Pe. Lombardi: O Papa tocou o coração dos armênios


Yerevan (RV) – Na manhã deste segundo dia de sua visita à Armênia, o Papa rezou no Memorial que recorda os milhares de armênios mortos em 1915. No discurso às autoridades na sexta-feira, Francisco usou a palavra “genocídio” para caracterizar o massacre, não com a intenção de reabrir as feridas, mas para curá-las.

Entrevistado pela Rádio Vaticano, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, fala sobre o significado desta visita:

“Um momento muito tocante. É um local onde se vive intensamente a experiência também de sofrimento do povo armênio e o Papa se fez presente sem fazer discursos, mas rezando. Certamente também a dedicação que deixou no Livro de Ouro era muito expressiva de sua participação a esta tragédia do povo armênio, e da sua esperança de que, por meio das tragédias, se construa, porém, um futuro de paz. E foi bonito também o encontro com alguns descendentes das crianças que, órfãs, haviam sido acolhidas em Castel Gandolfo precisamente naqueles tempos do genocídio. Entre estes estava o irmão do Arcebispo Minassian, de Gyumri. É uma história que também é próxima a tantas pessoas que estão até hoje aqui presentes e ativas”.

RV: Na missa o Papa exortou os armênios a não deixarem-se abater pelas adversidades. Portanto, nesta visita existe um encorajamento a uma comunidade cristã muito provada em tantas ocasiões...também o terremoto, como foi recordado...

“Certo. A Missa foi um fato absolutamente histórico para a comunidade armênia católica e também para a cidade de Gyumri que acolheu o Papa com grande calor. Esta cidade foi atingida também recentemente pela tragédia do terremoto – foram cerca de 25 mil mortos somente na cidade, no grande terremoto de alguns decênios atrás – e a cidade está se recuperando; e a presença do Papa para uma grande celebração da qual participaram, naturalmente, todos os católicos que puderam vir, mas estavam presentes também diversos fiéis apostólicos – isto é, o bonito desta celebração é que foi a primeira celebração da história feita em uma praça, porque os armênios apostólicos não fazem as celebrações em público, e teve a participação dos fiéis das duas Igrejas principais e estava o Papa como celebrante, mas também uma cordial presença do Catholicos e de tantos representantes da Igreja Armênia Apostólica. Portanto, um momento de fé espiritual muito expressivo. E a homilia do Papa foi muito consistente: havia diversos temas, também de caráter espiritual – o tema da memória, que é muito caro ao Papa, como fundamento da experiência espiritual que se projeta depois ao futuro; o tema da fé, o tema da misericórdia, uma referência à grande riqueza da espiritualidade da Igreja Armênia, a figura de São Gregório de Narek em uma celebração extremamente rica de temas e muito contrita. Depois o momento do entusiasmo foi, em particular, quando foi feito o giro no papamóvel. Aqui o Papa fez subir sobre o papamóvel também o Catholicos Karekin e junto com ele passou no meio das pessoas. Foi um destes gestos simples, mas extremamente expressivos de um espírito de grande acolhida e de verdadeira fraternidade espontânea”.

RV: O que lhe tocou em particular nesta viagem, na relação entre o Papa e as pessoas da Armênia? O povo marca uma presença tão forte neste Pontificado…

“Aqui os católicos são uma pequena minoria: neste sentido, não é que a presença do Papa tenha atraído grandes massas, à exceção desta manhã com a Missa em Gyumri; e depois, esta tarde, teremos a celebração ecumênica na Praça da República de Yerevan, onde são esperadas dezenas de milhares de pessoas. Mas o que se verifica também aqui, como em outros lugares, é que o Papa Francisco tem um certo carisma, sem dúvida, de comunicação com as pessoas, por meio de seus gestos, as suas atitudes, a sua espontaneidade e a sua simplicidade, motivo pelo qual atrai, das pessoas comuns, um afeto e uma simpatia bastante excepcional: existe algo de carismático, realmente. E isto se percebe também aqui, como em tantos outros países de culturas longínquas, como a Coreia e assim por diante, que o Papa visitou e onde sempre conseguiu estabelecer uma relação de afeto profundo com o povo. Depois, o fato de que ontem, por exemplo, ele tenha usado a palavra “genocídio” espontaneamente para recordar o massacre dos armênios no século passado, é algo que tocou, suscitando uma notável gratidão por parte do povo armênio. Portanto, existem estes gestos, estes toques que estabelecem uma relação de simpatia profunda. E isto é inegável que esteja ocorrendo também nestes dias”.

(JE/AG)








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