Silêncio do Papa em Auschwitz "constroi uma ponte sobre as misérias humanas", diz Pe Spadaro


Cracóvia (RV) – Deixar uma mensagem com um silêncio que se faz oração. Fiel à sua intenção, o Papa Francisco realizou sua lenta peregrinação de dor e de memória entre os arames farpados de Auschwitz e Birkenau.

Padre Antonio Spadaro, Diretor da revista dos jesuítas “Civiltà Cattolica”, fala do silêncio de Francisco e da força universal desta sua “palavra muda”:

“Sim. A mensagem do Papa Francisco foi o silêncio; foi também um pequeno bilhete que ele deixou escrito, pedindo ao Senhor piedade: “Senhor, tem piedade de Teu povo, perdoa esta crueldade”. Pediu perdão pelo povo, portanto, não lavou as mãos diante desta responsabilidade. Pediu, portanto, como pastor, perdão a Deus por todo o povo. Mas, sobretudo, continuou o que Bento XVI havia dito: diante desta tragédia ele, como Papa alemão, havia dito: “Faltam palavras”. Assim, Francisco utilizou  isto. Quis, assim, realizar toda a sua visita em completo silêncio. Devo dizer que se criou ao redor dele uma atmosfera de grande concentração”.

RV: O silêncio, mas também tantos gestos. Tantos gestos pequenos e grandes. Sobretudo era tocante o encontro, a ternura também aqui com as poucas palavras, com os dez sobreviventes do Holocausto...

“Disse uma palavra a cada um, ouviu, saudou, mas também viveu todos os momentos com grande lentidão, com grande concentração. Isto tocou muito. Isto é, não houve pressa, não houve formalidade ou oficialidade. A sua entrada foi muito lenta, é como se tivesse sido uma longa meditação. Realmente, tocou a todos”.

RV: Também na cela de São Maximiliano Kolbe, o Papa permaneceu em oração silenciosa. Um sinal também para dizer que em um lugar de um horror assim inaudito existe uma luz, existe uma possibilidade, uma esperança....

“Um homem que deu a sua vida pelos outros. Portanto foi um mártir, pois deu a vida por uma outra pessoa: esta é a luz, este é o gesto que o Papa Francisco quis acolher no silêncio, viver no silêncio, mas que é absolutamente eloquente especialmente hoje, em um momento tão difícil para a história do mundo onde vemos acesas guerras, tensões que parecem inextinguíveis. Assim, o gesto de Maximiliano Kolbe, dar a vida pelos outros, é um gesto a ser acolhido no silêncio, com respeito e com a nossa generosidade”.

RV: Qual a mensagem que o Papa pode dar com esta visita, precisamente em um contexto como este, com a violência disseminada em todo o mundo e na Europa, de uma forma um tão inesperada?

“Nós estamos assistindo a uma Jornada Mundial da Juventude que é uma construção contínua de pontes. Nós temos jovens que vêm de todas as partes do mundo e que juntos estão abatendo muros das diferenças, construindo pontes entre eles. Este gesto que o Papa viveu hoje em Auschwitz, vivido no silêncio, também é  uma forma de ponte, e constrói uma ponte sobre as misérias humanas, sobre a crueldade, a impossibilidade – até mesmo – de reconciliar-se. O Papa disse que a acolhida que é necessária ter, pode superar também a inimizade, a divisão, até mesmo a crueldade. Então, também este silêncio foi uma ponte, e devo dizer também que o que tocou muito diante do muro dos fuzilamentos, foi o silêncio e o seu tocar com a mão aquele muro. É exatamente o mesmo gesto que ele fez em Belém junto ao muro. É um gesto terapêutico e podemos dizer um silêncio diante das tragédias que estamos vivendo no mundo de hoje”.

 

(JE/AG)








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