Cardeal Urosa: estamos com o povo que sofre


Caracas (RV) -  “Garantir ao povo o direito de se alimentar, permitir a entrada de medicamentos do exterior e buscar uma solução para a grave crise social e econômica que afeta o povo venezuelano.”

Este foi o apelo lançado pelos bispos da Venezuela ao Governo do  Presidente, Nicolás Maduro, no final da assembleia do episcopado, realizada este mês. O Arcebispo de Caracas, Cardeal Jorge Urosa Savino, foi entrevistado pela nossa emissora.

Cardeal Urosa: “Em toda nossa assembleia, nós bispos venezuelanos, nos pronunciamos sobre a situação do país e o fazemos há mais de 40 anos. Claramente, neste momento, o nosso documento indicou uma situação extremamente grave, porque se produziu uma enorme falta de alimentos, e ao mesmo tempo, um custo elevado dos mesmos, por causa da inflação que chegou a 400% em relação ao ano passado. Portanto, a situação é extremamente grave. Neste sentido, convidamos o Governo Federal a resolver esta problemática e garantir realmente ao povo venezuelano o direito de se alimentar.”

Neste sentido, recentemente, Dom Padrón disse que tanto o Vaticano quanto o Papa estão acompanhando com muita atenção a situação na Venezuela, mas o Governo não ouve ninguém...

Cardeal Urosa: “Sim, é verdade. O Governo não ouve o Santo Padre e muito menos o episcopado venezuelano. Há muito tempo, nós, com um comportamento positivo e respeitoso, apresentamos os problemas, os erros e as soluções, mas o Governo não ouve. Este é um problema muito sério. É um pecado, pois a situação do país só piorou cada vez mais.”

Recentemente, também os médicos venezuelanos solicitaram a mediação da Igreja e do Papa a fim de pedir ao Governo para que faça entrar os medicamentos essenciais no país...

Cardeal Urosa: “Sim e infelizmente o Governo não escuta nem mesmo este pedido. Há vários meses a Igreja está pedindo ao Governo a autorização para que cheguem os produtos, tanto  alimentos quanto medicamentos, que muitas pessoas no exterior, pertencentes a organizações não governamentais ou organizações eclesiásticas, querem enviar. O Governo, porém, nega constantemente esta autorização. É algo deplorável e nós, naturalmente, não entendemos quais sejam as razões do Governo.”

Por outro lado, o Governo considera os membros da Igreja golpistas e nas últimas semanas foram agredidos dois seminaristas. O que o senhor nos diz sobre a situação da Igreja neste contexto?

Cardeal Urosa: “A agressão aos seminaristas foi um fato, podemos dizer, casual e deplorável da parte de um grupo de pessoas armadas que, em Mérida, procuravam impedir uma manifestação da oposição. Infelizmente, os seminaristas que não se apresentavam como tais, porque usavam roupas civis, passaram por ali e foram agredidos. Um fato deplorável! Agora, o que realmente incomoda é que o Governo ao invés de se interessar, ouvir, considerar ou estudar as propostas que nós bispos venezuelanos fazemos, simplesmente ataca os bispos com argumentos absurdos. Ao invés de estudar os problemas que nós levantemos, nos atacam e nos qualificam como golpistas. Isto é totalmente falto. Nós, de nenhuma forma, participamos de conspirações contra o Governo Federal.”

De fato, observando os vários comunicados feitos pelo episcopado venezuelano, nota-se a postura positiva da Igreja em favor do diálogo...

Cardeal Urosa: “Este sempre foi o nosso comportamento. Neste momento, pedimos ao Governo para que atenda não somente ao pedido do episcopado, mas também de um grande número de venezuelanos que quer soluções democráticas para a crise política, de alimentos e medicamentos que o país sofre atualmente.  Esperamos que o Governo analise esta proposta. Nós temos sempre um comportamento positivo, com uma mão estendida para ajudar a resolver os problemas do povo venezuelano.”

Para concluir, no comunicado se fala de um momento de grande tensão social...

Cardeal Urosa: “Sim, certo, pois por causa da penúria e da escassez de alimentos, o povo venezuelano está vivendo com muita angústia e há várias manifestações de protesto e, consequentemente, atos violentos como saques a lojas e mercearias. As pessoas se sentem aflitas por causa de uma situação que Governo não está dando solução. Encontramo-nos num momento muito crítico e esperamos que a situação atual do país não piore ainda mais.” (MJ)

 








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