2016-08-04 09:35:00

Sinais de Francisco na Viagem Apostólica à Polónia


Neste “Sal da Terra, Luz do Mundo” procuramos reconhecer os sinais deixados por Francisco na sua passagem pela Polónia, em particular, nas Jornadas Mundiais da Juventude na cidade de Cracóvia.

Acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome

Francisco esteve na Polónia num mês de atentados na Europa, particularmente, em França, com o horrendo crime da semana passada que vitimou o padre Jacques Hamel, um sacerdote com 84 anos, assassinado na igreja de Saint-Etienne-du Rouvray, na periferia sul de Rouen.

No seu primeiro discurso na Polónia, podemos reconhecer um primeiro sinal de Francisco: às autoridades civis polacas e aos membros do Corpo Diplomático o Santo Padre falou da “boa memória” do país recordando “os cinquenta anos do perdão, mutuamente oferecido e recebido, entre os episcopados polaco e alemão” e também “a Declaração Conjunta entre a Igreja Católica da Polónia e a Igreja Ortodoxa de Moscovo”.

Em particular, e de maneira incisiva, o Papa falou dos “desafios atuais”, tais como a economia, a relação com o meio ambiente e, especialmente, o complexo fenómeno migratório que exige sabedoria e misericórdia:

“Este último exige um suplemento de sabedoria e misericórdia, para superar os medos e produzir um bem maior. É preciso identificar as causas da emigração da Polónia, facilitando o regresso de quantos o queiram fazer. Simultaneamente é precisa a disponibilidade para acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome; a solidariedade para com aqueles que estão privados dos seus direitos fundamentais, designadamente o de professar com liberdade e segurança a sua fé.”

Deus que se faz pequeno, vizinho e concreto

Um outro sinal importante e de valor pastoral para as comunidades na Polónia e, um pouco por toda a Europa, foi a homilia proferida pelo Papa na quinta-feira, 28 de julho no Santuário de Jasna Gora, junto da Virgem Negra, por ocasião dos 1050 anos do Batismo da Polónia.

Partindo da passagem de S. Paulo que nos diz que “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher”, o Santo Padre acentuou que o modo como se realiza a entrada de Deus na história, ou seja, “nascido de uma mulher”, não é uma entrada triunfal, mas, simplesmente, “chega como uma criança através da mãe “na pequenez” e “na humildade” – ressaltou o Papa que citou o episódio das Bodas de Caná da Galileia onde “não há um gesto estrondoso realizado diante da multidão, nem uma intervenção que resolva um problema político flagrante, como a subjugação do povo à dominação romana. Pelo contrário, numa pequena aldeia, tem lugar um milagre simples, que alegra o casamento duma jovem família, completamente anónima”. “Um Deus que se põe à mesa connosco” e que nos salva fazendo-se pequeno, vizinho e concreto – afirmou Francisco:

“… Deus salva-nos fazendo-Se pequeno, vizinho e concreto.”

Referindo-se à Polónia, Francisco recordou ser este um país com uma “história, permeada de Evangelho, Cruz e fidelidade à Igreja” e que toca a “ternura concreta e providente da Mãe de todos”:

“Na vida de Maria, admiramos aquela pequenez amada por Deus, que «pôs os olhos na humildade da sua serva» e «exaltou os humildes» (Lc 1, 48.52). E nisso tanto Se deleitou, que d’Ela Se deixou tecer a carne, de modo que a Virgem Se tornou Progenitora de Deus, como proclama um hino muito antigo que há séculos Lhe cantais. A vós que ininterruptamente vindes ter com Ela, acorrendo a esta capital espiritual do país, continue a Virgem Mãe a mostrar o caminho e vos ajude a tecer na vida a teia humilde e simples do Evangelho”.

Oração e silêncio em Auschwitz e Birkenau

Foi num passo lento, meditativo e orante que o Papa percorreu os lugares da memória dos horrores: os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau.

Foi assim que Francisco quis visitar estes dois campos de extermínio humano na sexta-feira dia 29 de julho. Em Auschwitz o Papa encontrou sobreviventes, deixou uma vela junto do muro onde os prisioneiros eram fuzilados e rezou na cela onde morreu S. Maximiliano Kolbe, padre franciscano que se ofereceu para morrer no lugar de um pai de família em 1941. Em Birkenau o Santo Padre cumprimentou vinte e cinco “Justos entre as nações”, título conferido pelo Estado de Israel a pessoas que não são judias mas que arriscaram as suas vidas durante o Holocausto para salvar vidas de judeus. Também em Birkenau, Francisco fez uma oração silenciosa e deixou uma vela. Os sinais de Francisco foram simples mas eloquentes nos campos dos horrores: oração e silêncio em Auschwitz e Birkenau, para que se faça memória.

