A Imaculada Conceição segundo os grandes pintores


Cidade do Vaticano (RV) – “A mulher vestida de sol”, com a lua debaixo de seus pés e a cabeça coroada com doze estrelas, a “Toda bela”, a nova Eva. São estas apenas algumas das imagens com as quais os pintores buscaram representar o tema da Imaculada Conceição.

No decorrer dos séculos, o debate artístico acompanhou e foi um reflexo do debate teológico. Também os grandes mestres se confrontaram com o tema da Imaculada, bem antes da  proclamação do dogma, ocorrida em 8 de dezembro de 1854, pelo Papa Pio IX.

É uma história fascinante, que envolveu os maiores artistas europeus no desafio de representar  a pureza de Maria, concebida sem pecado original, “sem mácula”. Um conceito não simples de representar por meio de imagens.

Na alta Idade Média os artistas, por exemplo, representaram os pais de Maria, Joaquim e Ana, que se encontram na Porta de Ouro de Jerusalém. Em seu abraço, em uma idade não mais fértil, é oferecida simbolicamente a ideia de uma concepção virginal, similar àquela de Cristo. E é uma das primeiras formas, mesmo que imperfeita, de representar a graça especial da Mãe de Jesus. Forte, depois, a inspiração no Apocalipse de João: a mulher vestida de sol, com a lua sob os pés e a coroa com doze estrelas.

Fazendo-se, por outro lado, uma releitura mariana do Cântico dos Cânticos, que recita “és toda bela, amiga minha, em ti nenhuma mancha”, e fala da esposa escondida como uma pomba entre as fendas das rochas, Leonardo da Vinci dá a sua contribuição ao tema da Imaculada, com a sua célebre obra “A Virgem das rochas” (ou dos rochedos), pintada entre 1483–1485 e exposta no Louvre. Aqui Maria nasceria, segundo algumas interpretações, junto à terra, no próprio coração da criação, predestinada a ser a Mãe de Deus.

O debate sobre o tema da Imaculada Conceição viu seu maior representante, no século XIII, em Giovanni Duns Scoto, o doctor subtilis, beatificado por João Paulo II justamente por ter aberto o caminho para o dogma.

Desta forma, o tema da disputa teológica entrou plenamente na arte, como testemunha, entre outros, a pintura do século XVI de Pordenone: “Disputa da Imaculada Conceição”, onde é possível observar doutores e santos debatendo sobre a questão.

Pouco antes, no século XVI, Sixto IV havia tentado colocar fim às contínuas acusações de heresia entre “maculistas” e “imaculistas”. Foi ele que instituiu a Festa da Conceição, o 8 de dezembro de 1477, quase quatro séculos antes do dogma, e a dedicar à Imaculada uma Capela na antiga Basílica de São Pedro.

No século XVI, a iconografia já está amadurecida e Cigoli dá uma prova disto na Capela Paulina na Basílica de Santa Maria Maior, enquanto no século XVII o mestre de Velázquez, Francisco Pacheco, pode até mesmo teorizar: “Se deve pintar esta Senhora no florescer de sua idade, dos 12 aos 13 anos, belíssima menina com belos olhos e olhar profundo, nariz e boca perfeitíssimos e faces rosadas, os belíssimos cabelos lisos, cor de ouro. Deve-se pintá-la com túnica branca e manto azul, vestida de sol”.

E também ele contempla serafins e outros anjos, as doze estrelas, uma coroa imperial, a lua sob os pés. Tiraria ao menos o dragão, se possível.

O pintor espanhol não fazia outra coisa senão registrar a visão pictórica da Imaculada Conceição que havia se imposto no tempo e que continuará pouco depois. Exemplos notáveis disto são as obras de Velázquez, de Bartolomé Esteban Murillo ("A Imaculada Conceição dos Veneráveis", pintura de 1678), mas também de Pompeu Batoni, e sobretudo a obra-prima do século XVIII de Tiepolo: Maria, entre os anjos e as nuvens, vestida de branco, envolvida por panos celestes. O seu rosto jovem com uma expressão profunda é capaz de falar ainda hoje da graça e da pureza.

(je/em)

 








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