Dom Twal fala do desespero dos palestinos: Isto não é vida! É necessário diálogo de paz


Roma (RV) – A situação dos cristãos na Terra Santa esteve ao centro do encontro com o Patriarca Latino de Jerusalém Fouad Twal, realizado na manhã desta quinta-feira, 14, na sede da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. A explanação foi uma oportunidade para ser traçado um rico panorama sobre a presença das comunidades cristãs na Terra de Jesus.

Os cristãos, com suas instituições, continuam a ser na Terra Santa, acima de tudo, testemunhas vivas da história da salvação. Impedem e impedirão – afirmou o Patriarca – que os Lugares Santos se tornem somente sítios arqueológicos.

Cristãos na Terra Santa, memória viva de Jesus

Os cristãos da Terra Santa – pouco menos de 2% da população total, ou seja, 450 mil pessoas num universo de mais de 18 milhões de habitantes na Jordânia, Palestina e Israel – “sentem profundamente ser, ainda hoje, a memória viva da história de Jesus”.

Um pequeno rebanho entre judeus e muçulmanos

Os cristãos na Terra Santa – explicou o Patriarca Twal – estão entre duas presenças majoritárias, são um “pequeno rebanho” entre muçulmanos e judeus. Mas são inúmeras as dificuldades provocadas no Oriente Médio pelo conflito: “A ocupação militar”, “a violência recíproca”, “o fanatismo religioso crescente, quer israelense, quanto muçulmano”.

Insegurança aumenta o êxodo

O muro de separação, com mais de 700 km de comprimento e 8 metros de altura, isola a população palestina e limita – observou Dom Twal – a liberdade de movimento, o estudo, o trabalho, as viagens e os cuidados médicos. O clima de insegurança geral provoca um verdadeiro êxodo de cristãos da Terra Santa.

O acordo entre Santa Sé e Estado da Palestina

Com base no acordo assinado em 26 de junho de 2015, a Santa Sé reconhece o Estado da Palestina e a sua admissão na ONU como Membro Observador. O Acordo, entre outras coisas, garante a liberdade de consciência e de religião, a  liberdade de fundar instituições de caridade. O único país contrário a este acordo – recordou o Patriarca – foi Israel, que logo após a sua assinatura – deu início à construção de um novo  pedaço de muro no Vale de Cremisan.

Situação na Palestina

Na Faixa de Gaza, os cristãos de todas as confissões são pouco mais de mil. As condições em que vivem são muito difíceis. Existe desemprego, as crianças são numerosas, muitas habitações são construídas precariamente. Na Palestina, no geral, as relações com os muçulmanos “permanecem boas, não obstante existam alguns episódios de fundamentalismo”. É geralmente reconhecido de que a presença cristã desempenha “um papel positivo na sociedade árabe”.

A situação em Israel

Também em Israel – observou Twal – a Igreja caminha em um terreno prevalentemente árabe, mas se depara com os desafios do mundo judaico. O Patriarca recordou, em particular, a situação dos imigrantes que em Israel provém sobretudo das Filipinas, de alguns países da África e da Índia. Mesmo sendo normalmente cristãos, a secularização de seus filhos acontece nas escolas judaicas. Mas aprendem os ensinamentos somente da religião judaica, correndo o risco de perder as raízes cristãs.

A educação, a colaboração e o diálogo na verdade – afirma o Patriarca Latino de Jerusalém – são os pontos para unir as esperanças da Terra Santa e abater os muros mais altos, os invisíveis, permeados de ódios levantados no coração do homem. Eis o que o Patriarca declarou à Rádio Vaticano:

“Acredito que a situação seja tão grave, que nenhum país sozinho, nenhuma Igreja sozinha, poderia dar uma solução. Devemos dirigir ao mundo, a todos os países, a todos os governos, um apelo à solidariedade, para termos consciência de que este “modo de viver” não é um modo, não é uma vida. A ocupação militar israelense dura 66 anos e isto é impensável. Não se pode viver todo o tempo sob pressão! As pessoas estão desesperadas: a última revolta das crianças, a intifada dos punhais, é uma prova a mais de que estes jovens não têm nada a perder. Este não é um exército, não é um grupo político, não é um partido. São crianças! Pelo fato de que não têm nada para fazer, nem escola, nem educação, nem trabalho, nem dignidade, nem liberdade de movimento, “brincam” com os punhais. É tarefa dos grandes sábios ter uma visão grande para todos. A situação atual não serve a ninguém. Acredito na educação, acredito na escola, acredito na universidade, acredito na colaboração. Quanto ao diálogo, se é um diálogo de cortesia, não serve para muita coisa. Tendo bem claras as diferenças que existem entre nós – e não obstante isto – somos chamados a viver juntos, no respeito e dignidade recíproca”.

RV: É necessário o diálogo precisamente para abater as diferenças, mas também as barreiras. Neste mês de abril foi retomada a construção do muro na zona de Cremisan...

“Os muros que vemos são a realização de outros muros piores que se formam no coração do homem. Se chama ódio, medo, desconfiança.... Antes de abater estes muros visíveis, que é a coisa mais fácil, devemos abater os muros no coração do homem. Isto requer educação, confiança, justiça, coragem. É necessária mais coragem para levar a paz do que para fazer a guerra! Para a guerra basta um capricho. É uma coisa fácil. Para construir a paz é necessária mais coragem, mais resistência, mais boa vontade e, frequentemente, esta boa vontade falta”. (JE)








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