LG: O joio e o trigo na lavoura de Deus


Cidade do Vaticano (RV) – No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II - vamos continuar a tratar, no programa de hoje, da Constituição dogmática Lumen Gentium.

Nós continuamos a estudar a Constituição dogmática Lumen Gentium, percorrendo as diversas imagens propostas por este importante documento conciliar. No programa passado, vimos a imagem da Igreja como campo ou lavoura de Deus,  onde o dono da vinha, da lavoura, da plantação é o próprio Deus e o povo do Senhor é comparado a uma vinha por Ele plantada. No programa de hoje, Padre Gerson Schmidt, incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, nos traz a reflexão "O joio e o trigo na lavoura de Deus". Vamos ouvir:

"Jesus Cristo utiliza várias parábolas falando da semeadura, da plantação do Reino. Uma das parábolas clássicas é a do semeador que saiu a semear. Uma outra intrigante e que queremos hoje comentar é a Parábola do Joio e do trigo. O Papa Francisco numa das Alocuções marianas, comentou essa Parábola do Joio e do trigo, dizendo assim: "Sabemos que o demônio é um espalhador de cizânia: sempre em busca de dividir as pessoas, as famílias, as nações e os povos". Os trabalhadores queriam logo arrancar o erva daninha, mas o patrão os impediu com a seguinte motivação: 'Não. Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo'. "Sabemos que a cizânia, quando cresce, se parece muito com a boa semente e existe o perigo de confundi-las".

O ensinamento da parábola é duplo. Primeiramente, diz que o mal existente no mundo não vem de Deus, mas de seu inimigo, o maligno. Ele vai à noite semear a cizânia, na escuridão, na confusão, onde não há luz. Este inimigo é astuto: semeou o mal em meio ao bem, tornando impossível aos homens separá-los claramente; mas Deus, pode fazê-lo”.

Na explicação dessa parábola do Joio e do Trigo, o Santo Padre chamou a atenção para "a contraposição entre a impaciência dos servos e a espera paciente do proprietário do campo, que representa Deus". "Nós às vezes, temos muita pressa em julgar, classificar, colocar os bons de um lado e os maus do outro. Lembrem-se da oração do homem soberbo: Deus, eu te agradeço porque sou bom e não sou como aquele que é mal. Deus, ao invés, sabe esperar. Ele olha no campo da vida de cada pessoa com paciência e misericórdia. Vê muito melhor do que nós a sujeira e o mal, mas vê também os germes do bem e espera com confiança que amadureçam. Deus é paciente, sabe esperar. O nosso Deus é um pai paciente que sempre nos espera e nos espera para nos acolher e nos perdoar."

E ainda alerta o Papa Francisco: “Atenção: a paciência do Evangelho não é indiferença ao mal; não se pode fazer confusão entre bem e mal. Diante da cizânia presente no mundo o discípulo do Senhor é chamado a imitar a paciência de Deus, alimentar a esperança com o apoio e a confiança inabalável na vitória final do bem, que é Deus".

No final, o mal será arrancado e eliminado: no tempo da colheita, ou seja, do juízo, os trabalhadores irão exercer a ordem do patrão separando a cizânia para queimá-la. "Naquele dia da colheita final o grande juiz será Jesus, Aquele  que semeou a boa semente no mundo e que se tornou Ele mesmo ‘grão de trigo’, que morreu e ressuscitou. No final, seremos julgados com a mesma medida com a qual julgamos: a misericórdia que usamos para com os outros será usada também conosco. E como dizia São João da Cruz: “No ocaso de nossa vida, seremos julgados pelo amor”.

Quero aqui fazer um resgate histórico da época do Papa Paulo VI. Quando na Sacrosanctum Concilium houve uma renovação litúrgica, se permitiu, ab experimentum, certas adaptações litúrgicas. Houve diversas tentativas de renovação da liturgia, naquilo que era permitido adaptar. Porém, houve exageros. E muitos foram até o Papa Paulo VI reclamar que ele pudesse colocar ordem nessas adaptações exageradas na liturgia. Prudentemente, o sapiente Paulo VI usou essa parábola do Joio e do Trigo. “Não, não vamos cortar de imediato essas inovações”, disse Paulo VI. Se tiramos agora o Joio pequeno, corremos o risco de também arrancar o trigo. Ou seja, que deixassem essas inovações para serem aperfeiçoadas, mais tarde, porque tudo estava em embrião, em fase de adaptações, no começa da renovação.

A imagem da Igreja como grande lavoura de Deus tem isso. Também o inimigo semeia joio. Cabe com paciência nos irmos regando a boa semente, para que a má não vingue, não se misture, não abafe a semente do bem e que o mal seja extirpado no tempo".

(JE)








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