Papa: nas periferias existem traços de beleza, humanidade verdadeira


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta terça-feira (06/12), aos participantes da 21ª sessão comum das Pontifícias Academias que este ano tem como tema “Faíscas de beleza para um rosto humano das cidades”.

Os trabalhos foram abertos pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e do Conselho de Coordenação entre as Pontifícias Academias, Cardeal Gianfranco Ravasi.

A mensagem do Papa foi lida pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, na sede da Chancelaria, onde se realizou o encontro. 

Visão cristã

Francisco saúda os cardeais, bispos, embaixadores, acadêmicos e amigos presentes no encontro, “com o desejo de que possa ser, para os premiados, um incentivo à pesquisa e ao aprofundamento de temas fundamentais para a visão humanística cristã, e para todos os participantes, um momento de amizade e enriquecimento cultural e interior”.

O Papa congratula-se com os membros e o presidente da Pontifícia Insigne Academia de Belas-Artes e Letras dos Virtuosos no Panteão, antiga instituição acadêmica criada em 1542, em Roma. 

A propósito do tema deste ano, Francisco recorda um trecho do discurso do Papa Bento XVI aos artistas, em novembro de 2009, na Capela Sistina. 

Beleza

“O momento atual está marcado não só por fenômenos negativos a nível social e econômico, mas também por um esmorecimento da esperança, por uma certa desconfiança nas relações humanas, e por isso crescem os sinais de resignação, agressividade e desespero (...). O que pode voltar a dar entusiasmo e confiança, o que pode encorajar o ânimo humano a reencontrar o caminho, a elevar o olhar para o horizonte, a sonhar uma vida digna da sua vocação, a não ser a beleza?”, dissera o papa emérito, convidando os artistas a se comprometerem cada vez mais a fim de que os lugares de convivência social se tornem cada vez mais humanos: “Vós bem sabeis, queridos artistas, que a experiência do belo, do belo autêntico, não efêmero nem superficial, não é algo acessório ou secundário na busca do sentido e da felicidade, porque esta experiência não afasta da realidade, mas, ao contrário, leva a um confronto cerrado com a vida cotidiana, para o libertar da obscuridade e o transfigurar, para o tornar luminoso, belo”.

Periferias

Francisco afirma ainda que o tema deste ano se refere também “à atualidade, aos projetos de requalificação e renascimento das periferias das metrópoles, das grandes cidades, elaborados por arquitetos qualificados, que propõem, faíscas de beleza, ou seja, pequenas mudanças de caráter urbanístico, arquitetônico e artístico através dos quais recriar, nos contextos mais degradantes e feios, um sentido de beleza, de dignidade, de decoro humano e não só urbano. Cresce a convicção de que também nas periferias existem traços de beleza, de humanidade verdadeira, que é preciso saber acolher e valorizar, que devem ser apoiados e incentivados, desenvolvidos e difundidos”. 

“Talvez muitas cidades de nosso tempo, com os seus subúrbios desoladores, deixaram mais espaço aos medos do que aos desejos e aos sonhos mais bonitos das pessoas, sobretudo dos jovens. Recordei na Encíclica ‘Laudato si’ que «não se deve descurar nunca a relação que existe entre uma educação estética apropriada e a preservação de um ambiente sadio», afirmando que «prestar atenção à beleza e amá-la nos ajuda a sair do pragmatismo utilitarista. Quando não se aprende a parar a fim de admirar e apreciar o que é belo, não surpreende que tudo se transforme em objeto de uso e abuso sem escrúpulos»”.

Desenvolvimento

Segundo Francisco, “é necessário que os templos sagrados, começando pelas novas igrejas paroquias, sobretudo as situadas nas periferias e contextos degradantes, se tornem oásis de beleza, de paz e acolhimento, favorecendo o encontro com Deus e a comunhão com os irmãos e irmãs, tornando-se ponto de referência para o crescimento integral de todos os habitantes, em prol do desenvolvimento harmonioso e solidário das comunidades”.

“Cuidar das pessoas, começando dos pequenos e indefesos, significa cuidar também do ambiente em que eles vivem. Pequenos gestos, ações simples, pequenas faíscas de beleza e caridade podem curar, remendar o tecido humano, urbanístico e ambiental, muitas vezes dilacerado e dividido, sendo uma alternativa concreta à indiferença e ao cinismo.”

Faísca de esperança 

Para Francisco, “os artistas devem se deixar iluminar pela beleza do Evangelho de Cristo, criando obras de arte que levem através da linguagem da beleza, um sinal, uma faísca de esperança e confiança onde as pessoas parecem se render à indiferença e ao feio”. 

“Arquitetos, pintores, escultores, músicos, cineastas, literários, fotógrafos, poetas, artistas de toda disciplina são chamados a fazer brilhar a beleza sobretudo onde a escuridão domina na cotidianidade, são custódios da beleza, anunciadores e testemunhas da esperança para a humanidade, como repetiu várias vezes os meus predecessores. Cuidem da beleza, pois ela curará as feridas que marcam o coração e a alma dos homens e mulheres de nossos dias”, conclui. 

(MJ)

 

 

 








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