Mensagem de Dom Raymundo após aceitação da sua renúncia


MENSAGEM DO ARCEBISPO DE APARECIDA, DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS, POR OCASIÃO DA ACEITAÇAO DA SUA RENÚNCIA PELO PAPA FRANCISCO

 “Tudo tem seu momento e o seu tempo” (Ec 3,1)

Aparecida (RV) - Em 28 de janeiro de 2004, chamado à Nunciatura Apostólica, em Brasília, recebi a comunicação de que o Papa João Paulo II me nomeara Arcebispo de Aparecida. Com o novo ano, começava para mim uma nova vida.

A decisão do Papa deixou-me verdadeiramente surpreso, pois nunca estivera em minhas cogitações assumir tão honrosa e importante função. Aceitei, porém, o encargo em espírito de total entrega, pois sempre procurei acolher com fé, disponibilidade e alegria as surpresas que Deus me reserva, com a certeza de que quem “confia no Senhor não será defraudado” (Rm 10,11).

Com a nomeação, o Senhor colocava-me diante de um novo desafio. Pela segunda vez, ouvia a voz de Deus propondo-me partir para outra terra em trabalho missionário. Deveria deixar Brasília, aonde chegara - ainda jovem seminarista - em junho de 1961, enviado de Minas Gerais pelo então Arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira, para a recém-criada Arquidiocese da nova capital. Em Brasília, por quatro décadas, procurei ser um servidor da Igreja (Col 1,25), primeiramente como sacerdote, depois como Bispo Auxiliar.

Tinha dois meses para partir. Era um tempo curto para preparar-me para a nova missão. Dispus-me, no entanto, a superar a exiguidade do tempo com a disposição e o entusiasmo de quem vai ao encontro de uma realidade que desafia. No dia 25 de março, festa da Anunciação do Senhor, iniciei o meu ministério episcopal como o quarto arcebispo dessa “pequena arquidiocese, porém insigne, e, principalmente, muito querida do povo brasileiro”, como escreveu, em 1964, o Papa Paulo VI a respeito dela ao seu primeiro Arcebispo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta.

Animava-me no novo encargo o fato de Aparecida ser a sede do Santuário Nacional da Padroeira do Brasil. Por certo, teria da Mãe de Deus a garantia de sua proteção especial, uma vez que, ao assumir a Arquidiocese, me seria atribuído o ilustre encargo de primeiro guardião de sua 2 imagem. Confortavam-me e encorajavam-me também as palavras ditas por minha piedosa e devota mãe logo ao saber de minha designação: “Rezei a Ela pedindo que você fosse para Aparecida.”

Quase 13 anos já se passaram desde aquele longínquo 25 de março de 2004. Agora, com a mesma disponibilidade e alegria, passarei o báculo às mãos do meu sucessor, Dom Orlando Brandes, quinto arcebispo desta sede episcopal. Para o meu caríssimo irmão no episcopado, as minhas preces e os fraternos votos para que seu ministério à frente dessa Igreja particular seja muito frutuoso, não só no que se refere ao querido povo de Deus desta Arquidiocese, mas também no que concerne aos estimados romeiros devotos da Mãe Aparecida.

No período em que estive à frente desta Arquidiocese, muitas foram as graças que Deus me concedeu. Permitiu-me, em 2007, acolher o Papa Bento XVI em sua primeira viagem intercontinental, bem como os participantes da V Conferência Geral do Episcopado LatinoAmericano e Caribenho. Para preparar os aposentos onde Sua Santidade se hospedaria, concedeu-me a Divina Providência a disposição de iniciar, com a ajuda de generosos colaboradores, a restauração do edifício do Seminário Bom Jesus, que foi concluída em 2012, tendo sido o imóvel solenemente reinaugurado no dia 19 de março daquele mesmo ano. E, como se isso não bastasse, os desígnios divinos reservaram-me, em 2013, mais uma agradável surpresa: receber o Papa Francisco em sua visita a Aparecida.

Em Aparecida, conferiu-me o Senhor a alegria de, continuamente, viver as mais agradáveis e enriquecedoras experiências, colhidas no âmbito do relacionamento humano com todas as pessoas com quem convivi. Senti-me recompensado pela atenção e carinho que sempre me dedicaram. Para levar avante minha missão, contei, no pastoreio da Arquidiocese, com a dedicada e generosa cooperação de todo o presbitério diocesano e com inestimável ajuda, por três anos, de Dom Darci José Nicioli, Bispo Auxiliar. Da mesma forma, fui amplamente favorecido com a colaboração e apoio dos religiosos e religiosas; dos leigos e leigas; das autoridades, nos diversos graus hierárquicos; enfim, de todo o povo desta querida terra.

Entre tantas pessoas com quem convivi, expresso sincera e perene gratidão àquelas que foram meus colaboradores e colaboradoras mais próximos, nas atividades cotidianas por elas desenvolvidas em minha residência, na Secretaria, na Cúria Arquidiocesana, na Pousada do Bom Jesus e em minhas locomoções. Delas recebi não só a devotada dedicação na prestação de seus serviços, mas, sobretudo, a prova de uma amizade leal e sincera.

