Juína (MT), onde o Estado 'não faz o dever de casa'


Cidade do Vaticano (RV) – O Programa Brasileiro dedica este espaço especial a uma região localizada entre o Amazonas e Rondônia, a diocese mato-grossense de Juína. Para apresentá-la temos o bispo Dom Neri José Tondello. Em uma área aonde a convivência entre pequenos agricultores, ribeirinhos, indígenas e fazendeiros é conflituosa, o bispo enaltece a atuação de seus 700 catequistas leigos.

Neste contexto, a obra de evangelização, para o bispo Dom Neri, deve partir do cotidiano do povo.

Realidade de Juína

“Costumo sempre escrever em minha cartinha pastoral que a Diocese de Juína é uma ‘diocese de periferia, porque fica a 735 km de Cuiabá, 1800 km de Brasília, 1200 km de Porto Velho e 1500 de Manaus. É uma região noroeste do estado do Mato Grosso, formada por 120 mil k2. Temos 11 paróquias, uma área missionária, 9 etnias indígenas, mais de 100 pequenas aldeias indígenas, e em nossa região, umas 315 comunidades, 18 padres, 22 irmãs que cuidam da evangelização, mas contamos sobretudo com a colaboração dos leigos: mais de 700 catequistas!

O trabalho de evangelização nos desafia, porque se concentra nos limites do estado do MT e que faz limite com os estados de Amazonas e Rondônia. Os conflitos maiores são na área da demarcação de terras, com novas áreas de reserva e parques nacionais. A questão envolve alguns fazendeiros, um bom número de agricultores de agricultura familiar, ribeirinhos, indígenas. Este é o conflito maior, na divisa. Nossa diocese tem 25 assentamentos: são pequenos agricultores, uma população de grande vulnerabilidade social.

Situação conflituosa

O sofrimento do povo é o nosso sofrimento. As alegrias do nosso povo também são nossas alegrias. Sentimos que nos últimos tempos estão se acirrando os ânimos. Por exemplo, na região de Guariba, Colniza, Três Fronteiras, a população está com muita raiva, com muito espírito de vingança, com muito ódio, uma vez que o governo, o Estado, não faz o seu ‘dever de casa’, que não reconhece a propriedade aos que estão trabalhando na terra e o que acontece é uma briga entre todos. Sem contar com os madeireiros, pois já que ‘é uma terra de todos’, se torna ‘ terra de ninguém’ e o corte ilegal das madeiras também é muito presente.

Ali, o IBAMA está presente, mas não toma medidas pedagógicas e democráticas. Eu insisto, e sempre peço orações para o povo, para que tenhamos a paz na região, que é fruto de justiça mas também de decisões corajosas, de boa vontade política, e de muito trabalho. Nossa região vive esta realidade, cheia de conflitos, e nós, como Igreja, sempre insistimos que é preciso emancipar a região de forma pacífica e democrática”.  

Ouça a reportagem, na íntegra, clicando abaixo.

(CM)








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