Primavera de justiça: Doc. do Conselho Latino-Americano de Igrejas


Lima (RV) - “É possível construir outra ‘primavera’ capaz de abrir novos caminhos e gerar novos projetos junto com outros organismos cristãos, redes regionais e organizações ecumênicas de cooperação.”

Conclui-se com estas palavras o documento “Perspectivas e desafios para o movimento ecumênico”, publicado para esta Quaresma pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas (Clai), organização nascida em Lima, no Peru, em 1982, e que reúne mais de 150 Igrejas batistas, episcopais, evangélicas unidas, luteranas, menonitas, ortodoxas, pentecostais, presbiterianas, reformadas, valdenses, e outros organismos engajados na pastoral da juventude, para a educação teológica e a educação cristã.

O texto quer oferecer uma leitura especial da situação socioeconômica da América Latina e indicar o papel original do diálogo ecumênico e inter-religioso na formulação de percursos novos capazes de remover as desigualdades que geram pobreza e violência.

O documento se inicia com uma descrição dos efeitos econômicos e sociais da chamada “primavera” que investiu a América Latina.

Para o Conselho Latino-Americano de Igrejas o recurso à definição “primavera” para definir esses percursos não ajuda, porém, a compreender o que realmente ocorreu na América Latina, onde muitas vezes as novidades políticas não levaram a melhorias sociais efetivas.

Diante da persistência de um modelo de desenvolvimento econômico que continua gerando pobreza e marginalização, devem ser construídos percursos alternativos nos quais colocar em discussão a concepção segundo a qual o ser humano é o senhor incontrastável da criação e que a própria Criação não é nada mais que “a mulher gerada da costela do homem”.

Esta concepção buscou um fundamento religioso recorrendo a uma leitura fundamentalista da Escritura, de modo a formular a ideia de que o ser humano tinha “o poder de usar e de abusar de tudo aquilo que o circundava, fosse este um ser humano ou parte da natureza”.

Diante desta situação, muitos cristãos propuseram uma leitura diferente da relação entre homem e Criação, colocando no centro a pessoa humana e a sua dignidade. Nesta linha foi se desenvolvendo um diálogo ecumênico que promoveu “o respeito e a convivência na diversidade e na pluralidade religiosa”.

Nesta passagem, o documento manifesta uma profunda sintonia com as instâncias ecumênicas do Papa Francisco, de quem é explicitamente citado um dos discursos na viagem apostólica à América Latina, realizada em julho passado.

O diálogo ecumênico e inter-religioso teve, portanto, que se confrontar com aquelas formas de fundamentalismo que provocaram intolerância e violência, muitas vezes nascidas de “preconceitos, ignorância e sectarismo”.

Apesar destas dificuldades, o diálogo assumiu um “significado estratégico” no repensar da sociedade diante da crise, vez que provoca uma ação comum para a dignidade humana e para a solidariedade social.

Para o Conselho Latino-Americano de Igrejas, as comunidades cristãs devem renovar seu compromisso a tornar a América Latina e o Caribe “uma região que promove uma nova forma de pensar o mundo de modo a possibilitar relações humanas fundadas na justiça socioeconômica e ecológica”.

Os cristãos devem participar da definição de modelos de desenvolvimento econômico alternativos aos presentes que considerem a tradição judaico-cristã do Deus criador e da salvaguarda da natureza. Neste empenho cotidiano se deve também refletir sobre como construir a unidade numa estação de crise não somente econômica.

Para o Conselho Latino-Americano de Igrejas, construir a unidade significa testemunhar a experiência ecumênica de modo globalizado num tempo de pós-modernidade, incerteza e crise.

Por fim, o documento indica perspectivas de colaboração ecumênica para favorecer novos modelos de desenvolvimento econômico e social: viver a unidade na diversidade reconciliada; reforçar uma diaconia ecumênica a serviço da justiça; pensar numa educação ecumênica que seja “uma verdadeira escola de dirigentes apaixonados e formados a fim de promover aquelas transformações sociais que são necessárias para alcançar a plenitude da vida com abundância e dignidade”. (L’Osservatore Romano / RL)








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