2016-03-12 12:21:00

Cabo Verde - Bispos convidam a votar de forma livre e consciente


2016 é o ano das eleições em Cabo Verde: legislativas, autárquicas e presidências. A primeira etapa é já no dia 20 de Março com as legislativas. Para as autárquicas e presidenciais não se conhecem  ainda as datas.

Para as legislativas concorrerem seis partidos. O mais recente é o PP, Partido popular, que foi registado há apenas dois meses. Para além deste jovem partido, estão também na corrida, a UCID, União Cabo-verdiana Democrática e independente, actualmente com dois dos 72 lugares no Parlamento, o PSD, Partido Social Democrata, e o PTS, Partido do Trabalho e da Solidariedade. Os dois maiores concorrentes são, todavia, o PAICV, Partido da independência e que está no Governo há 15 anos consecutivos, e o MpD, Movimento para a Democracia, que governou entre 1991 e 2001.

No contexto destas eleições os dois Bispos de Cabo Verde, Cardeal Arlindo Furtado, Bispo de Santiago, e D. Ildo Fortes, bispo de Mindelo, emitiram no passado dia 6 deste mês uma Nota Pastoral em que, citando o Evangelho, convidam os eleitores a ter em mente “Tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, respeitável”, “tudo o que possa ser virtude e mereça louvor.”

Cientes do papel da Igreja católica na promoção do bem comum no país, os bispos apresentam aos cabo-verdianos alguns princípios a ter em conta neste período eleitoral, isto é, a não deixarem que nada nem ninguém os obrigue a votar contra a sua consciência; a nunca venderem nem trocarem por nada o seu voto e a denunciarem toda a tentativa de manipular ou desvirtuar o seu voto a troco de favores ou outros meios ilícitos e antidemocráticos. E, de acordo com a Doutrina Social da Igreja, exprimem o desejo de que os cristãos votem tendo em conta os direitos fundamentais da pessoa humana, em resposta às necessidades sociais, culturais, educacionais e económicas da sociedade cabo-verdiana.

E dissipando qualquer equívoco, D. Arlindo e D. Ildo esclarecem que não pretendem de modo nenhum indicar aos fieis em quem votar; apoiar ou aprovar nenhum candidato, mas simplesmente chamar a atenção para o salto de qualidade que Cabo Verde é chamado a dar actualmente no âmbito do percurso político feito até hoje. Chamam a atenção igualmente para a importância da Política como instrumento de gestão da coisa pública. Escolher os deputados da nação – escrevem na Nota - é um “compromisso social e cristão muito sério”, pois que se trata de escolher aqueles que vão fazer leis e governar o país num contexto conturbado. Então há que fazer a escolha “com base em princípios éticos fundamentais”, ou seja votando “em quem pode realmente dar respostas razoáveis e reais às questões da actual sociedade cabo-verdiana.”

Tudo isto supõe “uma consciência moral e social bem formada” capaz de levar a “fazer uma análise descomplexada dos programas, do perfil dos candidatos a altos cargos da nação, da sua forma de encarar o poder político e o resultado do trabalho feito em possíveis mandatos anteriores a nível local ou nacional”. Os bispos  recordam ainda aos cabo-verdianos que através do seu voto o cidadão contribui para  a escolha de servidores do Estado e do bem comum e não de oportunistas que procuram vantagens pessoais em detrimento do serviço ao povo. 

Recordam também que o país vai viver este ano três eleições, três grandes oportunidades para os cidadãos darem a sua contribuição para a edificação de uma sociedade mais justa, democrática e fraterna, através do voto.  O que significa que devem participar no processo político, exercendo o direito-dever de votar para escolher os seus representantes na Assembleia, quem governa e quem fiscaliza o sistema político.  Por isso, “não votar pode ser considerada uma grave falta cívica. Os cristãos têm a obrigação moral de votar para promover o bem comum” – frisam.

D. Arlindo e D. Ildo lembram ainda aos cabo-verdianos que “todas as pessoas são livres de apoiar um ou outro partido e que ninguém deve considerar quem pensa diferente como “um inimigo a abater”. Há que aceitar o “pluralismo de ideias e programas” como algo natural  entre pessoas que amam a própria pátria e procuram o bem comum. Há que haver respeito pela diferença, e a unidade deve prevalecer sobre o conflito. Há que pautar pela convivência civil, baseada na amizade.

