Apresentado VII Relatório Doutrina Social da Igreja: "Guerra de religiões, guerra à religião"


Cidade do Vaticano (RV) - O ano de 2014 marcou "um evidente retorno das guerras de religiões". Os atos de violência e de perseguições cometidos pelo Boko Haram na Nigéria, a violência jihadista do Daesh e Al Qaeda no Oriente Médio e África, somados aos inumeráveis fatos ocorridos nos vários continentes ao longo de 2014, atestam que está em andamento um retorno das guerras de religiões. Foi a conclusão a que chegou o VII Relatório sobre Doutrina Social da Igreja no mundo, do  Observatório Cardeal Van Thuân, em colaboração com o Movimento Cristão Trabalhadores (MCL), intitulado "Guerras de religião, guerras às religiões". O Relatório foi apresentado na Sala Marconi, na Rádio Vaticano, no dia 6 de abril.

As mais de 200 páginas de documentação, passam em resenha os fatos ocorridos no mundo, evidenciando também as principais mudanças políticas, econômicas e geopolíticas de 2014, com especial atenção à ação da Santa Sé e ao Magistério social do Papa Francisco.

Uma guerra não convencional

"Não resta dúvida - escreve o Diretor do Observatório, Stefano Fontana - que nestes casos fortes ocorridos, o fator religioso é o que sintetiza a todos os outros". Não se está diante de "uma guerra declarada, convencional, com uso de armas e estratégias militares. É um conflito, uma luta por meio de leis, licenças, intimidações, uso da mídia, destinação de vultuosas somas contra a religião católica e os seus pressupostos".

Epicentro na Europa

O velho continente está também interessado nas repercussões das guerras de religiões dentro das próprias fronteiras, devido ao fenômeno do terrorismo e do recrutamento feito pelas milícias islâmicas nas periferias das grandes cidades europeias, entre os imigrantes de segunda e terceira geração". Guerra de religiões e guerra à religião: duas tendências que - lê-se no Relatório - têm o seu epicentro na Europa: o Ocidente está muito ocupado pela sua guerra interna à religião, para poder ocupar-se das guerras de religiões na Síria ou na Nigéria. Está muito preocupado em romper as próprias ligações com a religião, proclamando a indiferença às religiões, enfraquecendo-se e tornando-se incapaz de defender no mundo o direito à liberdade de religião, que num certo sentido, é uma criação sua".

Relativismo exportado

O Relatório refere-se a um conceito de liberdade religiosa, "redutivo, individualista, relativista, que não permite encontrar a força de intervir, quando em nome da religião se produzem violências desumanas e são negados os mesmos direitos fundamentais sobre os quais se baseia o mesmo direito à liberdade religiosa, nascido no Ocidente". "Os países ocidentais - sublinha Fontana - importam religião e exportam relativismo. Se um país como a Inglaterra, de longa e alta tradição jurídica ocidental, admite institutos jurídicos próprios da sharia islâmica, incluída a presença de tribunais islâmicos, significa que o Ocidente desaprendeu o uso da razão com que o cristianismo o educou". Considerações que dizem respeito também à gestão das imigrações.

Índice demográfico

"As guerras de religião, que penetram até mesmo nas ruas das cidades ocidentais, encontram um terreno favorável, pois precisamente ali foi feita uma guerra à religião". Difícil  prever - lê-se no Relatório - "se sobre as religiões prevalecerá o secularismo da guerra à religião ou o contrário". Muito dependerá do aspecto demográfico. "O índice de natalidade dos imigrantes no Ocidente ainda ligados a sua religião é muito mais alto do que aquele dos países ocidentais. Dentro de alguns decênios, em alguns países europeus, existirá a superação. É verdade que, em contato com a vida ocidental, também a natalidade das famílias islâmicas - para fazer um exemplo mais interessante - tende a diminuir, mas o abismo permanece assim mesmo muito significativo".

A contribuição da Doutrina Social da Igreja

Diante destes problemas - declara o Diretor do Observatório Van Thuân - a Doutrina Social da Igreja "deve dar uma contribuição não genérica, moralística, simplista, mas realística". Para Fontana, "a política de integração não pode fingir não ver que muitas comunidades acolhidas no Ocidente não querem integrar-se, se contrapõe aos núcleos originários, procurando PREVARICARLI. A acolhida não pode ser indiscriminada, porque neste caso favoreceria a guerra de religiões no mundo ocidental. O dever de proteger deve ser redescoberto, também em relação aos cidadãos da própria nação, dado que o Estado mantém em relação a eles um dever primário de PROVVEDER ao bem comum, e também em relação às situações em que no mundo, regimes confessionais violentos perpetuam massacres indiscriminados e fazem fugir os seus habitantes. A saída das guerras de religiões e da guerra à religião - conclui Fontana - é que se faça uma revisão de como o Ocidente quer olhar para a religião, em particular a cristã, pois disto depende também o modo em como ele olhará para as outras religiões e como elas olharão para o Ocidente".   (JE)








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