Passado um mês após as eleições presidenciais, o País está a enfrentar uma grave crise humanitária com as feridas da guerra civil ainda por cicatrizar e os interesses petrolíferos das superpotências sempre à espreita. Padre Gabin-Eric M'bika é um sacerdote da República Centro-Africana, foi reitor do Seminário de Bangui depois de ter estudado na Pontifícia Universidade Urbaniana. Actualmente é pároco de uma pequena cidade na diocese de Campobasso-Bojano e prestes a formar-se em Ciências da Comunicação. Fala-nos dos frutos espirituais e as repercussões políticas da histórica visita do Papa Francisco, que abriu mesmo lá o Jubileu da Misericórdia.
A manipulação da gente e o desafio para a garantia da segurança
"A gente pegou nas mãos a mensagem do Papa, uma verdadeira bênção para o nosso País",
explica o Padre Eric. "As pessoas perceberam que o futuro está nas suas próprias mãos.
Podemos realmente dizer que Deus agiu. Foi uma vitória da população depois de anos
de destruição. O povo está cansado e quer uma mudança real. Agora, esta fase é muito
delicada. Se com as eleições de 20 de fevereiro, que levaram ao poder Faustine-Archange
Touadéra, perdêssemos este momento propício seria uma grande pena. Todos esperam algo
sólido e bom depois daquilo que experimentamos. A tarefa é pesada - diz o sacerdote
- e é preciso recomeçar antes de tudo da garantia de segurança. Nós nunca vivemos
o problema da divisão a nível confessional e inter-religioso e fazer crer que as
razões da guerra civil têm a ver com este aspecto foi uma manipulação. Por de trás
da guerra – na qual estiveram envolvidos envolvidos 13 mil mercenários - estão os
interesses petrolíferos da França e da China, sobretudo. Foram os extremistas muçulmanos
envolvidos no conflito que destruíam todas as igrejas, quando entravam na cidade”.
Os males da guerra, a impunidade e uma terra à mercê de todos
"O meu pai não estava doente, mas deixou-se ir porque já não via futuro", diz ainda
o Padre Eric. "Quando agora falo com a minha mãe ela diz que agradece porque ainda
está viva. E depois acrescenta "o nosso pão de cada dia é a morte". É triste quando
uma mãe te fala assim. Agora está o problema da impunidade de tantos que cometeram
abusos sexuais, soldados franceses e capacetes azuis. Dia após dia, novos casos vêm
à luz. Quando os chefes se apercebem movimentam as pessoas, mas esta não é uma solução.
As feridas aconteceram e aquelas pessoas permanecem impunes”.
Redistribuir as riquezas
Na República Centro-Africana, com uma superfície duas vezes maior que a Itália, vivem
6 milhões de pessoas. Tantos recursos mas mal explorados: "Mesmo que se escolhesse
apenas um único elemento do nosso subsolo e da nossa natureza para explorá-lo as pessoas
estariam bem. Pobreza e riqueza se olham, mas nunca se encontram", observa amargamente
o P. Eric, queixando-se de velhos legados a desmantelar, leis que permanecem de pé
desde os tempos coloniais e que sufocam os nativos. E a Igreja local? "É a única
voz que diz a verdade e deve estar atenta para não ser manipulada também ela. Ela
tem feito muito em termos de saúde e educação, certamente mais do que o Estado”. (BS)
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