Depois os bispos passam a falar dos princípios que devem nortear a campanha eleitoral, ou seja deve ser uma campanha com ética, marcada pela “elevação do discurso”. Recordam que a campanha serve para elucidar o cidadão quanto aos problemas sociais e para dar a conhecer os candidatos e as propostas de cada partido. É também uma oportunidade de reflexão sobre o que precisa ser escolhido e implementado em Cabo Verde e sobre o que deve ser mudado e rejeitado por não se coadunar com uma sociedade justa.

E para ajudar nessa reflexão e análise dos projectos apresentados aos cidadãos na campanha eleitoral, os dois bispos de Cabo Verde oferecem na sua Nota dez linhas mestras:

Em primeiro lugar fazem notar que o voto é “um exercício de responsabilidade”. Não se pode, portanto, votar à toa. O eleitor deve orientar-se sempre para o bem maior do país, o que supõe conhecer a realidade e analisar cuidadosamente as propostas dos partidos e dos candidatos.

Em seguida conhecer bem o perfil do candidato enquanto individuo e saber se ele serve para elevar o nome do país e dar-lhe credibilidade, ou seja conhecer o seu perfil a nível técnico, moral e de solidariedade na defesa do bem comum.

O eleitor consciente deve ter presente a promoção da justiça social e vota, portanto, em quem promove a igualdade de oportunidade na área da saúde, da educação, da justiça e do emprego, sem olhar para a cor política do cidadão.

O eleitor consciente – continuam os bispos – analisa as propostas em relação às reais e razoáveis condições de criação efectiva de emprego em todo o país e vota em quem realmente deseja efectivar a integração de todas as ilhas no processo de desenvolvimento social, educacional e económico, numa óptica de equilíbrio regional.

Outro ponto que o eleitor consciente deve ter em conta é – segundo os bispos - o discurso político sobre a promoção religiosa, um assunto sensível e fundamental para a afirmação dos direitos humanos e da paz social;

Mais ainda : o eleitor consciente deve ter em conta a promoção da vida e da família assim como a defesa do ambiente.

“O eleitor consciente analisa e decide pelos projectos que defendem o direito inalienável à vida e à dignidade da pessoa humana desde a sua concepção até à morte natural, o valor da Família e do matrimónio entre um homem e uma mulher, bem como todos os valores da justiça social”

O eleitor consciente decide também por projectos sociopolíticos que defendem a qualidade do ambiente e do ecossistema numa perspectiva  para além do imediato, porque quando se busca apenas um ganho económico rápido e fácil, já ninguém se importa realmente com a sua preservação – escrevem os bispos, citando a encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco. Na linha de Francisco, denunciam os elevados custos dos danos provocados na natureza “quando se pretende obter benefícios significativos fazendo pagar ao resto da humanidade, presente e futura, os altíssimos custos da degradação ambiental. Por isso, há que defender a Casa comum”

Os bispos  lembram ainda que o eleitor consciente vota no projecto político que põe o homem no centro do desenvolvimento, ou seja a pessoa humana como o  protagonista, o centro e o fim de toda a vida económica e social; está também atento aos programas capazes de promover uma economia endógena, sustentável, solidária que dê garantias reais de trabalho digno aos mais pobres.

Por fim, como critério de análise dos projectos apresentados na campanha eleitoral, os bispos indicam a celeridade e qualidade da justiça, condição fundamental para a paz social; indicam também  a promoção da educação que é um direito de todos e a base para o autodesenvolvimento da pessoa.

E terminam a Nota incentivando todos, especialmente os jovens a votarem conscientemente nas próximas eleições, pois que quem por vontade própria não vota “perde o direito de reclamar” quando as coisas não vão bem na sociedade e, acima de tudo, “perde a oportunidade de promover o desenvolvimento e a democracia no país”.

Infelizmente, referem o Cardeal Furtado e D. Ildo Fortes, casos de corrupção e má utilização dos bens da república têm levado alguns a desinteressar-se da política, mas exortam a superar possíveis desilusões com a Política e com os políticos e a verem os benefícios que a Política traz à sociedade. Encorajam, portanto, a votar, escolhendo os melhores programas e os candidatos idóneos e comprometidos com o bom destino da nação.

“Caros irmãos na fé” – rematam – “enquanto cidadãos deste país, haveis de vos empenhar com o vosso trabalho honesto e o vosso voto a favor de uma economia social forte, de uma cultura de base humanista, de uma acção política totalmente orientada para a dignificação do ser humano”. 

(DA/BS)








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