Editorial: a integração da diversidade


Cidade do Vaticano (RV) - Uma foto chamou a atenção do mundo nos primeiros dias da Olimpíada. De um lado da rede, na disputa do vôlei de praia, uma atleta muçulmana completamente vestida e, do outro, uma atleta ocidental, devidamente “uniformizada” para o jogo nas areias de Copacabana.

No Brasil, muitos consideraram a cena um “choque cultural”. No entanto, a imagem também oferece a possibilidade de outras interpretações: uma delas é a da integração da diversidade.

No Oriente muçulmano, cobrir-se é uma obrigação religiosa para muitas mulheres. No Ocidente cristão, despir-se é sinal de liberdade e emancipação feminina. Mas qual liberdade? E qual obrigação?

Divididas por aquela rede sutil que permite que ambos os lados se mirem nos olhos, misturam-se as duas culturas onde ser mulher é uma disputa diária pelo “ouro olímpico” na modalidade da dignidade feminina.

A difícil tarefa de enxergar a partir da visão do outro pode ajudar a expandir os horizontes da compreensão de um ocidental que vê a cena e se questiona: mas, por que, toda coberta?

Provavelmente, a atleta muçulmana sequer considera esta questão. Para ela, é algo natural e simples, mesmo que muitos vejam isso como repressão imposta pela religião. E ser natural e simples às vezes provoca reações um tanto quanto adversas em opiniões mais restritivas.

E o que dizer da liberdade da atleta cujo uniforme é um biquíni? Ao que parece, o traje oficial da modalidade não oferece muita “liberdade” de escolha. E isso também é natural e não significa que a atleta seja vítima de uma cultura em que a mulher é vista como objeto.

Uma característica inerente ao esporte é a capacidade que este tem de colocar em segundo plano as diferenças, e o Papa sabe disso. Tanto é que em sua mensagem ao povo brasileiro por ocasião do início da Olimpíada, Francisco afirmou:

“Diante de um mundo que tem sede de paz, tolerância e reconciliação, faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida, almejando alcançar como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais valioso: a realização de uma civilização onde reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião”.

A emblemática foto do vôlei de praia da Rio 2016 passa a ser uma peça fundamental no quebra-cabeça que forma esta “única família humana”.

E se fundamenta na mulher-atleta, a verdadeira chama olímpica que promove a transformação cultural da sociedade também por meio do esporte – seja de biquíni ou de véu islâmico.

Em uma de suas mensagens no Twitter nesta semana que termina, o Papa novamente recordou a importância de se defender a diversidade cultural.

“Uma sociedade com culturas diferentes deve buscar a unidade no respeito”, escreveu.

Somente reconhecendo e respeitando a diversidade é que a sociedade poderá reencontrar o norte que leva à Verdadeira Liberdade, que não distingue e não reprime, integra e une.

(rb)








All the contents on this site are copyrighted ©.