2016-06-07 09:16:00

Sahara Ocidental: negociações ainda paralisadas


Teve lugar sábado (04/06), nos campos de refugiados sarauís na Argélia, a sepultura de Mohamed Abdelaziz, líder da Polisário (Frente para a Libertação do Sara Ocidental) e Presidente da autoproclamada República saharaui, região da antiga colónia espanhola anexada unilateralmente em 1975 por Marrocos .

Abdelaziz, originário de Marraquexe, morreu no passado dia 31 de maio num hospital da Argélia depois de uma longa doença. Para muitos observadores Abdelaziz era  considerado uma "pomba" por ter escolhido a via da diplomacia e da não-violência com o objectivo de chegar o mais rapidamente possível ao referendo para a autodeterminação auspicado pela ONU. Precisamente a intervenção das Nações Unidas, em 1991, levou ao cessar-fogo entre as partes.

Sobre as possibilidades de um novo impulso à solução negociada do contencioso do Sahara Ocidental, Luigi Serra, ex-professor de Língua e Literatura berbere e Decano da faculdade dos Estudos árabe-islâmico e do Mediterrâneo na Universidade Oriental de Nápoles, falou à RV:

É possível, mas é difícil ter certeza desse resultado. É possível porque, afinal,  Abdelaziz manteve contactos pacíficos desde 1972, e depois ainda mais desde 1982, ao ponto de merecer o apelido de "pomba". As perplexidades, a não certeza do sucesso e da conclusão positiva do percurso iniciado por Abdelaziz estão ligadas ao estado geral, agora, da política social e económica, já alterado pelas incursões do Boko Haram e outras manifestações adversas em todo o Magreb.

Em que ponto estão as negociações?

Na verdade, as negociações bilaterais estão numa fase de impasse. Dum lado e do outro, e mais frequentemente por parte de Abdelaziz, antes do seu falecimento, havia sinais de colaboração e disposição de querer resolver o problema. Por outro lado, havia garantias de querer dar autonomia à Frente Polisário. No entanto, nenhum passo foi feito para a realização do famoso referendo para a autodeterminação desejado pela ONU, mas que a própria ONU a partir de 1991 até hoje não conseguiu fazer passar. Esperemos que, perante a morte de Abdelaziz e do papel que assume Khatri Addouh, o actual presidente do Conselho Nacional, nesta sucessão de tragédias em todo o Norte de África – da Líbia ao Mali, o Níger, etc. – se possam encontrar a vontade política e a coragem para fazer uma mudança com esta passagem fundamental, que é o referendo

No dia 29 de abril o Conselho de Segurança das Nações Unidas prorrogou por um ano a missão de paz no Sahara Ocidental: como é a situação neste momento?

Da parte da Argélia, da Frente Polisário e do Marrocos, existe uma situação de clara paralisia, quase de consolidação das relações não-violentas que, interrompidas por vontade bilateral, e sobretudo por parte de Abdelaziz na altura e depois aceites por Marrocos, se estabeleceram até hoje. O risco grave é que a contaminação da violência por parte das forças que afligem a África do Norte, do Aqmi ao Boko Haram, a outras situações que já notoriamente se conhecem como dramáticas e, ainda por cima, um fenómeno muito importante que poderia fornecer os últimos golpes - refiro-me à distinção que agora se faz entre papel puramente religioso do Ennahda na Tunísia e a escolha de uma atitude laica na frente política – se possa comprometer toda a estrutura. Esta é a preocupação que mais nos interessa indicar.

Que previsões se podem fazer de uma resolução pacífica do diferendo sobre o Sara Ocidental?

As previsões, dados os vinte anos de não-agressão efectiva, e considerando por um lado o distanciamento da Argélia (que, como sabemos, tem apoiado a Frente Polisário desde o seu nascimento), e tendo em conta por outro lado a natureza dramática da situação geopolítica na Líbia, que não vai curar em tempo breve a dicotomia entre governo ocidental em Trípoli e outro em Tobruk, espera-se que daí se encoraje o potenciamento de esforços, para que pelo menos entre saharauis e Marrocos se encontre uma resolução do problema. E isto pelo menos para não transferir este mesmo problema às questões do Azawad berbere que no Mali e Níger estão a percorrer uma rota de instabilidade quase permanente. 

(BS)








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