Editorial: A dor das crianças


Cidade do Vaticano (RV) – Durante a última Audiência Geral de maio, o Papa fez um convite à oração pela Síria. O Papa citou os ataques que provocaram e continuam provocando a morte de pessoas inocentes. Francisco pediu o eterno repouso às vítimas, a consolação aos familiares e a conversão do coração dos que semeiam morte e destruição.

Na última quarta-feira, 1º de junho, tivemos um dia especial dedicado à oração por este país martirizado e pelas crianças sírias.

O Dia Internacional da Criança foi a ocasião para unir católicos e ortodoxos daquela terra, mas também homens e mulheres de boa vontade do mundo inteiro para rezarem pelas crianças daquele país.

Na Síria são quase 2 milhões e meio as crianças com menos de cinco anos em risco de desnutrição. É particularmente dramática, nestes dias, a situação de mais de 3.000 crianças presas junto com milhares de outras pessoas em um campo de refugiados perto de Damasco, onde foi imposto um assédio completo que impede a entrada na área de bens essenciais.

Na região de Aleppo, outros 1 milhão e 200 mil menores também vivem em condições dramáticas.

O apelo do Papa a não se esquecer das crianças sírias é uma voz que se levanta em meio a um coral cada vez mais reduzido de vozes que pedem o direito à dignidade dos pequenos.

É um dever de todos proteger as crianças, sobretudo aquelas expostas a um elevado risco de exploração, tráfico de seres humanos e guerras.

Portanto, o apelo do Papa é um chamado à responsabilidade dos adultos.

Um convite a todos, autoridades civis e religiosas a sacudirem e sensibilizarem as consciências diante do drama dos pequenos que padecem a indiferença dos adultos.

Um apelo, um grito, para que seja restituído às crianças o direito de ser criança e ter os seus afetos. Um grito em direção também daquelas crianças que desapareceram e continuam desaparecendo em nossas sociedades.

No mundo inteiro todos os anos cerca de 8 milhões de menores, ou seja 22 mil ao dia, desaparecem sem deixar sinais. Uma realidade esquecida pelos meios de comunicação.

Para contrastar esse fenômeno existe uma Rede que tem como direção principal o Centro Internacional para crianças desaparecidas e exploradas, com sede em Virgínia, nos Estados Unidos.

A indiferença para com o destino dessas jovens vidas, seja no tráfico, no meio da guerra ou da pobreza extrema, ou a incapacidade de protegê-las não diz respeito somente aos países mais ricos ou àqueles mais pobres, mas diz respeito a todos, sem os abismos da separação econômica.

Basta pensar que o novo êxodo migratório em direção à Europa, que estamos vivendo neste momento, traz consigo também o drama das crianças sem acompanhantes.

Elas se tornam, neste grande calvário humano, fáceis presas de organizações criminosas, que as vendem ao mercado da prostituição, do tráfico de droga ou para o mercado de trabalho a baixíssimo preço. Somente na Europa, nos últimos anos fala-se de 10 mil crianças emigradas sozinhas, das quais não se têm nenhuma notícia.

O drama das crianças sírias, das crianças emigradas, das crianças desaparecidas demonstra que elas são as pessoas mais frágeis da nossa sociedade.

Como disse o Bispo caldeu de Aleppo e Presidente da Caritas síria, Dom Antoine Audo, “todas as violações recaem sobre as crianças, e elas não têm como se defenderem”. “As crianças da Síria sofrem muito. Mais de 2 milhões delas estão sem escola; eu as vejo pelas ruas de Aleppo caminhado descalças, sem pão, sem possibilidade de ter uma dignidade. Exploram as crianças de muitas formas para humilhar, para conseguir dinheiro...”.

A voz do Papa é a voz que clama no deserto da indiferença pedindo atenção às realidades humanas dos mais fracos, dos mais simples, das nossas crianças. É a voz que grita a dor das crianças, nosso futuro, maltratado hoje. (Silvonei José)








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