A eclesiologia Trinitária da Lumen Gentium


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição Dogmática Lumen Gentium, abordando hohe a "Eclesiologia Trinária".

A Constituição dogmática Lumen Gentium é um dos grandes documentos do Concílio Vaticano II. A partir dela, a Igreja passou a ser vista não apenas como uma instituição hierarquizada, mas também como uma comunidade de cristãos espalhados por todo o mundo e pertencentes ao Corpo Místico de Cristo. O documento refletiu basicamente sobre a constituição e a natureza da Igreja, reafirmando várias verdades eclesiológicas. No programa de hoje, Padre Gerson Schmidt nos traz a reflexão sobre a "Eclesiologia Trinitária da Lumen Gentium". Vamos ouvir:

“A eclesiologia da Lumen Gentium foi objeto de inúmeras reflexões e muitos comentários, sobretudo no período pós-conciliar, particularmente em 1985, por ocasião do Sínodo Extraordinário de Roma. Após 50 anos de sua promulgação, se renova essa reflexão e aplicação da eclesiologia da Lumen Gentium¹. Baseando-me num artigo do teólogo Pe. Geraldo Borges Harckmann², professor da PUC-RS, cito aqui três elementos eclesiológicos presentes nesse importante e rico documento.

O primeiro elemento é a dimensão trinitária. No início de um artigo sobre a Eclesiologia da Lumen Gentium, o então Cardeal Ratzinger conta um episódio interessante, capaz de iluminar a intenção do Vaticano II com essa Constituição Dogmática. O Cardeal Frings contava que o Bispo de Regensburg, Dom Michael Buchberger, organizador do Lexikon für Theologie und Kirche, quando os Bispos da Alemanha discutiam quais deveriam ser os assuntos a serem abordados durante os trabalhos conciliares, pediu a palavra e disse que o Concílio, antes de tudo, deveria falar de Deus, porque esse era o tema que lhe parecia o mais importante. Os Bispos alemães se sentiram tocados por essa afirmação, e o Cardeal Frings manteve essa preocupação ao longo de todas as Sessões Plenárias do Vaticano II³.

Uso esse episódio para abordar a eclesiologia da Lumen Gentium. Nessa Constituição Dogmática encontra-se uma nova consciência da Igreja, que supera a autossuficiência de uma Igreja que se entende como fim em si mesma, e se descobre como a Igreja de Deus, que deve ser sacramento de salvação para o mundo. O primeiro capítulo da Lumen Gentium, intitulado O mistério da Igreja, sinaliza uma Igreja trinitária, que se origina do mistério de Deus e deve testemunhá-lo ao mundo.

O então teólogo e Cardeal Ratzinger defende a tese de que o Vaticano II queria claramente inserir o discurso sobre a Igreja no discurso sobre Deus e queria propor, com isso, uma eclesiologia propriamente teológica. Entretanto, a recepção do Concílio esqueceu essa característica qualificante em favor de simples afirmações eclesiológicas, fazendo retroceder o espírito do Vaticano II.

Como a Igreja é a Igreja de Deus, a Ekklesía tou Theou, pode-se afirmá-la como uma Igreja sacramento de salvação (cf. Lumen Gentium, 1), porque nela está presente o mistério do desígnio salvífico de Deus para a humanidade, como sinal do amor incondicional de Deus pelas pessoas, por ele criadas como um gesto de benevolência de seu dom. Com isso, uma das características da eclesiologia do Vaticano II é a dimensão trinitária da Igreja, que está clara no primeiro capítulo da Lumen Gentium".

 

¹ A título de exemplo, podem citar-se alguns trabalhos: B. KLOPPENBURG, Concílio Vaticano II (5 vol.). Petrópolis: Vozes, 1996; G. PHILIPS, A Igreja no mundo de hoje. Concilium 6 (junho de 1965), p. 5-18; Y. CONGAR, Mon journal du Concile. Paris: Cerf, 2002; G. BARAÚNA, A Igreja do Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 1965; A. ANTÓN, Ecclesiologia postconciliare: speranze, risultati e prospettive. In R. LATOURELLE (a cura), Vaticano II: Bilancio e prospettive venticinque anni dopo (1962-1987). Assisi: Cittadella Editrice, 1987, p. 361-388; M. A. DOS SANTOS (Org.), Concílio Vaticano II. 40 anos da Lumen Gentium (Coleção Teologia 27). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.

² Hackmann, Pe. Geraldo Luiz. A IGREJA DA LUMEN GENTIUM E A IGREJA DA GAUDIUM ET SPES Borges FATEO – PUCRS.

³ 10 J. RATZINGER, L’ecclesiologia della Costituzione Lumen Gentium. In R. FISICHELLA (a cura), Il Concilio Vaticano II. Recezione e attualità alla luce del Giubileo. Cinisello Balsamo: San Paolo, 2000, p. 66. 663








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