Pronta 'Positio' da Causa de Beatificação de Claverie e seus 18 companheiros


Paris (RV) - "A causa de beatificação dos 19 religiosos e religiosas mortos na Argélia nos anos noventa completou uma nova importante etapa: a da Positio, que será entregue até o final deste mês de julho à Congregação da Causa dos Santos". Foi o que antecipou o Padre Thomas Georgeon, monge trapista e Postulador da Causa oficialmente definida de "Dom Pierre Claverie e dos seus 18 companheiros".

Em 2013, Padre Georgeon colheu o testemunho do Irmão Marista Giovanni Bigotto, que havia iniciado aquele longo trabalho que levou à redação de quase sete mil páginas. Um documento importantíssimo que repassa a vida entregue dos 19 homens e mulheres que, nos anos obscuros do conflito civil argelino, escolheram permanecer ao lado de seus "irmãos muçulmanos".

Por ocasião das celebrações do grande Jubileu dos Testemunhos de Fé no Coliseu, em 7 de maio do ano 2000, o então Arcebispo de Argel, Dom Henri Teissier, havia recebido o pedido de algumas Congregações e familiares dos religiosos e religiosas assassinados, para abrir uma Causa de Beatificação.

De fato, o drama de suas mortes e o seu testemunho tiveram e continuam a ter um impacto considerável, que supera as fronteiras da Igreja. Neste sentido, tornou-se imperativa a necessidade de abrir uma Causa comum que reunisse todos os 19 mártires, ícones da identidade da Igreja na Argélia, a serviço do povo ao qual foi enviada.

Existem muitos pontos em comum entre eles. Cada um foi um verdadeiro pastor que conhecia e amava as próprias ovelhas, a ponto de sacrificar a vida por elas. Viveram e foram mortos pela fidelidade evangélica, compartilhando as suas existências com os argelinos.

A intensidade de seus testemunhos se concretiza em torno a alguns temas, como a fé profunda, na qual está radicado o desejo de ser rosto de Cristo no mundo muçulmano, rostos fieis e perseverantes; o amor por aquele país e pelo seu povo, sobretudo pelos menores, além de um grande respeito pela fé dos muçulmanos. Aliado a isto, um forte sentido de pertença à Igreja da Argélia.

A dimensão profética de suas vidas continua a falar à Igreja de hoje. Não por nada, há 20 anos de suas mortes, a fama de santidade deles é muito difundida e supera os limites da Igreja.

A mensagem deles comprova que uma convivência fraterna e respeitosa entre as religiões é possível. No mundo muçulmano, é o Evangelho da paz que é anunciado e testemunhado, sem que necessariamente se sobreponha ao outro. O que mostra a necessidade, ainda hoje, de se aceitar ser desarmados para combater o mal que tece sua teia no mundo. O melhor modo para vencer a violência é o encontro com o outro, por meio da amizade e do diálogo.

A mensagem destes mártires é muito atual, numa época em que parece estar se acentuando o choque entre o mundo islâmico e cristãos. Mas, como dizia Dom Claverie, é precisamente nos locais de "fratura" que os cristãos são chamados e estar presentes.

O prefácio do livro "Tibhirine, a herança", foi escrito pelo Papa Francisco, o que não deixa de ser uma forma de reconhecimento pelo testemunho e pela santidade destes religiosos.

Em 2015, ao receber os bispos norte-africanos em visita ad limina, Francisco havia usado palavras muito fortes: "Cabe à vocês desenvolver esta herança espiritual, primeiro entre os vossos fieis, mas também abrindo-a a todos".

Estes 19 mártires fizeram escolhas pessoais e comunitárias, relativas a esta presença: viver a sua missão eclesial no mundo muçulmano, permanecer fiel a Cristo, ao seu apelo, mas também ao lugar em que haviam lançados raízes e aos seus amigos muçulmanos. Escolheram viver a interculturalidade e a interreligiosidade, sendo um exemplo para o nosso tempo.

 

(JE/Anna Pozzi)








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