Padre Olmes: celebração do Natal em terras islâmicas


Dubai (RV) - Pelo fato de ser missionário nos Emirados Árabes Unidos, sou o alvo de muitas perguntas sobre como é viver aqui. Muitas delas são relacionadas com as religiões.

Tudo indica que são motivadas pelas notícias de violência contra os cristãos em diversas regiões do mundo.  As mais frequentes são: como é celebrar o Natal num país islâmico?  É difícil praticar o cristianismo num país onde um muçulmano é punido com pena de morte se for batizado? Você não tem medo que o matem?

Em primeiro lugar, quero deixar claro que não tenho medo, embora eu admita que as preocupações tenham fundamento.  Contudo, também tenho a experiência de que se os governantes querem, existe a possiblidade de proteger os direitos de seus cidadãos e também dos migrantes que professam outras religiões.

Desde a formação do país Emirados Árabes Unidos, seus fundadores perceberam que a flexibilidade religiosa e cultural para os trabalhadores estrangeiros seria o fator fundamental para que o país gozasse de desenvolvimento e econômico e social.  Por isso, generosamente destinaram terrenos sobres os quais os migrantes pudessem construir suas igrejas ou templos. Num dos emirados, o próprio governante construiu a igreja católica.

Ultimamente, também foi editada uma lei severa contra a discriminação, a xenofobia e grupos radicais que eventualmente possam perturbar a paz em que o país vive. A lei é bastante abrangente, punindo inclusive qualquer atitude ou palavra que ofenda qualquer uma das religiões.

Saint Mary´s em Dubai é a maior e a mais frequentada das oito igrejas nos Emirados Árabes Unidos. É também a maior paróquia de migrantes do mundo, servindo cristãos de muitos países. Oito a dez línguas são usadas para as funções litúrgicas semanalmente.

Os tempos fortes do calendário litúrgico são vividos intensamente pelos grupos de expatriados, cada um expressando a espiritualidade marcada pela cultura de seu país. Os dias que antecedem a celebração do Natal uma avalanche de pessoas procuram o Sacramento da Reconciliação. Durante dias normais dois ou três sacerdotes atendem os fieis das 6.00 às 21,00 horas ininterruptamente, mas durante os dias que antecedem a grande celebração são pelo menos cinco.

Impressionam as multidões que participam das novenas de Natal que são feitas em quatro missas em inglês com a participação que vai de duas mil a mais de três mil pessoas em cada.

Dentro das celebrações que antecedem o Natal, destaca-se o “Simbang Gabi” dos filipinos que celebram as missas com grande solenidade e alegria. Diferentemente de outros lugares, durante a novena, os sacerdotes usam vestimentas litúrgicas brancas e o hino do Glória é entoado. Calcula-se que durante os nove dias de 24 a 26 mil filipinos participam na novena na Igreja Saint Mary´s.

Como não podia deixar de ser o auge das celebrações é a Missa do Galo, celerada à meia noite de 24 de dezembro.  Todos os espaços existentes se transformam em local de culto. Pátios, igreja, campo de futebol, dois salões, os dois playgrounds da escola católica, estacionamento público e uma passarela de pedestres sobre a rodovia recebem uma multidão superior a 35 mil de fieis que participam em ordem e silêncio da missa por meio de 12 telões.  Outras 60 mil pessoas participam das 11 missas celebradas no Dia de Natal.

A experiência de flexibilidade religiosa e cultural adotada pelos governantes dos Emirados Árabes Unidos pode ser uma fonte de inspiração para os outros países islâmicos que poderão criar leis para proteger a liberdade de praticar outras religiões em seus territórios.

O respeito e tolerância entre as religiões é uma das condições para que a paz reine entre os povos.

Missionário Pe. Olmes Milani CS

Dubai, 25 de dezembro de 2015.








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