A unidade entre 'Lumen Gentium' e 'Gaudium et Spes'


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso Espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar no Programa de hoje de relação entre as Constituições conciliares Lumen Gentium e Gaudium et Spes.

No programa passado, vimos como a Gaudium et Spes é um prolongamento da Lumen Gentium sobre a Igreja, e representa um esforço para o estabelecimento de diálogo entre a Igreja e o mundo, de maneira autêntica e realista, como disse João XXIII. Na edição de hoje deste nosso espaço, Padre Gerson Schmidt nos fala sobre a "Unidade entre estas duas importantes Constituições do Concílio Vaticano II"¹:

"A pastoral e a evangelização foi a principal intenção do Vaticano II. Mas isso não significa que os documentos desse Concílio II não tenham valor doutrinal, não tenha declarações dogmáticas seguras, ou não sejam a afirmação da doutrina da Igreja, professada ao longo dos séculos. Não há, no Concílio, um descontinuismo, como se agora houvesse a verdadeira Igreja, desconectada dessa de 20 séculos, dois mil anos. O próprio Paulo VI disse igualmente, no término da elaboração da Constituição Lumen Gentium, bem assim:

“O que a Igreja por séculos ensinou, ensinamo-lo igualmente. Somente aquilo que era simplesmente vivido, é agora expresso; aquilo que era implícito, fica esclarecido; o que era meditado, discutido e em parte controvertido, chega agora a uma serena formulação. Verdadeiramente podemos dizer que a Providência divina preparou para nós uma hora luminosa; ontem lentamente amadurecida, hoje resplandecente, amanhã certamente rica de ensinamentos, de impulsos, de melhoras para a vida da Igreja” ².

Há, sim, ensino doutrinal no Magistério do Vaticano II. Frei Boaventura Kloppenburg afirma ter sido a intenção do Concílio ensinar e propor definitivamente doutrinas, apesar de não as ter declarado de modo solene. Como exemplo, cita a infalibilidade dos Bispos, a colegialidade episcopal e a sacramentalidade do Episcopado ³. Os dois documentos a Lumen Gentium e a Gaudium et Spes são Constituições. A primeira, dogmática, e a segunda, pastoral. Com a denominação Constituição, fica clara a intenção do Concílio de também ensinar verdades doutrinais. Guilherme Baraúna, na Introdução à conhecida obra sobre a Gaudium et Spes, intitulada A Igreja no mundo de hoje, assim se expressa sobre a importância desse documento:

A Gaudium et Spes é um documento carregado de novidades para a consciência da Igreja. Um desses documentos que, por si só, bastaria para assinalar o Vaticano II e contradistingui-lo de todos os outros Concílios que o precederam. Nele se torna particularmente visível o que aflora, com maior ou menor clareza, em todos os outros documentos do Concílio ideado por João XXIII: que a Igreja aceitou definitivamente o convite – bem antigo aliás – de desinstalar-se de posições seculares e milenárias, admitindo inequivocadamente que uma era completamente nova de sua história acaba de inaugurar-se (4).

A Gaudium et Spes representa uma nova consciência para a Igreja e dá início a uma nova era eclesial. Contudo, a mesma observação pode ser feita a respeito da Lumen Gentium, porque esses dois documentos representam uma nova autocompreensão da Igreja sobre si mesma, como já foi expresso anteriormente, e uma nova postura diante do mundo. A leitura da Gaudium et Spes não pode ser feita desligada de outros documentos, particularmente da Lumen Gentium. As duas Constituições formam uma unidade, um “capítulo do Vaticano II”, parafraseando uma afirmação de Baraúna ². Aliás, é sempre mais frequente e autorizado o reconhecimento da estreita conexão existente entre a Constituição pastoral Gaudium et Spes e a Lumen Gentium, que contém, esta, algum dos motivos que representavam como a filigrana da Gaudium et Spes. Antes, esta particular intimidade entre os dois documentos remonta desde quase a origem da preparação da Gaudium et Spes, conforme é expressamente lembrado e reconhecido pelo próprio texto conciliar, quando afirma que a assembleia chegou a formular a Constituição pastoral ‘depois de haver investigado de modo mais profundo o mistério da Igreja – estudada na Lumen Gentium (GS, 2) (5)".

 

¹ Baseado literalmente no texto de Pe. Geraldo B. Hackmann, “A IGREJA DA LUMEN GENTIUM E A IGREJA DA GAUDIUM ET SPES”, com as devidas referências também das notas e fontes usadas, com adaptações pessoais para programa radiofônico. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/teo/article/viewFile/1713/1246.

²Idem.

³ cf. B. KLOPPENBURG, loc. cit., p. 832.

(4) G. BARAÚNA (Org.), A Igreja no mundo de hoje. Petrópolis: Vozes, 1967, p. 9.

(5) G. ALBERIGO, A Constituição “Gaudium et Spes” no quadro do Concílio Vaticano II. In G.BARAÚNA, op. cit., p. 172.








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