Grandes obras na Amazônia: que benefícios para o povo nativo?


Belém (RV) – O Projeto governamental MATOPIBA é também tema das apresentações no auditório da Casa da Comunidade Sementes do Verbo, em Belém. A ‘última fronteira agrícola do Brasil’ engloba 4 estados: parte de Maranhão, todo o Tocantins, e parte de Piauí e de Bahia. O programa está impactando fortemente as comunidades locais, sem produzir riqueza e muito menos empregos para a população. Quem nos explica é o arcebispo de Palmas (TO), Dom Pedro Brito:

“Tocantins está no bioma ‘cerrado’, ele é o último bioma antes da Amazônia. Ele entrega aos outros biomas e recebe também da Amazônia, então é um bioma que é a ‘nascente das águas’, pois as águas do grande Brasil nascem ali: os braços do Rio Tocantins, do Araguaia e outros que depois formam a Bacia Amazônica, vêm ao Pará e assim por diante. Então, nós não somos contra o desenvolvimento do agronegócio; todos têm o seu espaço, mas o nosso medo é que este desmatamento atinja o coração da realidade, sobretudo as fontes: as pessoas que moram na região, as comunidades tradicionais, que há séculos vivem ali e têm suas terras ali, mesmo que às vezes não tenham documento, mas são proprietárias porque nasceram e cresceram ali”.

“Agora vem o agronegócio que é um rolo compressor que passa em cima de tudo, derruba tudo para plantar milho, soja e outras coisas que não se consome nesta região. Não conheço um tocantinense que se alimente de farelo de soja, óleo ou leite de soja...”

“Esta não é a lógica do agronegócio, os contêineres são para a exportação e não para o consumo das pessoas. Depois, não empregam pessoas, usam maquinários de última geração, uma pessoa só faz tudo, colhe tudo. O sistema é interessante como mecanismo, mas tem o seu lado perverso”.

O II Encontro da Igreja Católica na Amazônia centra suas atividades nos efeitos e desafios dos grandes projetos no meio ambiente e principalmente junto às populações. Nativos, os indígenas são os mais abalados com esta destruição em nome de um progresso que a ninguém beneficia. Este é o testemunho de Chico, representante do Conselho Indigenista Missionário no Regional Norte 1, Amazonas e Roraima.

“Os desafios são realmente enormes. Nos últimos anos, os indígenas na Amazônia tiveram conquistas importantes na afirmação de direitos que asseguram a possibilidade de seus projetos de vida futura, sobretudo na demarcação de terras, obtiveram conquistas em termos legais, mas os direitos territoriais e outros direitos estão seriamente ameaçados porque existe um grande movimento no sentido de impor um retrocesso nestas conquistas  dos povos indígenas”.

“Os povos indígenas são na verdade aqueles que se opõem à devastação, dão uma contribuição muito grande no sentido de evitar que a Amazônia seja devastada. Então se hoje observarmos o arco do desmatamento no norte de Mato Grosso, em Pará e Rondônia,  vemos as manchas verdes no mapa coincidem com as áreas dos territórios indígenas. Nós estamos conversando, aqui neste Encontro,  sobre isso”.

“O Papa também reconhece o papel relevante  que os indígenas têm na dimensão do cuidado com a Casa Comum e neste sentido, destaco que a Igreja caminha junto com os povos para estabelecer uma grande aliança, porque na verdade são eles que no processo histórico sempre cuidaram melhor da natureza, desta Casa Comum. Temos muito a aprender com eles”.

(CM)








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