2016-06-14 15:10:00

Doutrina da Fé: dons carismático e hierárquicos co-essenciais à Igreja


“A Igreja rejuvenesce” é o título da Carta da Congregação para a Doutrina da Fé publicada na manhã desta terça-feira (14/06), e dirigida aos Bispos do mundo inteiro. O documento é assinado pelo prefeito da Congregação, Card. Ludwig Müller, e pelo Secretário, o Arcebispo Luis Ladaria.

A Carta Iuvenescit Ecclesia fala da relação entre dons hierárquicos e carismáticos para a vida e a missão da Igreja. Os primeiros são aqueles conferidos pelo Sacramento da ordenação (episcopal, sacerdotal e diaconal), enquanto os dons carismáticos são livremente distribuídos pelo Espírito Santo.

Conexão harmónica e complementar, com obediência aos Pastores

Em especial, a IE se detêm sobre questões teológicas, e não pastorais ou práticas, que derivam da relação entre instituição eclesial e novos movimentos e agregações, insistindo sobre a harmónica conexão e complementaridade dos dois dons.

Em vista a uma “participação fecunda e ordenada” dos carismas à comunhão da Igreja, estes não devem se subtrair à “obediência à hierarquia eclesial” nem têm “o direito a um ministério autónomo”.

“Dons de importância irrenunciável para a vida e a missão eclesial”, portanto, os carismas autênticos devem ter “abertura missionária”, “necessária obediência aos Pastores” e “imanência eclesial”.

Não contrapor Igreja institucional e Igreja da caridade

Portanto, a “contraposição ou a justaposição” dos carismas com os dons hierárquicos seria um erro. De fato, não se deve opor uma Igreja “da instituição” a uma Igreja “da caridade”, porque na Igreja “inclusive as instituições essenciais são carismáticas”, e os “carismas devem se institucionalizar para terem coerência e continuidade”.

Deste modo, ambas as dimensões “concorrem conjuntamente para tornar presente o mistério de Cristo e a sua obra salvífica no mundo”.

Que a dimensão carismática nunca falte à Igreja

As novas realidades, portanto, devem alcançar uma “maturidade eclesial” que comporta a sua plena valorização e inserção na vida da Igreja, sempre em comunhão com os Pastores e atenta às suas indicações.

A existência de novas realidades, de facto – destaca a Carta – enche o coração da Igreja de “alegria e gratidão”, mas as chama também a “relacionar-se positivamente com todos os outros dons presentes na vida eclesial”, para que sejam “promovidos com generosidade e acompanhados com vigilante paternidade” pelos Pastores, “de modo que tudo concorra para o bem da Igreja e para a sua missão evangelizadora”.

“A dimensão carismática – lê-se ainda no documento – nunca pode faltar à vida e à missão da Igreja”.

Os critérios para discernir os carismas autênticos

Mas como reconhecer um dom carismático autêntico?

A Carta da Congregação evoca o discernimento, tarefa que é “de pertinência da autoridade eclesiástica”, segundo critérios específicos: ser instrumento de santidade na Igreja; empenhar-se na difusão missionária do Evangelho; confessar plenamente a fé católica; testemunhar uma comunhão real com toda a Igreja, acolhendo com leal disponibilidade os seus ensinamentos doutrinais e pastorais; reconhecer e estimar os outros componentes carismáticos na Igreja; aceitar com humildade os momentos de provação no discernimento; ter frutos espirituais como caridade, alegria, paz, humanidade; olhar para a dimensão social da evangelização, conscientes do facto de que “a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados não pode faltar numa autêntica realidade eclesial”.

O reconhecimento jurídico segundo o Direito canónico

Além disso, a IE indica outros dois critérios fundamentais a serem levados em consideração para o reconhecimento jurídico das novas realidades eclesiais, segundo as formas estabelecidas pelo Código de Direito Canónico: o primeiro é “o respeito pela peculiaridade carismática de cada agregação eclesial”, evitando “formas jurídicas forçadas” que “anulem a novidade”.

O segundo critério concerne ao “respeito do regime eclesial fundamental”, favorecendo “a inserção real dos dons carismáticos na vida da Igreja”, mas evitando que estes sejam concebidos como uma realidade paralela, sem uma referência ordenada aos dons hierárquicos.

Relação entre Igreja universal e Igrejas particulares é imprescindível

O documento da Congregação para a Doutrina da Fé evidencia ainda que a relação entre dons hierárquicos e carismáticos deve levar em consideração a “imprescindível e constitutiva relação entre Igreja universal e Igrejas particulares”. Isso significa que os carismas são oferecidos, sim, a toda a Igreja, mas a sua dinâmica “não se pode realizar sem estar ao serviço de uma diocese concreta”.

Não só: esses dons representam também “uma autêntica possibilidade” para viver e desenvolver a vocação cristã de cada um, seja esta o matrimónio, o celibato sacerdotal ou o ministério ordenado. Além disso, também a vida consagrada “se insere na dimensão carismática da Igreja”, para que a sua espiritualidade possa tornar-se “um recurso significativo” seja para o fiel leigo, seja para o presbítero, ajudando ambos a viver uma vocação específica.

Olhar para o modelo de Maria

Por fim, a IE convida a olhar para Maria, “Mãe da Igreja”, modelo de “docilidade plena à acção do Espírito Santo” e de “límpida humildade”: com a sua intercessão, se faz votos que “os carismas abundantemente distribuídos pelo Espírito Santo entre os fiéis sejam por estes acolhidos com docilidade e produzam fruto para a vida e a missão da Igreja e para o bem do mundo”.

(BS/bf)








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