Lumen Gentium: a luz não se pode esconder


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar, na edição de hoje, da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, numa reflexão do Padre Gerson Schmidt.

“Nós já dissemos aqui que o Concílio Vaticano II foi sem dúvida, para a Igreja, o maior acontecimento do século XX, descortinando um novo período em toda a História milenar da Igreja Católica. Ele emergiu como o divisor de águas, fundamental para a Igreja, originando um processo de aggiornamento, ou seja, uma necessária e importante renovação. Divisor de águas não significa negar o passado, os dois mil anos vividos, mas um novo olhar sobre a própria história, ou seja, a Igreja avaliando sua atuação, sua missão, de ser luz entre os povos, como é a intenção do principal documento dogmático do Concílio, a Lumen Gentium – como o próprio título do documento quer propor : Lumen – Luz; Gentium – nações, povos.

Bento XVI, na Carta apostólica Porta Fidei, quando proclamava o ano da Fé, em 2011 e 2012, quis fazê-lo por ocasião do cinquentenário da abertura do Concilio Vaticano II, na finalidade de retomar sempre os textos dos padres Conciliares. Recorda nessa carta apostólica, palavras de São João Paulo II que disse que os textos do Concilio “não perdem o seu valor, nem sua beleza”.  João Paulo II, na carta Novo Milennio Anuente, em 2005, indicava o Concílio como “a grande graça de que se beneficiou a Igreja no século XX”. Nessa carta, o Santo Padre fez ainda uma declaração ainda mais profunda:  que “no Concílio Vaticano II se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa”. Disse isso na virada do Terceiro Milênio. Chamo a atenção (do ouvinte-leitor) para essa comparação: uma bússola - para nortear os caminhos dos navegadores em mares desconhecidos, de timoneiros sem rumo, de peregrinos desnorteados, de navegadores, em mares tenebrosos, que navegam sem saber para onde ir. E estamos falando da barca da Igreja.

O Espírito Santo, suscitou, em cada época, os carismas necessários, para a Igreja desinstalar-se. Na história da Igreja houve sempre um movimento pendular, com altos e baixos ao longo dos séculos. Em cada uma dessas épocas em que a Igreja chegou ao ponto mais baixo, Deus suscitou grandes santos que levaram a Igreja de volta a sua verdadeira missão. Como se naqueles momentos de escuridão, a Luz de Cristo brilhasse mais intensamente. Se nas grandes vagas da história da Igreja, Deus suscitou grandes santos para não fazer a Igreja naufragar, como afirmou um historiador, também o Concílio se torna aqui um norte, uma bússola, uma orientação segura e normativa para a Igreja (cf. Porta Fidei, 5). Ainda diz o mesmo Pontífice nessa carta, recordando um discurso à Cúria Romana, em 2005 a seguinte declaração: “Se lermos e recebermos, guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e torna-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja”. Vejam que a Palavra Renovação – aggiornamento em italiano, utilizada por João XXIII para motivar o concílio – é reutilizada agora por outros papas.

A luz não se pode esconder, diz Cristo, embaixo do alqueire, das coisas que impedem essa luz de se expandir e de clarear o ambiente onde está. Por isso, a Igreja deve ser luz, iluminar a quem quer que seja. Como, de fato, ela pode ser luz e sacramento de Salvação? Bento XVI dizia que “a renovação da Igreja realiza-se através do testemunho prestado pelos cristãos que são chamados a brilhar, com a sua própria vida, no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou” (Porta Fidei, 6).

O próprio Concílio, na Constituição dogmática Lumen Gentium, afirma no número 8: “Enquanto Cristo “santo, inocente, imaculado” (Heb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2 Cor 5, 21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Heb 2, 17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1 Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz” (Porta fidei,6).

Esperamos que essas reflexões ajudem a chegarmos a algumas pistas de como a Igreja, no século XXI, pode ser realmente sacramento de salvação a todos os povos. Uma pergunta intrigante, não fácil de responder”. 








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