2016-03-16 17:57:00

Moçambique: milhares em fuga dos combates buscam refúgio no Malawi


São pelo menos 10 mil as  pessoas que se refugiaram no Malawi nas últimas semanas, fugindo dos combates no vizinho Moçambique. Um número em contínuo aumento, ao ponto de forçar o governo malawiano a reabrir um antigo campo de refugiados em Kapise. São seis as províncias de Moçambique onde se verificam particularmente os confrontos entre os militares da Frelimo, partido no poder, e as forças do partido da oposição, Renamo. Numa destas províncias, em Tete, vive o missionário dos Padres Brancos, Claudio Zuccàla, que falou ao microfone da RV:

"Certamente é uma situação de grande tensão. Dizer exactamente quantas pessoas estão envolvidas, entre mortos e feridos, é difícil. De facto, existe uma "guerra de baixa tensão", um termo um pouco forte, mas certamente o País vive um clima de grande tensão. A prova disso é que dos três nós importantes, ao longo das principais estradas do país que ligam o Centro ao Sul, existem colunas militares para acompanhar os carros civis. Não temos jornalistas no local para acompanhar e monitorizar a situação, mas de uma parte e de outra, tem havido episódios de violência, o governo, sem dúvida, ameaçou e deixou-se levar pela mão na execução dessas ameaças à população local, que em algumas dessas províncias apoia o partido da oposição e, em seguida, os homens da Renamo responderam com igual dureza. Tudo começa das eleições de 2014 que a oposição, o partido Renamo, se recusa a aceitar porque alega que foram marcadas por gravíssimos actos de irregularidade".

Moçambique saiu há muitos anos de uma guerra de mais de 15 anos, e que sempre havia visto o confronto entre a Frelimo e a Renamo. Nos últimos anos, o País foi tomado como exemplo de pacificação e convivência, mas fictícia, pelos vistos ...

"O processo de paz teve um pouco de lacunas naquilo que é o aspecto fundamental depois de uma guerra, ou seja, o aspecto da reconciliação nacional. Talvez porque os dois inimigos se conhecem tão profundamente, parece que não têm uma profunda e completa confiança um do outro. Por isso, sim, é verdade que Moçambique tem tido uma série de eleições "democráticas", "livres" e, sim, é verdade que durante mais de 20 anos, desde 1994, data das primeiras eleições, até recentemente, o País também tem desfrutado de um período se não mesmo de paz, pelo menos de ausência de guerra, de ausência de atritos em  campo aberto. Certamente, porém, a desconfiança e a falta de uma verdadeira reconciliação estiveram sempre presentes. Em várias ocasiões, a oposição atacou o governo, dizendo que em cada pleito eleitoral houve fraudes, talvez em alguns casos dizendo a verdade. O facto é que as últimas eleições foram, talvez, a clássica gota que faz transbordar o copo. Existem resultados parciais que deviam ser publicados e, em seguida, confrontados com os resultados finais, mas que no entanto, até agora – passou um ano e seis meses – nunca foram mostrados".

Para si, que premissas são essas, a situação pode piorar dramaticamente?

"Eu digo-lhe que me encontro na situação de alguém que depois de tantos anos mais conhece e menos entende. Não me atrevo a fazer previsões. Certamente, o momento não é dos melhores. Estava a ver as notícias locais e a Renamo reiterou que tomará o governo nas seis províncias onde pensa ter direito para governar, onde diz ter sido defraudada no voto. Os investidores não vêem com bons olhos esta situação num momento de crise económica internacional. Preocupação legítima. Existe uma coisa um pouco estranha: há uma parte da Renamo que está no Parlamento, onde é representada por deputados democraticamente eleitos, e há uma parte que, em vez, empunha a arma e vagueia pelas matas de Moçambique".

A Igreja, os bispos de Moçambique, estão a fazer ouvir a sua voz, têm intenção de tomar uma posição? Existe alguma iniciativa em acto?

"A Igreja foi  proposta como um dos mediadores que o presidente da Renamo gostaria ter. O actual Presidente da República de Moçambique tem reiterado várias vezes que gostaria, juntamente com o Presidente da África do Sul, Zuma, e também a Igreja Católica, como mediadores nas conversações de paz que se deveriam abrir. Como sempre, continuam os soldados na linha de frente: muitos dos nossos leigos, catequistas, missionários, pessoal religioso que procura dar respostas ad hoc, e portanto promovendo o diálogo, procurando fazer todo o possível, sobretudo para levar ajudas às populações civis que nestas situações são sempre as que sofrem as consequências". (BS)








All the contents on this site are copyrighted ©.