Pe. Samir: educação e concretude contra o extremismo islâmico


Roma (RV) - O verdadeiro Islã é tolerância e paz: nenhuma conivência com o autodenominado Estado Islâmico. A última tomada de posição da parte islâmica contra o fanatismo jihadista foi feita estes dias pelo Grão-Mufti da Croácia, Aziz Hasanovic, no âmbito do Encontro pela amizade entre os povos de Rimini, centro-norte da Itália, concluído na última quinta-feira (25/08).

 

Também estes dias o rei do Marrocos, Muhammad VI, falando a seus compatriotas, convidou-os a fazer uma frente comum, junto a cristãos e judeus, contra o ódio. É também destes dias uma carta do grande Aiatolá iraniano de Qom, Naser Makarem Shirazi, dirigindo-se ao Papa Francisco, na qual o líder muçulmano agradece ao Pontífice por ter feito distinção entre terrorismo e Islã.

“São sinais de esperança que devem ser traduzidos em ações”, comentou à Rádio Vaticano o islamologista Pe. Samir Khalil Samir, entrevistado pela emissora do Papa:

Pe. Samir Khalil Samir:- “Diria que a primeira coisa é um ato bonito que responde ao discurso do Papa que dizia que nós sabemos que o Islã não é, em sua essência, violento. E eles apreciaram isso e buscam em várias tendências ou países do Islã seguir nessa direção e tenho a convicção de que uma grande parte – a maioria – dos muçulmanos pensa assim, não quer guerras e não quer terrorismo. Por um outro lado, se deve dizer que no Alcorão existem frases de violência e no início do Séc. VII a violência fazia parte das tradições beduínas, digamos, para sobreviver. Portanto, que a opinião da maioria dos muçulmanos seja totalmente oposta ao terrorismo, creio que seja uma realidade correta, assertiva. Por outro lado, dizer que no Islã não há, não contém nenhuma violência, não corresponde à verdade. Ou seja, existem ambos os aspectos. Por fim, quando os muçulmanos em geral dizem: “Daesh e o terrorismo, não são muçulmanos, não têm nada a ver com o Islã”, não é exato. Então, se deve dizer que existe essa realidade: a maioria dos muçulmanos não quer isso. Não é de hoje que muitos muçulmanos propõem a solução, afirmam: devemos reinterpretar o Alcorão e a tradição maometana, ou seja, situá-la em seu contexto histórico, como fazemos nós com o Antigo Testamento. Devemos lê-lo com os olhos de hoje e com o pensamento atual e dizer: aquilo foi para um tempo passado. Muitos muçulmanos pensam isso para o Islã e dizem: não podemos pegar ao pé da letra, mas devemos interpretar. Posso testemunhar que eles buscam a paz, querem-na, mas não todos, infelizmente. Temos entre as correntes atuais entre os imames correntes extremistas – intelectualmente extremistas – dentro do Islã.”

RV: Mas neste momento, considerando estas tomadas de posição, se pode afirmar que há uma maior coragem por parte destes no querer dizer: busquemos nos distanciar de uma certa realidade?

Pe. Samir Khalil Samir:- “Espero que seja sincero e praticamente estabelecido concretamente, ou seja, não somente através de palavras, porque todos os muçulmanos na Europa dizem, por exemplo: “Não temos nada a ver com isso”. Porém, não é suficiente dizer isso, devemos dizer “como” combater esse terrorismo que se inspira nos textos islâmicos e que pretende ser o verdadeiro Islã... Dizer: devemos fazer algo contra Daesh. É fácil dizer palavras bonitas. Aquilo de que precisamos é, por primeiro, um ensinamento absolutamente oposto à violência, que seja declarado nos livros, no ensinamento, nos documentos e nos fatos. Nesse sentido, um trabalho a nível de educação é a primeira coisa.” (RL)








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