Artigo: A hora do Messias


Juiz de Fora (RV*) - O evangelho do segundo domingo do Tempo Comum está situado na parte do quarto evangelho denominada “livro dos sinais”. O relato é, no dizer do narrador, o “princípio” dos sinais, o que nos leva a compreender que o sinal de Caná é um evento fundador. Trata-se de uma narração simbólica: ela torna presente algo diferente do que é imediatamente dito e que lhe serve de expressão. O símbolo é mais importante do que a materialidade dos fatos.  O tema geral é o cumprimento por Jesus da promessa do Antigo Testamento de abundância de vinho nos tempos messiânicos. Jesus e seus discípulos são convidados para uma festa de casamento. A mãe de Jesus também estava lá.

O diálogo entre Jesus e sua mãe é enigmático. Ele parece se recusar a intervir numa situação difícil, por não ter chegado ainda a sua “hora”. Porém, a iniciativa da mãe levou-o a socorrer, de maneira admirável, os noivos em apuros.

A “hora” de Jesus, no evangelho, corresponde à crucifixão, que é também sua glorificação. A condição de enviado do Pai transparece plenamente na morte ignominiosa, da qual sai vitorioso.

O milagre de Caná antecipou a “hora” de Jesus. A transformação da água em vinho tornou-se o início da manifestação de sua glória a ser consumada na cruz. O caminho da glorificação foi o caminho do bem feito à humanidade, como o que fez aos noivos. E Jesus trilhou esse caminho muito cedo e o plenificou na “hora” suprema, ao demonstrar, na morte CE cruz, ter amado a humanidade até o extremo.

A festa humana das bodas serve, na tradição bíblica de metáfora para a Aliança de Deus com o seu povo. O vinho é dom de Deus para alegria das pessoas e sinal de prosperidade. Em Caná, o vinho oferecido por Jesus é superior ao vinho servido primeiro. Graças à ação de Jesus, a Aliança atinge a perfeição. Por trás das palavras da mãe, está Israel, que confia na intervenção divina, espera e vê a promessa de salvação realizada. Cabe a cada um de nós a tarefa de distribuir este vinho da alegria e de oferecer esta vida, que é dom.

*Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG.








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