Congresso em São Paulo debateu "chagas modernas"


São Paulo (RV) - Não nos façamos de distraídos!  Há muita cumplicidade!” Esta citação do Papa Francisco estava inserida no título do Congresso Internacional, realizado no final de setembro por iniciativa do Centro Universitário Salesiano (UNISAL) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) da megalópole de São Paulo, centrado na “Doutrina Social da Igreja e o cuidado misericordioso dos mais frágeis”.

“Não nos façamos de distraídos! Há muita cumplicidade!” Essa forte advertência-denúncia do Papa Francisco, orientou todo o Congresso que afrontou as ideologias que condicionam o monopólio dos meios de comunicação, as chagas da migração clandestina, do tráfico de seres humanos, do trabalho escravo. 

Foi o próprio Papa a sugerir essa escolha. Na Evangelii Gaudium (n.211), ele diz ter sempre sofrido por esses dramas. Como era matéria de urgência para ele, nas duas intensas jornadas, seja no momento de oração que nas intervenções apresentadas pelos numerosos pesquisadores latino-americanos e europeus, com o auxílio de imagens, gráficos, ecoou de modo inquietante, “o grito de Deus que pergunta a todos nós: ‘Onde está o teu irmão?’ (Gen 4,9). Onde está o teu irmão escravo?”

O Congresso sacudiu as consciências abrindo corações e olhos sobre a manipulação das informações que apresenta os refugiados como ameaça à própria identidade cultural, culpando-os de roubar trabalho, serem portadores de doenças e de criminalidade. Foi manifestado o verdadeiro vulto de milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças, induzidos, pelo desespero, a fugir do seu próprio País vítimas de quem os priva de documentos, de tudo aquilo que possuem transformando-os em mercadoria a ser jogada na estrada da prostituição, da indigência, constringindo-os ao trabalho escravo, ao narcotráfico, reduzindo-os em objetos dos quais podem extrair órgãos, pele e cabelos. Foi mostrado o catálogo dos preços!

Um grito que não fica sem resposta. Na cerimônia de abertura o Card. Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo e Grão Chanceler da Pontifícia Universidade de São Paulo, tinha evidenciado que “somente a misericórdia cura as feridas”. Mostrou isso a tocante ação da “Missão Paz” de São Paulo, onde – como ilustrado pelo Pe. Paolo Parise – os refugiados encontram acolhida, defesa dos seus direitos, uma voz junto às instituições jurídicas e legislativas. Pe. Thomas Brennan, há anos luta junto às Nações Unidas, em colaboração com religiosos de  várias congregações, cristãos de diferentes Igrejas e seguidores de diversas religiões para obter convenções e intervenções dos Estados contra esses fenômenos criminais.

Certamente não é suficiente. Esses crimes se expandem também pela indiferença de muitos, salientou Pe. Brennan. Porque se é conivente calando, criminalizando as vítimas, fecham-se os olhos ao comprar o produto, sem avaliar se são fruto do trabalho escravo ou não. Os dados estão disponíveis na internet.

Indo à raiz das causas, as pesquisas acusam o sistema consumista que faz da economia a ditadura que condiciona política, comunicação, esfera jurídica e incentiva o desnível entre ricos e pobres, provoca trabalho precário, desocupação e desconstrói os próprios autênticos direitos humanos.

Do Congresso emergiu um forte apelo à fidelidade criativa à Doutrina social da Igreja, definida pelo Presidente da Comissão da Pastoral social do CELAM, Gustavo Rodrigues Veja, Arcebispo de Yucatan (México), “fermento novo para desencadear uma verdadeira revolução social”.

(Carla Cotignoli)








All the contents on this site are copyrighted ©.