Dia de oração e jejum: a paz, único desejo na Síria e Iraque


Aleppo (RV) – Nesta Quarta-feira de Cinzas é realizado o Dia Mundial de Oração e Jejum pela paz na Síria e no Iraque, convocado pela fundação de direito pontifício Ajuda à Igreja que Sofre. Todos os cristãos do mundo são convidados a aderir à iniciativa intitulada “Carregarás a cruz deles por um dia?”.

O único desejo dos civis sírios e iraquianos é voltar a viver em paz. Após tantos anos de guerra, as populações consideram que agarrar-se à esperança tornou-se um gesto quase impossível. No entanto, foi reconquistada na terça-feira a cidade iraquiana de Ramadi, o que deu força ao Premier Al-Abadi, hoje em Roma, de poder afirmar que “até o final do ano, se deseja colocar fim à presença do Daesh no Iraque”. O mesmo tom não pode ser usado ao se tratar da Síria onde, há cinco anos do início da guerra, cada dia é testemunha de horrores. Algumas ONGs informaram que há cerca de dez dias, na ofensiva lançada contra os jihadistas em Aleppo, ao menos 500 civis foram mortos, entre eles muitas crianças. Com o sangue derramado, corre também o fluxo das milhares de pessoas que fogem dos bombardeios e que se comprimem na fronteira com a Turquia, ainda fechada. A este propósito, são dramáticas as palavras do Padre Firas Lufti, franciscano da Custódia da terra Santa e Vigário Paroquial da comunidade latina de Aleppo:

“Como o Papa Francisco reiterou em diversas ocasiões, a oração é a nossa verdadeira arma – por assim dizer – para enfrentar aquelas forças da negatividade, do mal, que hoje ameaçam a nossa presença e o nosso testemunho como cristãos. Portanto, qualquer iniciativa que um cristão queira tomar, antes deve ser preparada, antecipada por este recarregar de energia e da relação com o Senhor. Como costumamos dizer, nós que vivemos no Oriente Médio, e particularmente no Iraque e na Síria, diante do mal que nos atinge, diante do drama da guerra, nos apoiamos sobretudo na oração, na ajuda que vem do alto, na paz que é dom do Senhor, mas que é também uma obra humana”.

RV: Aleppo é a cidade mártir e o senhor está vivendo precisamente aí neste momento. O que está realmente acontecendo?

“Sim, infelizmente Aleppo é a cidade mais martirizada da Síria. E não é somente pela falta de água, de alimentos, que faz sofrer. Isto podemos até mesmo suportar, mesmo que não seja fácil. O problema de fundo é sobretudo a insegurança. Não existe nem mesmo um lugar onde possamos dizer: “Aqui estamos bem, porque estamos tranquilos, porque não existem bombas e não tem aquelas bombas de gás que as milícias do EI e outros grupos terroristas lançam sobre nós”. Aqui estamos sob bombardeio, dia e noite. É claro que existe esta hemorragia de inteiras famílias que pensam em deixar o país. Infelizmente, é uma ofensiva e uma contraofensiva, de uma parte a outra. Quando os “grandes” se colocam a brincar com armas, os inocentes, os “pequenos”, as crianças, as mulheres, são aqueles que mais sofrem com as consequências. E também o fluxo destes inocentes que atravessam a fronteira com a Síria  em busca de um abrigo, é um drama, é “o” drama... Estamos vivendo um calvário”.

RV: Como a população reage diante das polêmicas internacionais sobre os bombardeios russos que apoiam as forças leiais à Assad?

“Mesmo que eu não seja um político, levo aquilo que as pessoas querem agora, atualmente, e posso assegurar a você que a única coisa que querem é a paz. Independente se “com” ou “contra” Assad, se são simpáticos ou antipáticas, se são “pró” ou “contra”, não importa. O único desejo que uma pessoa normal, uma pessoa que sofreu e foi submetida a cinco anos de guerra, o único desejo que nutre no coração, é o de ter finalmente o dom da paz. É claro que a situação, do ponto de vista político, é muito complexa. O drama é muito entrelaçado, existem interesses, existem alianças de uma parte e também de outra. E se bem que, infelizmente a Síria tenha dividido o mundo em duas partes, não é isto que interessa ao cidadão sírio e à nossa presença cristã na Síria. Um cristão – por exemplo – tem medo que estes do Estado Islâmico ataquem e prevê que tenha que fugir de sua casa, ele, a mulher, os filhos, somente com as vestes do corpo. Se não consegue fugir, é submetido à decapitação, à morte e torturas. Eu asseguro a você que todo cidadão tem agora no coração um único desejo: o de  ver finalmente uma paz verdadeira, autêntica e também duradoura, que coloque fim a este sofrimento, a esta intolerância, a esta guerra. O problema é que existem muitos interesses no cenário sírio: geopolíticos, econômicos, portanto, não voltados ao homem, à pessoa e aos cidadãos que vivem na Síria. Assim, talvez isto dê sentido ao nosso jejum, à nossa oração de hoje. Devemos rezar por todos os responsáveis, pelos políticos, por aqueles que têm nas mãos as decisões da sorte do povo, sobretudo à nível internacional: que possa o Senhor tocar as suas mentes e os seus corações, e que possam, quando se sentam, desinteressar-se ao lucro e ao poder, mas olhar sobretudo o bem das pessoas, dos inocentes”. (JE)








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