2016-09-23 11:47:00

Homenagem ao ex Presidente António Mascarenhas Monteiro


Faleceu na manhã da sexta-feira, do dia 16 de Setembro, em Cabo Verde, o Presidente Emérito do País, António Mascarenhas Monteiro.

Tinha 72 anos de idade e estava doente havia já algum tempo.

Ele foi Presidente de 22 de Março de 1991 a 22 de Março de 2001, tendo sido o primeiro Presidente eleito no contexto do multipartidarismo.

Nascido em Santa Catarina, na ilha de Santiago, António Mascarenhas Monteiro estudou na Cidade da Praia e licenciou-se em Direito pela Universidade de Lovaina, na Bélgica.

Fora galardoado com o Grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade Pública do Mindelo, em Cabo Verde, e recebeu em Portugal dois importantes galardões: o Grande Colar da Ordem da Liberdade em 1991 e o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, no ano 2000.

Em Setembro de 2006 fora nomeado pelo então Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, Enviado Especial a Timor Oriental.

António Mascarenhas Monteiro era considerado uma pessoa simples, de trato social modesto, de grande riqueza interior e sem apego aos bens materiais. Uma luz autêntica para a longa noite de leadership que perpassa o nosso continente africano e este nosso mundo em geral da globalização da indiferença onde o essencial é a corrida para as mordomias que o mundo político e económico podem garantir em detrimento dos mais sagrados princípios da convivência humana e civil. Só de fato, um homem ou uma mulher imbuído de uma grande força humana, moral e espiritual, com uma visão do mundo na sua globalidade, da sua região continental e do seu quintal e com plena consciência das virtudes, valores e defeitos do seu quintal podia deixar em herança, de maneira silenciosa e, talvez como era caraterístico da sua pessoa, sem nenhuma intenção de querer mudar o percurso da história, deixar em herança um tamanho testemunho de liderança política, entendida como ocasião, uma graça, uma ocasião para prestar humildemente um serviço que é a mais alta expressão da caridade humana (Paulo VI), para o povo, o seu país, o seu continente africano e para o mundo em geral. Foi eleito presidente da República para estar à frente do seu povo. Mas a sua visão de leader lhe permitiu entender que o momento histórico de Cabo Verde na altura, exigia dele o discernimento sobre o lugar exato onde se colocar: se no meio, por detrás, ou à frente do seu povo: escolheu modestamente estar por detrás, sabendo com diligência quando, os momentos oportunos para estar no meio e à frente como dele esperado. Esta, no dizer de Amílcar Cabral, é a atitude e o que caracteriza um verdadeiro líder político: saber quando é o momento de estar por detrás, à frente e no meio do povo, sempre com a preocupação de prestar um serviço ao país, ao povo e através deles, à humanidade na sua globalidade, já que os povos, onde quer que se encontrem, são sempre património de uma humanidade mais ampla, global, assim como os nossos países são sempre patrimónios de uma “família das nações mais ampla”.

- O homem, Mascarenhas Monteiro, foi a enterrar como é normal que seja. Mas o seu legado político e institucional o transformou num autêntico Antepassado para os nossos países e povos e para cada um de nós individualmente que fomos testemunhos do serviço por ele prestado em prol do triunfo da nossa vida sobre a morte. E como antepassado, ele nunca nos deixou: com a sua morte ele cessa de estar presente no meio de nós fisicamente da habitual maneira como sempre esteve; de ora em diante ele continua eternamente vivo e presente em cada um de nós: deixou de estar connosco para de agora em diante, estar, de maneira permanente, em nós que ainda estamos vivos nessa face da terra. Cabe portanto a nós os vivos deste mundo, lembrar que os antepassados nunca nos abandonaram, mas a condição que lembremos que nós os vivos, somos a única razão pela qual os nossos defuntos permanecem ainda presentes no mundo dos vivos. Oxalá então que o seu funeral de Estado não tenha sido ocasião para proceder àquilo que se faz sempre com grandes líderes da história da nossa humanidade: enterrados como Faraós, estando porém seguros de terem tapado cuidadosamente todos os buracos do seu túmulo, por forma a evitar que dele saia um ventinho que possa perturbar o nosso sono e as nossas consciências neste mundo de “cada um por sí Deus por todos e de corrida ao poder pelo poder, á ao deus dinheiro”.  








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