Pe. Spadaro: a Europa de Francisco, inclusiva e em movimento


Cidade do Vaticano (RV) - “A reflexão sobre o processo europeu leva o Papa Francisco a lançar o desafio de atualizar a ideia de Europa.” Essa é uma das passagens do artigo publicado pelo diretor da Civiltà Cattolica, Pe. Antonio Spadaro, no último número da prestigiosa revista jesuíta.

No artigo, intitulado “O olhar de Magellano”, o religioso detém-se sobre o sonho europeu de Francisco, à luz do discurso pronunciado pelo Pontífice por ocasião do recebimento do Prêmio Carlos Magno (06/05).

Entrevistado pela Rádio Vaticano, Pe. Spadaro explica o que significa o “olhar de Magellano” com o qual o Papa latino-americano olha para a Europa:

Pe. Antonio Spadaro:- “O Papa Francisco acostumou-nos a olhar para o centro a partir das periferias. Isso significa que a realidade, o coração das coisas se percebe, realmente, se sente o pulsar do próprio sangue na circulação periférica. Vimos como o Papa Francisco iniciou suas viagens europeias começando por Lampedusa (ilha italiana situada no extremo-sul da Península), que foi a primeira grande viagem europeia, mais que italiana; e depois, para além da cronologia, prosseguiu circulando os confins da Europa: Lesbos (ilha grega), Istambul (Turquia), Sarajevo (Bósnia-Herzegóvina), e depois irá a Lund (Suécia)… De certo modo, é como se o Papa Francisco estivesse circunavegando a Europa para colher seu coração profundo. O Papa Francisco esteve também em Tirana (Albânia), e daí foi também a Estrasburgo (França). Isso é muito interessante: isto é, o Papa chegou ao coração das instituições europeias olhando a partir de um país que ainda deve entrar na União Europeia e um país de maioria muçulmana. Por conseguinte, “o olhar de Magellano” – que é uma expressão de Francisco – é um olhar que enxerga a Europa do ponto de vista de um explorador.”

RV: Há uma renovação, uma atualização da ideia que a Europa tem de si mesma, que Francisco está propondo?

Pe. Antonio Spadaro:- “Sim. O Papa Francisco disse reiteradas vezes que o tempo é superior ao espaço. Então, sua visão está ligada ao que há de vir, à superação dialética de muros e obstáculos, superação que se dá no tempo. Para o Papa Francisco, a Europa não é uma coisa, é um processo ainda em ato no seio de um mundo muito complexo e fortemente em movimento. O Papa Francisco observou como os grandes pais da Europa, que citou em seu discurso de recebimento do Prêmio Carlos Magno, articularam um projeto iluminado que é “work in progress”, que está em andamento. A Europa é tentada a querer assegurar e dominar espaços, mais que gerar processos de inclusão e de transformação. Mas desse modo, considerando a si mesma como espaço a ser protegido, irá sempre mais entrincheirar-se; ao invés, deve aceitar esse movimento no tempo, esse processo que torna a Europa ela mesma, aquela que sempre foi, ou seja, um processo de integração de culturas, de perspectivas, de modos de vida.”

RV: Na recente entrevista ao diário católico francês “La Croix”, na qual o Papa falou muito sobre a Europa, ressaltou que o dever do cristianismo em relação à Europa é propriamente o serviço. Como esse chamado pode ser hoje conjugado?

Pe. Antonio Spadaro:- “O Papa falou acerca das raízes cristãs da Europa, mas reconhece estas raízes num gesto: o gesto do lava-pés. Em suma, aí se colhe o sentido profundo do cristianismo, que não é a conquista do poder ou colocar-se, constituir-se num partido, porque no momento em que o cristão se constrói como uma parte dentro do tudo, se coloca em contraste com outros, por conseguinte, identifica um inimigo. A tarefa do cristianismo hoje não é identificar seus inimigos, mas estar a serviço dessa humanidade. O Papa recorre ao pensamento de um grande jesuíta, filósofo e teólogo Przywara, um alemão de origem polonesa – que citou explicitamente tanto no discurso de recebimento do Prêmio Carlos Magno, quanto na entrevista ao ‘La Croix’.“ (RL)








All the contents on this site are copyrighted ©.