Um sinal essencial de Francisco: fraternidade

No final da tarde de sábado dia 30 de julho o Papa encontrou-se com mais de um milhão e meio de jovens na Vigília de Oração da Jornada Mundial da Juventude no Campus Misericórdia de Cracóvia e afirmou que não nascemos para vegetar mas para mudar o mundo. Francisco declarou que a resposta a um mundo em guerra é a palavra fraternidade.

O Santo Padre no seu discurso convidou os jovens a darem as mãos pois “é mais fácil construir pontes do que levantar muros”.

“Sabeis qual é a primeira ponte a construir? Apertarmos as mãos. Força, fazei-o agora. É a ponte humana, o modelo. Que possam aprender a faze-lo os grandes deste mundo” – afirmou Francisco.

Eram tantas as mãos apertadas na Vigília da JMJ de Cracóvia em sinal de comunhão e reconciliação. O Papa atravessou a Porta da Misericórdia e fez um forte apelo aos jovens, provenientes de países e culturas diferentes, para caminharem pelos caminhos de Deus e contagiarem de alegria o mundo:

“ Pergunto-vos: quereis ser jovens adormecidos e atordoados? Quereis que outros decidam o futuro por vós? Quereis lutar pelo vosso futuro?”

Francisco convidou os jovens para a ‘escola da misericórdia’ para mudarem o mundo e com Cristo vencerem o mal vivendo em fraternidade:

“… não nos vamos pôr a gritar contra alguém, não queremos vencer o ódio com o ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror. E a nossa resposta para este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade…”

Oração, primeiro chat de cada dia

Domingo, 31 de julho de 2016, Missa conclusiva das Jornadas Mundiais da Juventude no Campus Misericordiae de Cracóvia. Na sua homilia o Papa disse aos mais de um milhão e meio de jovens que as JMJ “continuam amanhã, em casa” e exortou-os a dizerem não ao doping do sucesso a todo o custo e à droga de pensarem só em si mesmo e nas próprias comodidades.

O estímulo da homilia foi o Evangelho de S. Lucas que no seu capítulo 19 nos conta o encontro de Jesus com Zaqueu, cobrador de impostos e colaborador dos ocupantes romanos. Destaque especial para as palavras de Jesus a Zaqueu que parecem ditas de propósito para nós hoje:

“«Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa». Jesus dirige-te o mesmo convite: «Hoje tenho de ficar em tua casa». A JMJ – poderíamos dizer – começa hoje e continua amanhã, em casa, porque é lá que Jesus te quer encontrar a partir de agora. O Senhor não quer ficar apenas nesta bela cidade ou em belas recordações, mas deseja ir a tua casa, habitar a tua vida de cada dia: o estudo e os primeiros anos de trabalho, as amizades e os afetos, os projetos e os sonhos. Como Lhe agrada que tudo isto seja levado a Ele na oração! Como espera que, entre todos os contactos e os chat de cada dia, esteja em primeiro lugar o fio de ouro da oração! Como deseja que a sua Palavra fale a cada uma das tuas jornadas, que o seu Evangelho se torne teu e seja o teu «navegador» nas estradas da vida!”

Desta forma, nesta 15ª Viagem Apostólica, Francisco deixou sinais muito concretos e objetivos para a vida da Igreja na Polónia e também para todos os países que acompanharam as mensagens do Santo Padre e, em particular, para os jovens de todo o mundo através do grande encontro de Cracóvia que foram as Jornadas Mundiais da Juventude.

Em síntese, podemos, assim, reconhecer os seguintes sinais do Papa na Polónia:

- Francisco apelou ao acolhimento de refugiados no seu discurso às autoridades polacas;

- Na Missa em Czestochowa Francisco afirmou que Deus faz-Se pequeno, vizinho e concreto;

- Silêncio e oração foram os sinais de Francisco através da comunicabilidade dos gestos na sua visita a Auschwitz e Birkenau;

- A fraternidade e a oração foram os fortes sinais de Francisco para a caminhada a empreender pelos jovens a partir das Jornadas Mundiais da Juventude de Cracóvia.

“Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”.

“Sal da Terra, Luz do Mundo” é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)








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