Papa recebe responsável Acnur: grande atenção aos refugiados


Cidade do Vaticano (RV) - Refugiados e migrações, condições de vida nessas situações, bem como as causas que produzem êxodos forçados de pessoas: esses foram alguns dos pontos fundamentais do encontro do Papa na manhã desta quinta-feira (15/09), no Vaticano, com o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi.

Ainda nesta quinta-feira o Acnur apresentou um Relatório documentando a crise na instrução dos refugiados, no qual se precisa que três milhões e setecentos mil dos seis milhões de crianças refugiadas em idade escolar não têm a possiblidade de frequentar a escola.

Os refugiados são gravemente lesados com a escassez de instrução quando, ao invés, esta representa uma das poucas ocasiões a disposição para transformar e construir as futuras gerações, denuncia o Relatório. Logo após o encontro com o Santo Padre, o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados foi entrevistado pela Rádio Vaticano. Eis o que disse:

Filippo Grandi:- “Naturalmente, foi para mim uma ocasião extraordinária para dizer ao Papa como a sua voz pública é indispensável para a causa que nós defendemos, para a causa de milhões de refugiados, deslocados, pessoas em fuga da guerra, de perseguições e assim por diante. Sua mensagem de solidariedade é fundamental, hoje. O gesto que fez, quando foi a Lesbos (ilha grega) e trouxe para Roma refugiados desembarcados na Grécia, foi um entre tantos outros! Portanto, este agradecimento e essa confirmação de seu empenho em favor dos refugiados, e também a sua preocupação com as posturas de fechamento, com a rejeição, a falta de solidariedade por parte de tantos governos foram temas muito importantes desse encontro.”

RV: Essas foram, portanto, preocupações manifestadas de ambas as partes. Mas, quais foram os denominadores comuns?

Filippo Grandi:- “Falamos sobre como responder a essa crise global. Estou indo a Nova York porque na próxima segunda-feira, na Assembleia Geral (da Onu) se terá, pela primeira vez, um encontro de chefes de Estado e de governo sobre a temática global dos deslocamentos forçados de população, ou seja, refugiados e migrantes. Portanto, o momento é favorável para o debate. Conviemos, com o Papa, que é muito importante que esse debate não seja centralizado na rejeição e no controle, mas se concentre sobre a resolução destes problemas a partir da raiz. Eu disse ao Papa que as questões fundamentais – mas o disse também ele – são a pobreza, o trabalho – como disse o Papa reiteradas vezes –, o trabalho é importante, a dignidade do trabalho e também a autossuficiência que o trabalho dá, mas também a educação e ademais, sobretudo, a busca da paz em tantos lugares na África, no Oriente Médio e em outros lugares, onde não há paz. Dias atrás o Papa instituiu um dicastério para o Desenvolvimento Humano – explicou-me – como parte das reformas que ele está levando adiante na Igreja, e me confirmou que se ocupará pessoalmente da questão dos refugiados. A meu ver, esse é um sinal forte, importante do qual estamos muito contentes. Represento uma instituição das Nações Unidas, fazemos também um trabalho jurídico, institucional, político, operacional, e a figura do Papa projeta essa causa numa dimensão moral universal que é muito, muito importante. Esse foi o centro da nossa conversação.”

RV: De fato, de 19 a 20 do corrente se realizará em Nova York o encontro de cúpula da Assembleia Geral da Onu sobre refugiados e migrantes. Será colocada uma questão muito importante, evidenciada no Relatório do Acnur, isto é, a necessidade da instrução e a crise na instrução dos refugiados. Quais são os dados mais importantes?

Filippo Grandi:- “O dado mais importante, que inclusive partilhei com o Santo Padre, é um dado numérico: somente 50% das crianças refugiadas frequenta as escolas de ensino fundamental, somente 22% frequentam a escola após o ensino fundamental e apenas 1% consegue chegar à universidade. Isso é grave! Todas as crianças têm direito à educação, mais inda, as crianças refugiadas que por sua condição já vivem numa situação de exílio e que, portanto, estão erradicadas de seu contexto, são vulneráveis do ponto de vista social e econômico e precisam da solidez da educação para poder constituir-se uma personalidade, sobretudo em situação de exílio, mas também para preparar-se para um futuro no qual a sua condição de refugiados acabará, quer retornem à casa própria – que seria a coisa melhor –, quer sejam acolhidos alhures. Portanto, a saúde, alimentação, casa: essas são coisas importantes, não estou dizendo que não devem ser asseguradas aos refugiados, mas não deve ser feito em detrimento da educação, que é uma necessidade igualmente primordial, primária e urgente.” (RL)








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