Mulheres cristãs são duplamente vulneráveis


Cidade do Vaticano (RV) – O drama da perseguição e discriminação a milhões de cristãos no mundo que acontece ainda hoje, no início do Terceiro Milênio, virou livro apresentado nesta segunda-feira (12) em Roma.

Quem nos ajuda a compreender o fenômeno, dando uma visão geral do quadro, é a autora e porta-voz da entidade italiana “Ajuda à Igreja que Sofre”, Marta Petrosillo. A obra leva o título de “Perseguirão também vocês”.

Marta Petrosillo – Paradoxalmente, os valores cristãos tornam os cristãos mais vulneráveis. Uma vez um rapaz de Bagdá me disse: “eles sabem perfeitamente que nós nunca nos vingaremos e, então, essa nossa disponibilidade ao perdão nos torna obviamente mais vulneráveis”.

RV – Muitas vezes o Papa Francisco falou da perseguição dos cristãos, do seu martírio e disse “só porque são cristãos”, sublinhando o silêncio cúmplice de tantas potências. Fundamental, pelo contrário, é construir sociedades em que exista um pluralismo saudável, respeitando os outros e os seus valores. Quanto pesa a postura de alguns poderes fortes do mundo em fazer passar essa perseguição em silêncio?

MP – Pesa muito. O primeiro passo a cumprir para deter a perseguição cristã, que assume hoje também novas formas, é a consciência, porque somente conhecendo a realidade se pode passar a tomar medidas que obviamente devem ser tomadas pelos nossos governos. Um certo progresso tem sido visto nos últimos anos.

Papa Francisco e o diálogo inter-religioso

RV – Quanto é importante o diálogo inter-religioso, não identificar o islamismo com o terrorismo e os gestos de encontro entre os representantes das religiões promovidos por Francisco?

MP – Fundamentais as repercussões que as palavras do Santo Padre têm nos países em que os cristãos são perseguidos. Dom Joseph Coutts, arcebispo de Karachi, me contava como o discurso feito pelo Papa Francisco, em que pediu para não identificar o terrorismo com o islamismo, foi muito apreciado pela comunidade islâmica local. Muitos líderes islâmicos quiseram encontrar o arcebispo para expressar reconhecimento e pedir para levar  a sua mensagem diretamente a Francisco. Então, as palavras do Santo Padre são fundamentais inclusive nos países onde os cristãos não são perseguidos para favorecer o diálogo inter-religioso e fazer com que seja a comunidade islâmica local – que, lembramos, não é para ser identificada com o terrorismo – a se unir à comunidade cristã e a demonstrar solidariedade.

Defender os cristãos a custo de vida

RV – Por exemplo, no Paquistão, para defender os cristãos, as pessoas de fé muçulmana são mortas...

MP -  Não faltam exemplos de muçulmanos que, também a custo de vida, têm defendido os cristãos. Um exemplo é aquele de Salman Taseer, o governador de Punjab, morto em 2011 por causa do seu empenho pela liberação de Asia Bibi.

As mulheres cristãs, duplamente vulneráveis

RV – No livro, um capítulo é dedicado às mulheres cristãs nos países de maioria islâmica, vítimas quase sempre de estupros, sequestros por parte dos extremistas. A situação das mulheres, duplamente discriminadas enquanto mulheres, lhe tocou muito?

MP – Sim, me tocou muito, porque existe realmente um panorama dessas mulheres que são duplamente vulneráveis: vulneráveis porque mulheres e vulneráveis porque são minoria. Há o tema dos estupros, das conversas forçadas, mas também da imposição da vestimenta islâmica para as mulheres cristãs. Penso, por exemplo, no Sudão, onde as mulheres cristãs foram chicoteadas somente porque usavam uma saia considerada muito curta, mesmo se não eram obrigadas a cumprir com o código de vestimenta islâmica.

Palavras do Papa para criar a paz

Na apresentação do livro de Marta Petrosillo também estava presente o arcebispo de Karachi, do Paquistão, Dom Joseph Coutts. Ele comentou sobre a recepção de diferentes representantes muçulmanos às palavras do Papa ao sublinhar que não se pode identificar o islamismo com o terrorismo.

Dom Joseph Coutts – Ficaram muito felizes e agradecidos pelas palavras do Papa, como líder dos cristãos em nível mundial. O Papa disse que o islamismo como religião não é uma religião de terrorismo. Eles disseram que é muito importante quando um líder desse nível diz essas coisas. É um progresso em direção ao diálogo e para criar a paz.

(AC)








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