Mons. Viganò: erguer muros aos migrantes é o fim da Comunidade Europeia


Cidade do Vaticano (RV) - Uma viagem triste a do Papa Francisco a Lesbos, no último sábado (16/04), como ele mesmo disse no avião durante a ida à ilha grega. A sua proximidade humana aos deslocados e migrantes, o apelo à União Europeia em prol de políticas de acolhimento e integração, e não de fechamento. Uma realidade de sofrimento que, todavia, continua no coração do Papa Francisco, como destacou o Prefeito da Secretaria vaticana para Comunicação, Mons. Dario Edoardo Viganò, na entrevista à nossa emissora.

Mons. Viganò: “Sim, é um estado de ânimo muito importante. O Papa viveu muito intensamente esta viagem a Lesbos, sobretudo no campo de refugiados. Um campo que foi arrumado, obviamente, pelas autoridades poucas horas antes da chegada do pontífice, para dar uma aparência de acolhimento. É um campo com paredes duplas, com fio de arame farpado. Essas pessoas que fogem da guerra encontraram simplesmente um local de contenção, e não uma esperança. Por exemplo, houve um episódio que talvez mostre bem o estado de ânimo que o Papa viveu e que foi expresso pelas três famílias que trouxe para casa, segundo os acordos com os Governo grego, italiano e da Cidade do Vaticano. Antes que o Papa entrasse no avião para voltar, as três famílias embarcaram na aeronave para entender onde iriam se sentar. Elas souberam na noite anterior que iriam partir e levaram consigo uma pequena bolsa. Entraram no avião, depositaram suas poucas coisas e depois foram convidadas a descer para depois subirem novamente com o Papa. Não queriam mais descer. Por que? Porque tinham medo de serem deixadas lá embaixo. Estes refugiados vivem continuamente numa grande esperança, que a cada dia cresce, de encontrar uma situação de paz. Estão fugindo da guerra, não nos esqueçamos! Quando o Papa fala de cheiro azedo da guerra, se refere ao fato de que muitas dessas pessoas viram sua esposa ser morta, degolada; o marido assassinado, os filhos mortos. Fogem de uma situação de guerra, buscando uma esperança, entreveem esta esperança e depois caem novamente numa desilusão. Este alternar-se da vida, entre a esperança que se constrói e a desilusão profunda que se sente, faz com que nasça naturalmente este comportamento:  entrar no avião e não querer descer. O Papa viveu isso. Tocou com as mãos duas vezes uma humanidade desesperada: desesperada porque foge da guerra e desesperada porque diante da Europa não encontra uma porta aberta, uma fenda possível.”

Existe outra frente dentro dos Estados, o político para o acolhimento...

Mons. Viganò: “Acredito que se a gestão dos refugiados é uma gestão demagógica para erguer novos muros, novas barreiras, este é o fim da Comunidade Europeia. A Europa se define como comunidade, mas se não há esta experiência de partilha, de partilha política e de partilha também das problemáticas que chegam à Europa, significa que a Europa realmente faliu. O Papa disse meses atrás: ‘Onde estão os grandes pais constituintes?’ Há necessidade de políticos que, novamente, retornem àqueles grandes  pensamentos, aos grandes sonhos de uma Comunidade Europeia. Acredito que a Europa teme. Esses migrantes, de fato, vem para a Itália porque são as costas mais vizinhas, mas eles não têm nenhum interesse em permanecer na Itália. O migrantes procuram a Europa. Muitos deles que estavam em Lesbos tinham familiares na Áustria, na Alemanha, e assim por diante. Deste ponto de vista, existe um medo que ao invés deveria ser gerido como um grande recurso, uma grande chance. Como disse o Papa: ‘Vocês não são um peso, mas um dom’. Pensemos, por exemplo, ao que emerge nas páginas dos jornais hoje acerca das aposentadorias. Aqui tem um problema muito grave. A geração dos anos 80 irá se aposentar aos 75 anos. Por que? Porque existe um problema de déficit de trabalhadores. Obviamente, estes migrantes podem ser realmente uma grande chance. Isso significa, porém, reais políticas de integração, significa políticas trabalhistas que tenham uma concretude. Parece-me que a política da Europa seja muito tática, mas pouco estratégica neste período.” (MJ)
 

 








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