Pe. Lombardi: continuo servindo a Igreja, religiosos não se aposentam


Cidade do Vaticano (RV) - A nomeação do novo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke, cujo anúncio foi dado esta segunda-feira (11/07), teve ampla repercussão na imprensa internacional.

Jornalista estadunidense, o novo porta-voz vaticano assume a partir de 1º de agosto, sucedendo assim ao religioso jesuíta Pe. Federico Lombardi, que, desde o momento do anúncio da conclusão deste seu ofício, tem recebido a gratidão de tantas pessoas, jornalistas, e não somente pelo extraordinário serviço de porta-voz vaticano.

Entrevistado pela Rádio Vaticano, o sacerdote jesuíta – que também foi diretor geral da nossa emissora – nos fala sobre os sentimentos com os quais está vivendo este momento, e volta aos momentos mais significativos de seus dez anos à frente da Sala de Imprensa da Santa Sé:

Pe. Federico Lombardi:- “Sinceramente, para mim não há nenhuma surpresa! Para mim era absolutamente claro que mais cedo ou mais tarde esse ofício deveria se concluir. Não somos eternos... Já havia mais vezes manifestado ao Papa, também durante estes três anos, a plena disponibilidade a fazer esse serviço que podia fazer, bem como a toda e qualquer decisão tomada em vista de uma sucessão nessa tarefa.”

RV: Em entrevista concedida à nossa emissora, Burke fala de temor em relação ao ofício que o aguarda. Como comenta essas palavras?

Pe. Federico Lombardi:- “É sempre compreensível um pouco de temor – digamos – reverencial diante de um serviço árduo, que diz respeito à pessoa do Papa e à vida da Igreja. Mas todos sabemos ter limites e se fomos chamados a desempenhar uma função, temos confiança de que o Senhor nos ajude a realizá-la e de que quem nos atribuiu tenha pensado bem a quem a estava confiando. Por conseguinte, devemos sentir-nos num clima de confiança e de esperança. Naturalmente, muitas coisas se aprendem... Também eu, dez anos atrás, absolutamente não conhecia tantas coisas desse serviço e, portanto, podia ter incertezas ou dificuldades para encontrar as referências justas ou as informações necessárias. Depois, se caminha, se percorre a estrada, se aprende, se assume também uma maior segurança e tranquilidade na realização do próprio trabalho. Portanto, esse é um caminho normal de todo tipo de ofício: não se pode esperar começar contando com todas as experiências, conhecimentos e capacidades. É preciso percorrer o caminho. Penso que tanto para Greg Burke, quanto em particular também para Paloma Garcia Ovejero, que começa tão jovem, seja uma bela experiência na qual certamente serão ajudados. Sempre encontrei uma grandíssima disponibilidade da parte de todos, no mundo vaticano, na Cúria para as necessidades de informações ou de conselhos que eram solicitados. Não nos movemos num mundo em que as pessoas nos são hostis: absolutamente não! Também no mundo jornalístico, ao qual nossos dois colegas deverão servir, encontram muita simpatia – me parece – já de início e muita estima e confiança. Portanto, podem estar totalmente tranquilos.”

RV: Em dez anos, o senhor teve o privilégio de seguir de perto o Pontificado de Bento XVI, depois, estes primeiros anos do Pontificado do Papa Francisco. Quais os momentos mais difíceis, mais duros, que viveu como porta-voz vaticano?

Pe. Federico Lombardi:- “Todos podem recordar – inclusive por parte da cobertura jornalística – quais podem ter sido os momentos críticos vividos com um pouco mais de tensão... O que digo, em geral, é que a experiência um pouco mais dolorosa que pude viver foi a de seguir e participar de todas as vicissitudes do debate, inclusive público, sobre as questões dos abusos sexuais: uma coisa naturalmente muito dolorosa. Participei com profunda intensidade, consciente de que era o caminho de purificação da Igreja, do qual o Papa Bento XVI tanto nos falou e que devíamos percorrer; procurei inclusive dar um pouco a minha contribuição, em colaboração com outros, a fim de que se dessem passos avante no sentido também da clareza, da transparência, da verdade na abordagem desses temas, de modo tal que efetivamente essas coisas não mais se repetissem ou pelo menos que pudessem ser enfrentadas no modo mais correto, tempestivo e profundo desde o início. Também outros momentos, como os da apropriação ilícita de documentos reservados ou de tensões internas no Vaticano, foram momentos naturalmente também de certo sofrimento: não por serem difíceis do ponto de vista profissional – dizer a verdade e dizer as coisas que tem a dizer não é fácil –, mas a questão é que aí se vive também com um certo sofrimento, mas com a consciência de que, também na dimensão da comunicação, se percorre o caminho para melhorar, para responder, para trilhar a estrada rumo à verdade e rumo a uma visão mais adequada, mais completa dos problemas e mais serena. Ajudando também os colegas e o mundo circunstante a ter essa compreensão da humanidade, inclusive dos limites; mas também sempre da missão positiva que a Igreja tem, apesar das fraquezas humanas de tantos que fazem parte dela.”

RV: Como se sente quando pensa que a partir de 1º de agosto seu celular não será mais bombardeado de mensagens, solicitações, telefonemas a qualquer hora do dia?

Pe. Federico Lombardi:- “Creio que muda o tipo de serviço que se realiza, mas não penso absolutamente em me aposentar! Essa palavra não existe para um religioso, que busca estar sempre à disposição do serviço de Deus e da Igreja em toda a sua vida, todos os dias. Por conseguinte, se não serão os telefonemas de jornalistas que pedem uma resposta sobre uma questão urgente, provavelmente serão outras ligações ou outras relações, às quais se buscará responder com todo o coração.” (RL)








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