Dimensão Pneumatológica da Lumen Gentium - superação do juridicismo


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição Dogmática Lumen Gentium.

Na Constituição Dogmática Lumen Gentium encontra-se uma nova consciência da Igreja, que supera a auto-suficiência de uma Igreja que se entende como fim em si mesma, e se descobre como a Igreja de Deus, que deve ser sacramento de salvação para o mundo.

Devido à importância deste documento, temos dedicado a ele inúmeros programas, sendo auxiliados neste percurso pelo Padre Gerson Schmidt, incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre. No programa passado, o sacerdote nos propôs a reflexão "A eclesiologia Trinitária da Lumen Gentium". No Programa de hoje, Padre Gerson nos traz "Dimensão Pneumática da Lumen Gentium – superação do juridicismo". Vamos ouvir:

"A perspectiva pneumatológica também está presente na Lumen Gentium. A Igreja, a bíblica de Povo de Deus, de acordo com o Relatio finalis do Sínodo de 1985 ¹.

Essa consciência, de não ser simplesmente uma associação ou agremiação humana, gera duas consequências. Uma, a superação de uma eclesiologia puramente jurídica; e a outra, a consciência de uma nova relação com o Reino de Deus e com o mundo.

Vejamos hoje a primeira: a superação de uma eclesiologia puramente jurídica

Sem dúvida alguma, a Lumen Gentium significa a superação de uma eclesiologia jurídica. Essa mudança de perspectiva faz com que a Igreja deixe de ser vista horizontalmente e a partir de si mesma, para ser compreendida verticalmente, isto é, a partir de Deus e de sua presença nela. Como consequência, ela é o instrumento de Deus no mundo e tem a missão de proclamar a Boa-Nova do Reino de Deus. O que não significa afastamento do mundo, mas o assentamento de sua missão no essencial.

Papa Paulo VI define claramente a essência da Igreja na evangelização, as suas origens, passando pelos séculos de sua história, a evangelização é o que a Igreja tem de mais íntimo. Está bem evidente isso na Evangelii Nuntiandi, relembrado também no documento atual do Papa Francisco Evangelii Gaudium. Não precisamos ir em busca de uma identidade. A identidade existe deste os primórdios, na Igreja primitiva.

A recepção da eclesiologia do Vaticano II, feita pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos, de 1985, destacou a eclesiologia de comunhão. Pode-se afirmar que a comunhão não tem um lugar central no Magistério do Vaticano II, contudo, a ideia da comunhão pode servir como síntese dos elementos essenciais da eclesiologia conciliar. Como lemos no texto da primeira carta de João: “O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos, para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa” (Jo 1,3-4).

A comunhão tem como ponto de partida o encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo, que chega às pessoas pelo anúncio da Igreja. Assim acontece a comunhão com Deus e com a humanidade. O encontro com Cristo cria a comunhão com ele e, portanto, com o Pai no Espírito Santo, e a partir daí une as pessoas entre si. Assim, a palavra comunhão tem um caráter teológico, cristológico, histórico-salvífico e eclesiológico, adquirindo uma dimensão sacramental, expressa pelo conceito da Igreja como sacramento de salvação".

¹ Cf. SÍNODO DE 1985, Relatio finalis II, A 3.

 

 








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