepé Tiarajú encarna todos os líderes, caciques guaranis, ele se torna como um símbolo da resistência e esta frase que a gente sempre ouve "Esta Terra tem dono", que é dita como do Sepé Tiarajú, há pesquisadores que disseram ter encontrado mesmo documentos onde isto foi dito pelo Sepé Tiaraju.

Eu vejo ele mais como esta encarnação de todos, pois como toda a história precisa do mito - a história não vive sem mitos -  Sepé  Tiarajú encarna esta resistência, esta força de todos eles prá resistir. Porque na verdade eles não tinham armas poderosas. Espanha e Portugal se unem com armas na época que eles podiam ter de melhor no momento e os índios vão assim, de peito aberto quase, de arco e flecha, mas também a gente  sabe que a partir do ano de 1640, as Reduções puderam usar armas de fogo, porque até entao não era permitido. O Rei de Espanha permitiu, a partir daí o uso da arma de fogo, por intercessão de Montoya, que esteve na Espanha, solicitando isto porque as Reduções estavam constantemente sendo atacadas por paulistas. Estou falando agora no século XVII. No século XVIII acontece a Guerra Guaranítica. Mas conforme a ideia do Sepé, vejo como esta encarnação de todos estes líderes e a importância da formação do mito".

Com a Guerra Guaranítica, seguiu-se uma intensa campanha difamatória contra os jesuítas. A Companhia de Jesus foi expulsa de terras portuguesas em 1759, e em 1767 a Espanha fez o mesmo. No ano seguinte todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos jesuítas. Então suas terras foram apossadas pelos espanhóis e os índios foram subjugados ou dispersos. Todo o  imenso patrimônio material, artístico e cultural durou apenas 159 anos. (JE)

 








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