Padre Lombardi: Papa indica aos jovens Jesus como resposta


Cracóvia (RV) – A sexta-feira do Papa Francisco foi vivida intensamente, marcada por fortes emoções com a visita à Auschwitz-Birkenau e ao Hospital Pediátrico, e a Via Sacra com os jovens. De fato, neste dia, o Papa tocou a dor do mundo.

Eis os comentários a este respeito do Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi:

“Evidentemente, uma pessoa que pela primeira vez vai em um Campo de Extermínio como Auschwitz e Birkenau, não pode que não ficar abalada e chocada. É por isto que o Papa, nas duas breves linhas deixadas, escreveu: “Perdão Senhor, por tanta crueldade”. É algo de inimaginável o que ocorreu nestes Campos e para uma pessoa que tem na sua vida precisamente a missão de ser o mestre da Igreja e da humanidade – refletindo no sentido mais profundo das coisas, da vida, da morte da existência, da vocação de cada criatura diante de Deus – o encontro com uma manifestação assim assustadora – quase absoluta – do mal, não pode que não ser profundamente chocante. Por isto acredito que a escolha que o Papa fez de viver esta manhã no silêncio e pedindo o dom das lágrimas, foi muito oportuna, porque aqui as palavras servem menos, realmente, e o Papa soube acolher, prever e depois viver no modo mais apropriado. Ao mesmo tempo – e me parece que o desenvolvimento do dia demonstrou isto -  também diante de um mal assim perturbador, na atitude de fé, na abertura a Deus, se encontra depois também algum caminho de luz. O Papa, continuou o dia com o encontro com o sofrimento das crianças – outra pergunta à qual ele sempre diz não saber responder como homem – para chegar, por fim, à Via Sacra, ao encontro com a Cruz do Senhor, a sua contemplação, onde se começa a entender que Jesus, no final, é a resposta, Jesus Crucificado, Jesus que carrega sobre si e compartilha o sofrimento do mundo é o caminho para encontrar as respostas, que também são, no final das contas, as respostas de Jesus na Cruz, uma resposta que não é feita de muitas palavras, mas de entrega ao Mistério de Deus em uma perspectiva que é a de morrer dando a própria vida pelos outros, que depois para nós se resolve também na resposta da vida e da ressurreição. Portanto, esta vida e esta ressurreição são testemunhadas nas obras de misericórdia, de caridade, que se  tornam o amor mais forte que o ódio, a vida mais forte que a morte, traduzida também na concretude da vida cotidiana. Assim, me parece um dia extremante rico e extremamente central. O Papa, que é muito realista, não teve medo de dizer aos jovens, já desde o primeiro momento em que se dirigiu a eles: “Olhem que a realidade é feita do mal e do bem, é feita de sofrimento, é feita de resposta no amor que pode dar alegria e esperança”. Portanto, estas duas dimensões juntas estão sempre presentes, para não seguir por espiritualismos desencarnados ou para não enganar os jovens que devem, pelo contrário, saber em que mundo vivem e com o que devem se defrontar: coisas que tem a ver com experiências extremamente duras e trágicas que estão também ao nosso redor, como estes conflitos que nos rodeiam, manifestações de ódio e com o qual devemos nos confrontar, mas não devemos nos assustar por isto. Olhando para a Cruz de Cristo encontramos a origem de uma luz e de uma coragem que nos permitirá depois viver no serviço e na doação, e portanto, responder eficazmente, mesmo ficando com os pés no chão, neste caminho que nunca será perfeito, porém, respondendo eficazmente e em uma perspectiva de vida e de ressurreição àquele que é o terrível mal do mundo do qual hoje fizemos uma experiência realmente profunda”.

RV: O Papa fez referências à presença do bem, mas também do mal na vida, mesmo dos jovens, na primeira aparição na janela do arcebispado, na terceira e nesta última. Especialmente esta última vez, como um sinal do quanto tenha sido tocado por esta visita a Auschwitz e Birkenau, sublinhou o quanto esta violência continua, talvez de outras formas, mas continua. E deu exemplos muito claro, numa linguagem bem crua, poderíamos assim dizer...

“Sim, certamente. Eu me permito dizer que a experiência dos Campos de Concentração nazistas tem algo de realmente terrível, que nos deixa sempre sem palavras cada vez que voltamos a contemplar, porque uma tragédia sistemática, intencional, calculada, preparada, de milhões de pessoas, uma após outra, é algo realmente assustador. Porém o Papa tem toda a razão ao falar do absurdo que é a morte dos inocentes, sem nenhuma razão, que encontramos aos nosso redor continuamente, o absurdo de seguir os próprios interesses vendendo armas que acabam matando pessoas às centenas, milhares, é algo realmente absurdo. Assim, neste sentido, o fato da crueldade da presença do mal e das interrogações que se colocam, nisto o Papa tem perfeitamente razão em dizê-lo e tem plena razão de nos fazer ver também no concreto, ao nosso redor, as condições nas prisões, que evocam todas as forma de cultura do descarte, esta raiz do nosso não-respeito pelo outro e da negação da dignidade da pessoas é a mesma que levou às formas assustadoras e chocantes também de destruição dos Campos de Concentração. Portanto, neste sentido, é verdade que a lição tem a sua atualidade, porque infelizmente o mal continua a existir e as causas do mal e a sua presença na nossa história e na nossa vida, contra as quais devemos combater, são sempre as mesmas”.

 

(JE/AG)








All the contents on this site are copyrighted ©.