Não é guerra de religiões: mundo árabe aprecia palavras do Papa


Cidade do Vaticano (RV) - As palavras do Papa Francisco aos jornalistas (no voo para Cracóvia) sobre o bárbaro assassinato do sacerdote francês Jacques Hamel, tiveram ampla repercussão. O mundo está em guerra, mas "não é uma guerra de religiões", foi a advertência do Pontífice.

A condenação deste crime hediondo veio também do mundo islâmico. A Rádio Vaticano pediu ao jornalista da Rainews, Zouhir Louassini - especialista em mundo árabe - uma reflexão sobre a importância e a repercussão do discurso do Papa:

"Não é uma guerra de religiões. Agora estava lendo também nos jornais árabes, que citaram as declarações do Papa e vi também a reação das pessoas nas redes sociais. Todos estão de acordo com o Papa".

 RV: O Cardeal Arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, considera que os dois atentadores deste último episódio de violência na França, se esconderam por trás da religião para mascarar seus projetos de morte. Na sua opinião, existe um uso instrumental da religião?

"Existe uma parte - o Estado Islâmico ou outros - uma minoria que continua a interpretar o Islã como bem entende, que busca usá-lo, como as ideologias que normalmente usam para defender seus interesses. A coisa mais importante, porém, neste momento, é que o discurso do Papa - na minha opinião - foi também um discurso muito útil, porque a resposta que estou vendo no mundo árabe - quando leio estas declarações - é muito positiva. As pessoas sublinham o fato de que finalmente existe uma pessoa que entendeu o que está acontecendo realmente. Assim, de fato, pensam a maior parte dos muçulmanos. As pessoas, sobretudo as pessoas que vivem na Europa, querem viver, querem melhorar a sua vida: os interesses são outros, não sair por aí matando as pessoas. Como a responsabilidade é individual, não vejo porque toda a comunidade deva sentir-se sob acusação".

RV: O Grão Imame de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayyeb, fala de terrorismo, dizendo que os autores deste bárbaro ataque despojaram-se dos princípios tolerantes do Islã, que prega a paz. Também o Presidente palestino, Mahmoud Abbas, em uma carta enviada ao Papa, condena qualquer justificativa para estes atos que usa o nome da religião. O Estado Islâmico, pelo contrário, deseja que se fale de guerra de religiões. Por que faz este jogo?

"Fazem o jogo, porque é o que estão procurando fazer. Existe uma armadilha. Em um artigo no L’Osservatore Romano, eu insisti no fato de que é necessário ler "a leitura deles", porque assim se pode entender o que eles querem. Na "leitura" deles, eles são claros. Existe um livro que eu chamo de "Mein Kampf" dos jihadistas, onde fica clara a estratégia deles, que é criar o caos e pretende que os muçulmanos moderados tornem-se radicais. Eles, sequer conhecendo o 'abc' da cultura islâmica, permitem-se falar em nome do Islã. Nós nos encontramos diante deste fenômeno: pessoas que conhecem pouco a religião islâmica, não sabem inserir a história do Islã em seu contexto histórico, mas se outorgam o direito de falar em nome do Islã, em nome dos muçulmanos e têm somente uma coisa "fixa" na sua cabeça: criar o caos.  É certo que alguém ganha com isto e certo - como sempre - que as guerras se fazem por interesse".

(JE)








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