Editorial: Gestos de amor


Cidade do Vaticano (RV) – No sábado passado, dia 16 de abril, o Papa Francisco fez mais um gesto que mexeu com a consciência internacional. O Sucessor de Pedro foi até Lesbos, a terceira ilha em ordem de grandeza da Grécia, localizada somente a 9km do território da Turquia, para se encontrar com os refugiados provenientes de terras martirizadas pela guerra e pela miséria.

Em Lesbos o Papa Francisco obrigou o mundo inteiro a refletir sobre uma pergunta: para os migrantes estamos fazendo o que é justo? Estamos respondendo às suas necessidades com justiça e caridade? Uma pergunta que a imprensa internacional fez ecoar chamando a atenção para os milhares de refugiados que se encontram nesta ilha – porta da esperança para muitos – aguardando a possibilidade de tocar os pés no continente e iniciar um caminho de esperança em outras terras. Francisco tocou com mãos a dor e o desânimo de homens e mulheres obrigados a deixarem suas terras por causa da guerra e da pobreza. Ali lançou as sementes da esperança e da compaixão.

Somente na Grécia, para se ter uma ideia segundo os últimos dados, os migrantes e refugiados bloqueados nos campos de acolhida são cerca de 50 mil. Suas condições são precárias, como o campo de Moria, que Francisco visitou. Um campo com paredes duplas, com fio de arame farpado.

Ali essas pessoas que fogem da guerra encontraram simplesmente um local de contenção, e não uma esperança. Vivem em condições dramáticas, denunciam membros das Nações Unidas que trabalham com as Migrações. Não podendo deixar a Grécia através dos canais legais tentam fazê-lo através de rotas clandestinas colocando em risco a própria vida.

Fechar o caminho da esperança de milhares desses deserdados, na tentativa de bloquear os fluxos, como estão tentando fazer muitos governos, não serve a nada. O resultado desta somatória de intenções é a abertura de novas rotas mais perigosas onde quem ganha, quem lucra, são os traficantes de seres humanos. Por isso, o Papa Francisco chamando a atenção dos governos para a acolhida deseja precisamente evitar que tudo isso ocorra.

Outro mérito da viagem do Papa Francisco a Lesbos é certamente, como sempre faz com a sua presença, voltar a ligar os refletores da mídia sobre questões de suma importância, como por exemplo a dos menores desacompanhados: são centenas, fala-se de 2 mil, entre os migrantes presentes na Grécia. Muitos deles correm o risco de serem explorados e abusados.

A visita de Francisco a essa ilha do Mar Mediterrâneo foi ainda marcada pelo desespero de alguns refugiados, ao encontrarem, seja o Santo Padre, seja o Patriarca Bartolomeu e o Arcebispo Hyeronimus, ambos ortodoxos, que acompanharam Francisco. Uma viagem que também marcou mais um momento na caminhada ecumênica. Diante de Francisco, um homem cristão suplicou, aos gritos, por ajuda enquanto agradecia pelo encontro e pedia para que fosse abençoado.

De retorno o Papa, num gesto que tocou muito as pessoas, deu abrigo no Vaticano a três famílias sírias, no total 12 pessoas. Segundo relato de Mons Viganó, Prefeito da Secretaria para a Comunicação, antes que o Papa entrasse no avião para voltar, as três famílias embarcaram na aeronave para entender onde iriam se sentar. Elas souberam na noite anterior que iriam partir e levaram consigo uma pequena bolsa. Entraram no avião, depositaram suas poucas coisas e depois foram convidadas a descer para depois subirem novamente com o Papa. Não queriam mais descer. Por que? Porque tinham medo de serem deixadas lá embaixo.

Foi uma viagem, como disse o próprio Papa, assinalada pela tristeza. Francisco encontrou a maior catástrofe humanitária após a Segunda Guerra Mundial. Encontrou muitas pessoas que sofrem, que não sabem para onde ir, que tiveram que fugir. Foi também ao cemitério a céu aberto: o mar!

Consolando e enxugando as lágrimas intermináveis dos refugiados Francisco, como peregrino da esperança desenhou em seus corações e mentes a imagem de uma possível melhor vida, desenhou a imagem de uma forte solidariedade, de humanidade. Ao mesmo tempo escreveu uma página histórica na qual chama a atenção dos líderes mundiais para que encontrem respostas às lágrimas e gritos de desespero.

A visita a Lesbos e as palavras de Francisco nesta semana são gestos de amor e o testemunho da sua proximidade a quem sofre, mas também um modo para sacudir as consciências e vencer o medo do diverso. (Silvonei José)








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