Pe. Spadaro: Armênia, etapa importante da diplomacia da misericórdia


Cidade do Vaticano (RV) - O diretor da prestigiosa revista jesuíta “La Civiltà Cattolica”, Pe. Antonio Spadaro, fez parte da comitiva do Pontífice em sua visita à Armênia realizada este final de semana (24 a 26 de junho). Tendo acompanhando de perto os eventos que marcaram esta 14ª viagem apostólica internacional do Papa Francisco, o religioso jesuíta – entrevistado pela Rádio Vaticano – nos diz quais imagem mais o impressionaram:

Pe. Spadaro:- “As imagens são muitas. Um gesto muito importante foi o momento de oração, silenciosa, no Memorial do genocídio: foi um momento sem palavras, mas de uma intensidade extraordinária! Certamente também muito me impressionou o encontro ecumênico na praça de Yerevan, repleta de pessoas que ouviam as palavras do Catholicós e do Papa, e que durante o pronunciamento do Papa – um discurso radicalmente centralizado na reconciliação – foi três vezes aplaudido.”

RV: A viagem do Papa Francisco à Armênia foi a segunda visita de um Pontífice ao primeiro país cristão da história. O Papa reiterou isso também num tuíte este domingo, na conclusão destes dias de visita: desse ponto de vista, que significado teve esta viagem?

Pe. Spadaro:- “Foi uma viagem da memória, onde, porém, a memória para o Papa Francisco não significa somente recordar os bons tempos passados ou, vice-versa, as tragédias, e permanecer fechados dentro deste clima de tragédia. Tem o significado de voltar às raízes espirituais de um povo, que teve grandes santos, grandes figuras, como Gregório de Narek; e este apelo às raízes foi muito preciso da parte do Papa, que quis também recordar passagens de textos destes grandes Padres, que eram um apelo à reconciliação e à paz. Em particular, por exemplo, um desses textos diz: “Senhor, não extermine nossos inimigos, transforma-os”. Este apelo não à violência, mas à transformação interior, foi o forte apelo desta viagem.”

RV: Do ponto de vista ecumênico, a impressão é de que o diálogo entre a Igreja católica e a Igreja apostólica armênia é cada vez mais consistente; inclusive o fato de o Papa ter sido hospedado por Karekin II, vivendo estes dias sob o mesmo teto, confirma isso. Realmente, uma das Igrejas orientais mais em sintonia com a Igreja católica...

Pe. Spadaro:- “Sim, e – diria – isso foi evidente. O Papa Francisco age como se fosse já em comunhão: há uma expectativa e esperança, voltada para o mais positivo possível. Estamos vendo que a função do Papa, neste momento, é singular: o Papado sempre foi um motivo de divisão entre os cristãos. E nesse momento, vemos que todas as figuras dos grandes líderes religiosos cristãos amam dialogar com ele e veem nele um ponto de unidade. Portanto, é um caminho traçado. Mas existe um segundo nível: o Papa Francisco disse com clareza que o ecumenismo não vale somente por si, mas também por seus efeitos e seus reflexos na sociedade: se os cristãos são unidos, esse testemunho torna-se um testemunho vivo porque cessam os conflitos.”

RV: O senhor já falou de “geopolítica da misericórdia”: nesse sentido, o que essa etapa representa?

Pe. Spadaro:- “Entra plenamente nessa lógica diplomática da misericórdia. A “diplomacia da misericórdia” significa que jamais se deve dar algo por perdido nas relações entre as pessoas, bem como entre os Estados, entre os povos e as nações. Significa, nesse caso, que não se deve dar por perdida a relação positiva entre turcos e armênios, mas toda a Região caucásica sabemos ser dividida por conflitos: inclusive o Azerbaijão, que também o Papa visitará, é outro momento e lugar de tensão com o Nagorno-Karabakh entre Armênia e Azerbaijão. Então, significa entender que na realidade nada deve ser considerado perdido. Essa viagem à Armênia é uma etapa importante da “diplomacia da misericórdia” iniciada pelo Papa Francisco.” (RL)








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