Card. Hummes: "Inculturação da Igreja com vocações autóctones"


Cidade do Vaticano (RV) – Em um recente encontro com a RV, o Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Comissão Episcopal da Amazônia da CNBB, abordou a questão da carência de ministros da Eucaristia na Amazônia, uma situação que, segundo relatos, é pior do que há alguns anos. Moradores das comunidades se lamentam da ausência de padres que batizem seus filhos e celebrem uma missa. Nesta entrevista, o Cardeal aprofunda precisamente o fenômeno da ‘inculturação da Igreja’, mencionando, entre outras coisas, a experiência atuada na diocese de S. Gabriel da Cachoeira, no extremo oeste do Estado do Amazonas, perto da fronteira com a Colômbia.  

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“Eu creio que a própro fato de que escolhemos um Papa latino-americano indica fortemente que a Igreja deve se inculturar em outras culturas que não sejam apenas a europeia. A inculturação da Igreja na Europa foi bem-sucedida, sim, e vem desde a época de São Paulo, em meio aos gentios, depois a Grécia e Roma... e depois levada pelos missionários pelo mundo afora. Mas hoje, o próprio Papa, na Evangelii gaudium, acena a isto e diz muito claramente, que não se pode pretender que o Evangelho se esgote em uma só cultura”.

Processo longo

“Esta questão da inculturação é um processo longo, que se deve começar sabendo em que direção se vai, e este é um outro grande tema para os missionários. Nós brasileiros somos em grande maioria descendentes de europeus e esta Igreja inculturada, para nós, não é estranha, mas é estranha para os povos que não eram europeus, como os índios da América Latina”.

Investimento nas vocações autóctones

“Certamente, porque se começa a pensar também em traduzir alguns textos litúrgicos para as línguas indígenas. A diocese de São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, já tem o Novo Testamento traduzido em 3 ou 4 línguas indígenas. Já existem textos bíblicos e uma seleção de textos do Antigo Testamento. Então se começa a pensar: ‘vamos começar com a liturgia na língua destes povos? Eles estão de fato, traduzindo um esquema de missa com uma das orações eucarísticas com uma língua mais geral, do lugar. Soube que também em outros lugares do Brasil se está fazendo”.

Não é necessário deixar de ser indígena do Brasil para ser cristão; pode-se ser cristão em sua própria cultura

“O Papa Francisco está de acordo que se houver boas traduções, aprovadas pela CNBB, certamente ele é favorável que se faça. Isto aí terá todo um percurso. É interessante porque agora os índios dizem: ‘antigamente nós éramos obrigados a falar português, agora os missionários vão ter que falar a nossa língua, porque senão como vão celebrar a missa em nossa língua se não a conhecem?’. Este é um percurso até certo ponto novo, mas que é muito sério e é de direito dos indígenas. São culturas humanas que têm o direito que o Evangelho seja inculturado em sua cultura. Não é preciso deixar de ser chinês para ser cristão. Não é necessário deixar de ser indígena do Brasil para ser cristão; pode-se ser cristão em sua própria cultura”. 

(CM)








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