Estou certo de que foi a efetiva colaboração a mim oferecida por tantas pessoas e o profundo senso de corresponsabilidade assumido em nossos trabalhos a razão do êxito de tudo o que, em conjunto e em espírito de verdadeira fraternidade, construímos na Arquidiocese nesses anos. Começo por citar as obras executadas no Santuário Nacional, esse grande centro de evangelização e lugar privilegiado da devoção à Virgem Maria no Brasil que fazem de Aparecida a Capital Mariana de nosso país. Os trabalhos no Santuário tiveram, sem dúvida, grande avanço graças ao dedicado e competente trabalho dos missionários redentoristas e à constante e valiosa colaboração da Família Campanha dos Devotos e de tantos outros benfeitores devotos de Nossa Senhora Aparecida. Entre as muitas realizações, pode-se citar a edificação das diversas obras 3 destinadas a bem acolher o episcopado brasileiro para as suas assembleias ordinárias anuais, a partir de 2011, depois da decisão da CNBB de transferi-las da Vila Kostka, no bairro de Itaici em Indaiatuba, para Aparecida. Todo esse grandioso complexo arquitetônico se destina também à promoção de cursos, seminários, convenções, encontros, bem como a proporcionar acolhida e hospedagem aos milhares de romeiros da Senhora Aparecida, fiel ao lema que inspira o trabalho do Santuário: “Acolher bem também é evangelizar”. Acima de todas essas numerosas obras materiais, é preciso, porém, colocar em primeiro plano o trabalho evangelizador efetuado presencialmente pelos Redentoristas no Santuário, bem como aquele realizado por eles em todo o Brasil por meio da Rede Aparecida de Comunicação. Entre tantas atividades, enfatizo a importância daquela que, incansavelmente, por horas a fio e de forma anônima, é desenvolvida pelos missionários redentoristas em favor de todos os que os procuram para receber o sacramento da Reconciliação.

De grande significado para a Arquidiocese é também o Santuário Arquidiocesano dedicado a Frei Galvão, filho de Guaratinguetá e o primeiro santo brasileiro. Constituído canonicamente em 2010, concretizaram-se, a partir de 2012, os primeiros passos para a sua ampliação, com a preciosa ajuda do Executivo e do Legislativo de Guaratinguetá, sobretudo no que diz respeito à doação do terreno à Arquidiocese. Estou seguro de que o Santuário de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão trará benefícios de toda ordem para a cidade de Guaratinguetá, para a Arquidiocese e para toda a região.

Agradeço a Deus por tudo o que Ele me concedeu na Arquidiocese de Aparecida. Minha gratidão e louvor à Providência Divina, em especial por ter-me permitido estar aqui até este momento, depois de ter participado da preparação e início das comemorações do tricentenário do encontro da imagem da Senhora da Imaculada Conceição nas águas do rio Paraíba. Ter experimentado as alegrias desse tempo favorável de graças que nos é propiciado pela celebração desse grande acontecimento foi um prêmio que obtive da Senhora Aparecida no marco final de meu episcopado em sua Arquidiocese. Com ela – e com suas palavras - proclamo: “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus meu Salvador” (Lc 1, 46 ). Ao Papa Francisco, que, puramente por benevolência, me manteve à frente da Arquidiocese até hoje, permitindo-me participar desses auspiciosos acontecimentos, a minha gratidão.

Por tudo isso, posso afirmar, sem nenhuma hesitação, que encerro meu ministério episcopal na Arquidiocese de Aparecida como pastor plenamente realizado. Muito feliz e contente, recorro à confidência feita pelo Apóstolo Paulo aos Filipenses para dizer, que, aqui, não corri nem me esforcei em vão (cf. Fil 2,16). Tenho a esperança de ter feito, nesta Arquidiocese, na medida de minhas forças, o melhor pelo Reino de Deus. À conta de minhas humanas limitações, debito, porém, minhas falhas. Por isso, dirijo, neste momento de despedida, uma súplica de perdão a Deus, a meus irmãos e irmãs pelos erros que cometi. A Deus, que sempre me assistiu em meus trabalhos pastorais, fortalecendo-me em minhas fraquezas, por tudo o que me concedeu aqui alcançar, seja Ele louvado e glorificado por Jesus Cristo no Espírito Santo.

Que Deus Pai misericordioso, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, derrame copiosas bênçãos sobre todo o querido povo desta Arquidiocese.

Rezem por mim, para que Deus me dê a graça de cumprir sua vontade no lugar e no tempo que Ele me reservar, concedendo-me levar a bom termo a minha carreira e o ministério que d´Ele recebi (cf. At, 20,24).

A todos, meu cordial abraço, com votos para que se mantenham firmes na fé em Jesus Cristo, sempre confiantes na materna proteção da Senhora Aparecida.

Aparecida, SP, 16 de novembro de 2016

 

Dom Raymundo Damasceno Assis

Arcebispo de Aparecida








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