LEV lança livro sobre criatividade linguística do Papa


Cidade do Vaticano (RV) – A Livraria Editora Vaticana (LEV) está presente no Salão do Livro de Turim, aberto até esta segunda-feira (16/05). São quase 500 títulos expostos em um estande de 110 m², totalizando 20 mil volumes. São textos dos Pontífices - com particular atenção ao Papa Francisco - mas também livros sobre o Jubileu, a Sagrada Escritura, a História da Igreja, arte, entre outros.

Uma das obras que está despertando grande interesse é “A linguagem do Papa Francisco. Análise, criatividade e normas gramaticais”, de Salvatore Claudio Sgroi, professor de Linguística Geral na Universidade de Catânia. Aos microfones da Rádio Vaticano, o docente explicou como nasceu a ideia de analisar as palavras e a expressividade de Francisco:

“Como o objetivo do Papa é o de ser entendido e de alcançar os outros, deixando-os curiosos, por um lado sabe quais são os problemas das pessoas, por outro usa as palavras mais comuns, usa frases não muito longas e o seu falar é sempre um diálogo. E esta sua capacidade permite a ele de falar em qualquer língua. Ou seja, as dificuldades que todas as pessoas que falam encontram, tornam-se secundárias: ele consegue superá-las facilmente. Portanto, se percebe que ele é estrangeiro, fundamentalmente pelo sotaque, porém as escolhas de sintaxe e lexicais, o tipo de italiano que ele fala, é um tipo de italiano quase nativo, culto. E portanto, para o linguista, é um laboratório extremamente  intrigante”.

RV: O senhor descreve que o Papa sai fora dos esquemas no uso das palavras, dando prova de uma criatividade linguística bem italiana. Poderias citar algum exemplo?

“Bem, no meu texto analisei muitas vezes alguns exemplos, porque foram objeto de análises por parte de outros jornalistas e no geral a atitude era aquela de dizer: “O Papa fala diferentemente de min, portanto o Papa erra”. Eu, ao contrário, procurei demonstrar como o Papa não erra totalmente. Antes de tudo, é necessário entender o que significa “errar”. Se errar significa falar de maneira confusa, caótica, contraditória, eu desafio qualquer um a dizer que aquilo que o Papa diz ou que disse no passado seja confuso, contraditório. À nível lexical o Papa é extraordinário, pois também no uso das palavras, ele aplica esquemas de formação das palavras que são próprias do italiano e são também comuns ao espanhol. Um exemplo é o “misericordiar”. “Misericordiar” pode deixar estupefato, porque no italiano é incomum, mas eu procurei demonstrar que havia também na língua italiana, e no final, ele não faz outra coisa que colocá-la em circulação, de acordo também com o espanhol. E portanto, dizer que seja errado, mesmo se tratando de uma palavra muito compreensível, de uma palavra formada segundo as regras e a gramática do italiano, não seria o caso. Pelo contrário, é uma palavra que se torna importante porque coloca em relevo um conceito que é importante no discurso que o Papa Francisco nos faz. Então, criar neologismos trazendo à tona conceitos-chaves, é uma habilidade que não é comum”.

RV: É a autoridade de quem diz que o neologismo, ou mesmo uma determinada maneira de dizer, pode ser aceito e que não é um erro, ou é outra coisa, algum outro critério?

“A meu ver, os critérios são dois. De um lado, um modo de dizer, uma expressão, uma palavra qualquer que pode ser aceita ou deve ser aceita quando é clara. Dito isto, as palavras claras certamente são mais facilmente aceitas se são aquelas pronunciadas pelas autoridades, por quem conta, no final das contas. O que diz o Papa, o que diz o Presidente da República, o que dizem os escritores, o que dizem os jornalistas, o que dizem também os políticos, por si só torna-se um ponto de referência”. (JE/AM)








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