Concílio Vaticano II, um divisor de águas na Igreja


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória História - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos começar a tratar dos grandes documentos do Concílio, fazendo na edição de hoje, uma breve síntese do evento conciliar e do contexto histórico em que foi realizado.

O Concílio Ecumênico Vaticano II foi o mais representativo dos 21 da história da Igreja, com a participação de mais de dois mil bispos (Padres Conciliares), vindos de todo o mundo, e do qual resultaram 16 documentos. O Concílio, realizado entre 1962 e 1965, foi aberto pelo Papa João XXIII e concluído por Paulo VI.

Antes de entrarmos no estudo dos grandes documentos do Concílio, nós pedimos ao Padre Gerson Schimdt, jornalista, e incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, para que nos fizesse uma breve síntese deste evento histórico e do contexto em que foi convocado e realizado:

"O Concílio Vaticano II realmente foi um marco fundamental para a Igreja, num período profundo de crise e de pós-guerras, em que a sociedade se esfacelava e se encontrava em profundas mudanças, numa liberdade de pensamento, que gerou um homem niilista, que não acreditada em nada e que perdeu a fé, e um outro homem socialista, que buscou a transformação das estruturas sociais injustas, por meio das ideologias, que conforme palavras do Papa Bento XVI, na busca desse homem de construir m paraíso terrestre. Havia uma crise muito grande de fé, de moral, de costumes, no mundo Ocidental. O lema que se tinha era: “É proibido proibir”. Houve, uma verdadeira revolução de pensamentos, um questionamentos dos valores. Uma sociedade permissiva. Tudo é permitido. Não há mais ética, dogma, leis ou normas. “Vale tudo”, como Tim Maia, expressa numa de suas canções. E sabemos que em Paris, na França, é o polo onde essas ideias de liberdade, diga-se sem a verdade, se difundem por toda a Europa. Na Igreja havia, uma esperança de renovação, com teólogos, bispos e pessoas muito boas que tomavam a frente dos movimentos de renovação litúrgica, bíblica, ecumênica, pastoral e teológica. Precisava haver uma mudança para que o Evangelho pudesse responder aos novos desafios, num diálogo com o mundo, e que a Igreja pudesse ser realmente um fermento no mundo, mergulhado por tantas filosofias e correntes de pensamento. Essa crise também atingiu a Igreja. Parecia que tudo o que havia antes estava errado. Alguns hoje falam de nessa época ter havido “uma adolescência na Igreja”, que como a rebeldia de um adolescente, nega tudo, os pais, as normas, o que vem de cima. Parecia que na Igreja “tudo era estável, tudo estava aberto para uma revisão”, conforme palavras de Ratzinger, analisando essa época de crise, por volta dos anos 60.

Na época do pré-concilio, bem verdade, a Igreja precisava abrir as portas e janelas das catedrais engessadas para que entrasse uma nova brisa, o sopro do Espírito Santo e houvesse um verdadeiro “aggiornamento”, como expressou o Papa, e agora já Santo, João XXIII, que deu abertura ao grande Concilio. Aggiornamento é uma palavra italiana que significa renovação, atualização, uma nova expressão e atuação da fé cristã, novo empenho em apresentar Jesus Cristo ao homem moderno, devolvendo ao mundo a alma que lhe estava faltando, como depois em outras palavras também pediria, em 1991, o Papa João Paulo II, por meio da Nova Evangelização, em outras palavras para a virada do milênio, quando falou de “novos métodos, nova expressão, novo ardor apostólico”. Desde o momento em que o Papa João XXIII manifestou a um grupo de cardeais a ideia de realizar um Concílio, ele começou a ser preparado, embora tenha sido convocado somente em 25 de dezembro de 1961 e iniciado em outubro do ano seguinte. Neste período, foram criadas várias comissões com a finalidade de sugerir temas a serem discutidos.

O evento Concílio Vaticano II teve início em 11 de outubro de 1962 e conclusão em 08 de dezembro de 1965, e foi realizado através de quatro sessões que aconteceram sempre entre os meses de setembro a dezembro desses anos. O Santo Papa João XXIII participou apenas da primeira sessão, pois morreu em 3 de junho de 1963. Paulo VI tornou-se Papa em 21 de junho de 1963 e convocou, para setembro do mesmo ano, a segunda sessão, participando também das sessões seguintes e da conclusão do Concílio que definiu 16 documentos, sendo eles, quatro Constituições, as mais importantes, nove Decretos e três Declarações.

O Concílio Vaticano II foi sem dúvida, para a Igreja Católica, o maior acontecimento do século XX, inaugurando um novo período de sua milenar História. Ele emergiu como o divisor de águas, fundamental para a Igreja, originando um processo de abertura, renovação e participação, sobretudo dos leigos, que foi determinante para as dioceses do mundo inteiro. Diga-se que o Concilio contou com a presença de alguns cristãos leigos como observadores e, sem sombra de dúvidas, foi o primeiro Concílio a receber tão numerosa participação de Igrejas e seus representantes, além dos leigos. O Concílio foi fantástico! Mas foi um momento crítico também. Houve dois movimentos nessa época, sobretudo na interpretação do Concílio: um que queria romper com tudo, numa descontinuidade, numa quebra com toda a história da Igreja de dois mil anos e outro movimento de renovação e reforma, mas dando continuidade a tudo o que a Igreja já tinha vivido e buscado até então. O grande problema foi a má interpretação do Concílio, as deturpações feitas nos primeiros anos, diante da instabilidade e adaptações, frente às aberturas propostas por esse Concilio, que não quis ser dogmático, mas pastoral, propondo uma Igreja no mundo, para o mundo, sem ser do mundo, como Jesus aponta na Oração Sacerdotal, no capítulo 17 de São João. Houve muita desorientação. A Igreja não estava preparada, por exemplo, para responder aos jornalistas ou as interrogações que surgiram depois do Concílio. Passados 50 anos, vemos que, apesar dos apuros iniciais de mudanças e atualizações propostas, sabemos que os frutos agora são já sentidos e colhidos, trazendo uma esperança muito grande na Igreja, de participação, comunhão, renovação e atualização". 








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