Laudato Si, livro de cabeceira da elite econômica e política francesa


Paris (RV) - O jornal francês sobre economia Les Echos entrevistou cerca de 200 líderes do âmbito político e econômico na França, para saber quais eram seus livros de cabeceira.

Para saber quais são os livros que inspiram tomadas de decisão desta verdadeira elite política e intelectual francesa, foi feita a pergunta: "Em um mundo instável, imprevisível e complexo, que livros poderiam nos ajudar a compreender e agir?".

Entre os vinte livros mais citados, estão desde clássicos como “A arte da guerra", de Sun Tzu, ou Ensaios, de Michel de Montaigne, até obras de atualidade sobre a revolução informática e suas consequências na organização dos negócios, a economia, as últimas crises financeiras, passando por reedições de autores consagrados (Primo Levy, Stefan Zweig), livros de história ou biografias de empreendedores.

Laudato Si

A grande surpresa, no entanto, foi a presença do Papa Francisco na lista. De fato, a  Encíclica Laudato Si ocupa o 9º lugar entre os títulos mais citados por personalidades políticas e empresariais da França

"Um Papa argentino de 79 anos critica vigorosamente o sistema econômico atual e resulta ser um dos autores mais citados pelo establishment francês”, escreveu a Les Echos ao comentar o resultado da pesquisa.

“Quem poderia acreditar! Em particular, é a Laudato Si, redigida em 2015, a que marcou os espíritos. Um texto de 192 páginas em que o Papa faz um chamado para salvaguardar nossa "casa comum". Fustiga nosso modelo econômico e social baseado no consumismo extremado, nossa 'cultura do descarte'. Fala da dívida ecológica que o Norte tem com o Sul, da falta de acesso à água potável, da perda da biodiversidade. E invoca a ideia de "decréscimo”".

"O Cardeal Bergoglio não é economista - avalia o texto da Les Echos - não cita cifras, nunca apoia suas análises em teorias. Tudo vem de sua experiência de pastor em Buenos Aires, em contato com os pobres. Seu desejo? Instaurar uma "ecologia humana", escutar "tanto os gritos da terra, como dos homens". Laudato Si teve uma repercussão especial na véspera da Conferência de Paris sobre o clima (...). Outros textos citados do Papa Francisco são O nome de Deus é misericórdia e a Alegria do Evangelho".

A Laudato Si é recomendada, por exemplo, por Pierre-André de Chalendar (da multinacional Saint-Gobain, especializada em engenharia de materiais) e pela Deputada Nathalie Kosciusko-Morizet, ex-Ministra de Ecologia, Desenvolvimento Sustentável, Transporte e Habitação.

Mesmo que a inclusão de textos de Bergoglio possam surpreender num primeiro momento, duas tradições francesas poderiam explicá-la: por um lado a vigência do catolicismo francês (muito frutífero, em especial no plano das ideias) e por outro, a força que teve neste país a ideia de um capitalismo social, em contraposição ao outro, considerado "selvagem".

Basta recordar o já clássico ensaio de Michel Albert, Capitalismo contra capitalismo, que postula a existência de um modelo "renano" ou de uma "economia social de mercado", oposta ao ultra liberalismo, porém respeitosa dos mecanismos de mercado, que seria a de países como França e Alemanha.

 

(Je/infobae)








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