Editorial: Sede de paz


Cidade do Vaticano (RV) – Neste domingo, dia 18 de setembro, tem início, e com a duração de três dias, a Jornada Mundial de Oração pela Paz na cidade italiana de Assis, iniciativa que se concluirá com a presença do Papa Francisco, na terça-feira, 20. Um evento que recorda os 30 anos da primeira edição convocada por São João Paulo II quando estiveram reunidos em comunhão os principais líderes religiosos do mundo.

O encontro deste ano contará com a presença de 450 pessoas, e não somente de líderes de religiões de todo o planeta, mas também de seis Prêmios Nobel da Paz: a católica irlandesa Mairead Maguire, Prêmio Nobel da Paz 1976; o Presidente emérito da Polônia e líder do Solidariedade, Lech Walesa, Prêmio Nobel da Paz 1983; a ativista estadunidense de direitos humanos e diretora da campanha sobre minas anti-homem, Jody Williamns, Prêmio Nobel da Paz 1997; a líder da Primavera Árabe no Iêmen Tawakkul Karman, Prêmio Nobel da Paz 2011,  Hassine Abassi e  Amer Meherzi, componentes do quarteto tunisiano vencedor do Prêmio Nobel 2015. O encontro é organizado pela Comunidade de Santo Egídio, pela Diocese de Assis e pelas Famílias Franciscanas.

Passados 30 anos do primeiro encontro, o evento desta semana, além de refletir sobre o momento que vivemos com a negação de Deus pelo terrorismo, irá refletir também sobre o futuro de uma Europa cada vez mais sem raiz. Momento de olhar para a longa estrada de 3 décadas de caminhada em busca daquela paz tão sofrida e em certos lugares tão distante.

Mas o que ocorreu nestes 30 anos após a grande intuição de São João Paulo II? Que frutos foram colhidos neste universo de tempo? Quando se realizou o primeiro encontro, 1986, tínhamos então a Guerra Fria; alguns anos depois o impensável ocorre, a queda do Muro de Berlim, que recordamos, era o símbolo da Guerra Fria. Depois, já em 1993, tivemos o horror da guerra na Bósnia-Herzegóvina, e novamente – recordou dias atrás Padre Enzo Fortunato, diretor da Sala de Imprensa do Convento de Assis – o Papa estava em Assis, sob as pegadas de São Francisco, e logo depois teríamos o Acordo de Dayton.

Olhando para este longo caminho, no ano 2002, após o atentado às Torres Gêmeas em Nova Iorque, brotou uma oração comum em Assis de todas as fés religiosas; alguns anos depois a queda de Al Qaeda. Hoje, um novo desafio: o desafio do terrorismo do autoproclamado Estado Islâmico, e Assis é mais uma vez a resposta ao terror. As edições precedentes nos dizem que “a força frágil da oração”, como chamou o Card. Parolin, é a resposta mais imponente e mais importante à proposta prepotente das armas.

Três dias de encontros, reflexões e oração, cada um segundo o seu modo de rezar ao redor de um único tema “Sede de paz. Religiões e Culturas em diálogo”. Uma conjugação de grandes desafios em busca de uma convivência pacífica entre países, povos e religiões que hoje se vê ameaçada. Espaço para diálogos entre cristãos, hebreus, muçulmanos, religiões asiáticas, da África, Europa e Ásia; espaço para também discutir sobre o terrorismo que nega Deus. Este encontro inter-religioso ainda vai debater grandes temas econômicos, sociais, ambientais, as desigualdades, a pobreza, os migrantes e refugiados, o papel da mídia nas guerras.

Passadas 3 décadas, a iniciativa do “homem que veio de longe” se demonstra mais do que nunca atual: foi profética e o hoje demonstra isso.

Nas pegadas de São João Paulo II, a presença de Francisco, que retorna pela terceira vez à cidadezinha do “pobrezinho de Assis” é um valor a mais à iniciativa, que certamente não quer ser somente uma comemoração, uma efeméride, mas deseja ser uma contribuição real à causa da paz no mundo de hoje.

A oração pela paz em Assis foi desde o primeiro momento visto como um evento de oração para além de qualquer possível equívoco de tipo relativista ou de sincretismo. Um momento de oração através da qual os fiéis de todas as religiões mostram a sua identidade, mas desta vez colocando-se em diálogo e em sinergia, e ao mesmo tempo refletindo, em conjunto, sobre a contribuição da fé para a paz.

O mundo de hoje vive novos desafios. Entramos na era da globalização, que nos faz viver juntos, e ao mesmo tempo, do terrorismo, que ao invés, quer a divisão. Assis, é o grito da união, mesmo num mundo de rumores, do estar juntos, mesmo nas diferenças.

Certamente de Assis, deste evento, como no passado, irá brotar uma mensagem forte para todo o mundo para que se rompa a espiral de violência e de guerra e nasça um mundo mais justo, mais fraterno, de mais justiça e que possamos gozar de um tempo de paz. Será uma experiência forte de unidade que poderá indicar um caminho de esperança. (Silvonei José)








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