A compilação da Constituição Dogmática Lumem Gentium


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição dogmática Lumen Gentium.

No programa anterior, repassamos em breve síntese os fatores pré-conciliares que foram fundamentais para a construção da Constituição dogmática Lumen Gentium. Na edição de hoje, Padre Gerson Schmidt nos traz a reflexão "A compilação da Constituição dogmática Lumen Gentium", expondo as ideias que brotavam de uma nova atmosfera propícia para uma renovação eclesial e que inspiraram a elaboração de tão fundamental documento:

"Já dissemos que muitos movimentos pré-conciliares existiam para a construção do Concílio Vaticano II: litúrgico, ecumênico, bíblico, missionário, a espiritualidade cristocêntrica, a valorização do laicato, o acento patrístico, os novos desafios da modernidade...todos esses aspectos contribuíram para uma atmosfera propícia para repensar a missão e natureza da Igreja no mundo.

Todos esses fatores ajudaram a compilar o Concilio Vaticano II, que legitimou o diálogo eclesiológico necessário. O primeiro esquema apresentado da Lumen Gentium, da Igreja refletir sobre si mesma, se iniciava com o título “De ecclesiae militantis natura”, ou seja, “A natureza militante da Igreja” que arrancava da natureza simplesmente corporativa da Igreja instituída por Cristo mediante o estabelecimento da hierarquia, para uma identificação real entre o Corpo Místico de Cristo na terra e a Igreja Católica Romana.

O esquema De Ecclesia – que versava sobre a natureza e a estrutura da Igreja - começou a ser discutido em dezembro de 1962, em seis Congregações Gerais. Esse esquema tinha uma concepção eclesiológica de caráter institucional, de acordo com a teologia de Belarmino¹. As críticas foram muitas. Logo se pediu uma reformulação dessa estrutura de pensamento.

Os esquemas preparatórios foram rejeitados pelos bispos contrários ao demasiado juridicismo, clericalismo e triunfalismo. Então se descortinava e se perfilava um novo horizonte de uma Igreja renovada, num pensamento eclesiológico que invertia a pirâmide, onde a hierarquia se deveria colocar a serviço do Povo de Deus.

A centralidade da categoria bíblica de Povo de Deus – embora depois se exagere permanecendo unicamente nela - permitia afirmar a igualdade fundamental de todos os batizados e recordar a chamada de todos os batizados à santidade, capítulo posterior fundamental, que se torna um capítulo central do documento. O importante papel das Igrejas particulares e a colegialidade episcopal mostrava a insuficiência da concepção centralista e piramidal da Igreja.

Todas essas ideias brotavam de uma nova atmosfera propícia para uma renovação eclesial, nas palavras do Papa João XXIII, de um "aggiornamento", de um abrir as portas e janelas da Igreja para que entrasse um novo ar, um arejamento que tirasse o mofo e os ácaros próprios de um ambiente muito fechado muito ad intra – para dentro. A Igreja se abria assim para o diálogo e uma renovação de sua missão própria no mundo, sem ser do mundo, ad extra – para fora, que rende a belíssima Constituição pastoral Gaudium et Spes.

De fato, o Concilio Vaticano II foi o Concilio mais universal da História da Igreja, dos 20 já realizados. Além dos 2.540 padres conciliares, pela primeira vez, 18 confissões não-católicas se faziam representar por observadores oficiais. Foi estabelecida uma estrutura organizativa composta por um conselho de presidência de 10 Cardeais e 10 Comissões. Bem logo se viu a necessidade de delegados ou moderadores, que substituirão os membros de presidência o conselho na direção das Congregações Gerais².

Dom Boaventura Kloppenburg, perito do Vaticano II e que na edição em português dos documentos faz as introduções gerais para cada documento, em um artigo publicado na Revista Eclesiástica Brasileira, faz a seguinte conclusão, a respeito da amplitude desse maior acontecimento eclesial do século XX: “Na verdade, não há, na história da Igreja, Concílio que se lhe compare. Jamais foi tão grande e universal a representação. Jamais, tão variada a contribuição de todas as raças, continentes e culturas. Jamais, tão livre e ampla a discussão dos temas. Jamais, tão facilitada a comunicação exata das ideias. Jamais, tão demorada e minuciosa a preparação. Louvemos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo!”³.

 

¹ SANTOS, Manoel,Org. Concílio Vaticano II: 40 anos de Lumen Gentium, Edipucrs, Porto Alegre, 2005, p.11.

² Idem, 8-9.

³ B. KLOPPENBURG, No quarentenário da Lumen Gentium. Revista Eclesiástica Brasileira, fasc. 256 (outubro de 2004), p. 835.








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