Arcebispo sírio-católico pede refúgio para cristãos do Oriente Médio


Jerusalém (RV) - A destruição do mosteiro de Santo Elias, em 2 de janeiro, em Mosul, foi um dos últimos atos terroristas do auto-proclamado Estado islâmico. O mosteiro de Santo Elias, o mais antigo mosteiro cristão do Iraque, havia sido construído pelos monges assírios no séc. VI.

O calvário dos cristãos, todavia, começou em julho de 2014, quando da tomada da cidade do norte do Iraque pelos terroristas do auto-proclamado Estado islâmico (EI). Desde então, os cristãos que lá viviam foram obrigados a converter-se ao Islã ou a abandonarem a cidade.

Com a vida em risco, milhares de cristãos fugiram das suas casas e das suas aldeias abandonando as suas comunidades e deixando para trás uma herança milenar.

O Arcebispo sírio-católico de Mosul, Dom Yohanna Petros Mouché, esteve recentemente em Jerusalém, onde em uma entrevista divulgada conduzida por Sacher Kawas, do Patriarcado Latino, voltou a falar a tomada da cidade, do encontro com o Papa e traçou um panorama da atual situação dos cristãos no Iraque.

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PL: Durante o Verão de 2014, a cidade de Mosul foi tomada pelo Estado Islâmico (EI), pode-nos contar o que viveu nesses momentos?

Dom Yohanna: Depois da fuga do nosso exército iraquiano, o EI conquistou a cidade de Mosul no início de junho de 2014. Assustada pela presença do EI, a maior parte dos cristãos, assim como um grande número de muçulmanos, deixou a cidade de Mosul e dirigiu-se para o Curdistão e para as aldeias da planície de Nínive.

No início, as forças do EI mostraram-se simpáticas para com os cristãos, só uns dias depois anunciaram as condições que permitiriam aos cristãos viverem sob o seu domínio. Tornarmo-nos muçulmanos e, assim, teríamos todos os direitos, pagarmos uma taxa, tornamo-nos cidadãos de 2ª, ou abandonarmos a terra e todos os nossos bens sem os quais as nossas vidas correriam perigo.

A situação não era simples de ser avaliada, sobretudo porque aqui os nossos cristãos vêm pedir uma solução ao seu bispo. Como o governo central estava ausente, entrei em contato com os responsáveis curdos que estavam conosco. Quando do primeiro ataque do EI a Qaraqoche, a maior cidade cristã, com o fim de expulsarem os Peshemergats, o exército curdo encontrava-se a postos para defender a nossa zona. Exerci então o papel de mediador entre os responsáveis do EI e os do Peshemergats, mas sem qualquer resultado.

A batalha durou três dias, a maioria dos nossos cidadãos abandonou então a vila à exceção de uma centena de habitantes, do meu clero e de eu mesmo.

O EI não conseguiu tomar-nos e foi em um segundo ataque, no dia 6 de agosto, que o EI se apoderou de todas as nossas cidades e aldeias depois da nossa fuga e da retirada do exército. Assim, deixamos tudo e dirigimo-nos para o Curdistão para salvarmos as nossas vidas e salvaguardar a nossa fé e a nossa integridade.

PL: Foi nesta altura que enviou uma mensagem ao Papa Francisco e ao mundo. Qual foi a resposta? Se tivesse de lançar um outro apelo hoje, como o faria?

Dom Yohanna: Durante o meu encontro com o Santo Padre, na quarta-feira 30 de setembro, entreguei uma carta a sua Santidade para lhe agradecer as suas orações e todas as graças que nos deu e pedindo-lhe que exercesse a sua influência junto dos dirigentes mundiais para que libertassem, sem demora, as nossas cidades e aldeias e encontrassem um lugar provisório para nós em países como a França, Espanha e outros onde pudéssemos viver e manter a nossa liturgia e os nossos costumes.

A nossa emigração e a nossa situação parecem travadas no tempo, se fossemos acolhidos em grupo o nosso regresso seria mais fácil no caso de os nossos territórios serem efetivamente libertados e os nossos direitos assegurados.

No meu testemunho sobre o respeito da vida e da pessoa humana, em Jerusalém, por ocasião do Dia Mundial do Doente, repeti o meu apelo ao Papa Francisco e a todos os homens de boa vontade.

PL: O que nos pode dizer acerca da vida quotidiana dos cristãos que ainda vivem no Iraque? O que lhes pode dar ainda alguma esperança?

Dom Yohanna: Na verdade, a nossa situação é difícil, o futuro negro, as pessoas estão cansadas. Esperam uma solução para que possam ter de volta a sua dignidade e em que a sua vida, o seu futuro e o dos seus filhos seja protegido. É por esta razão que muitos já deixaram o país e que muitos outros pensam nisso.

Amamos o nosso país enquanto a vida lá for possível. Temos orgulho na nossa religião, e esperamos que as nossas cidades, as nossas aldeias sejam libertadas e que venhamos a ter uma zona protegida na qual possamos usufruir de todos os nossos direitos. Caso contrário, encontraremos um refúgio em um outro lugar, em outros países, mas isso seria uma perda para a nossa comunidade e para o nosso patrimônio herdados dos nossos ancestrais.

(PL/RB)








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